O elenco de Faroeste Caboclo (2013), com sua estreia prevista para o dia 29 de maio, se reuniu segunda-feira (20) em uma coletiva com a imprensa. Eles comentaram sobre a experiência de se produzir um filme baseado em uma das músicas mais queridas pelo público brasileiro.
Isis Valverde, protagonista e o nome mais conhecido pelo grande público, destacou a responsabilidade em fazer um filme que agradasse aos fans da Legião Urbana e à familia de Renato Russo. Também presente na coletiva, estava o filho de Renato, Giuliano Manfredini, que bem humorado comentou: “Fiquei impressionado, ele tem vida própria. Consegue ser autônomo e muito fiel. Faroeste Caboclo foi feito pelo meu pai para virar filme. Ele teria adorado e acompanhado todo o processo. Foi um orgulho ver esse projeto ser realizado”.
Comentando sobre a adaptação da música para o cinema, o diretor Rene Sampaio, em sua estreia como diretor, pontuou: “Buscamos um recorte da história. Nunca quisemos fazer um clipe da música. Buscamos o que era essencial dos personagens, respeitar o drama sem perder o espirito”.
Isis ainda comentou o papel de seu personagem na história “Eu não aceito personagens pelo tamanho deles na história. Eu aceito pela densidade do papel. A Maria Lúcia cresce na história. Ela é o contraponto feminino em um filme masculino e violento.”
Em seu primeiro papel como protagonista no cinema, na pele do anti-herói João de Santo Cristo, Fabrício Boliveira, fez paralelos da trama com a formação social brasileira. “O João é o mito da construção de Brasília, de São Paulo, dos nordestinos que foram para as grandes capitais não só para formar construções, mas também para construir culturalmente o Brasil.” E ainda acrescentou: “Foi ótimo poder dialogar com um artista como o Renato Russo, em uma obra que ainda traz questões tão atuais.”
Sobre o contexto político do filme, o diretor disse: “Não faria sentido fazer um filme sem levantar as questões politicas e sociais que estão impregnadas na música. Colocamos essa discussão sem ser panfletário. Há muitas coisas que são pertinentes e atuais apesar de o tempo ter passado.” Fabrício ainda acrescentou “O filme também lida com a questão da intolerlância, e vem num momento condizente com a realidade do Brasil, onde vemos o Marcos Feliciano pregando contra gays e negros. Como se encontrar e admirar a diferença no outro?”. Ainda filosofando sobre o filme, Fabrício questiona o destino dos personagens “João e Maria Lúcia poderiam ter outros destinos. O que cada um traz de escolha pessoal? Como vencer o destino ou caminhar lado a lado com ele?” Isis acrescenta: “Não é um filme maniqueísta. Maria Lúcia não é uma mocinha convencional”.
Questionado a respeito da classificação etária do filme, o diretor respondeu: “Eu tive a preocupação artística de não fazer um filme escatológico. Não quis super-espetacularizar a violência, e fazer com fosse mais importante que a própria história. Mesmo as cenas de sexo, foram tratadas com a delicadeza necessária. Esse filme não tem nada que não tenha nos joguinhos de playstation.” Fabricio completa: “As cenas de preconceito racial são muito mais fortes. Isso está calcado dentro de nossa realidade, o que as tornam muito mais violentas.”
Por fim o elenco comentou a participação do ator e diretor Marcos Paulo, falecido em 2012, e que se descobriu com câncer durante as gravações. Isis Valverde destacou o comprometimento do ator com o resto da equipe “Achei de uma garra e de uma vontade absurda ele não deixar a gente na mão. Conversamos muito sobre como Maria Lúcia seria e qual sua relação com o pai [papel que Marcos interpreta no longa]. Ele foi super sutil e delicado comigo, eu me surpreendi, uma pessoa com tanto tempo de estrada, estava ali disponível para auxiliar uma jovem atriz. Foi pontual a participação dele, mas super importante.” Rene completou: “O Marcos foi quem dirigiu Roque Santeiro, não preciso dizer mais nada. Ele foi muito bacana e nunca foi uma pessoa difícil de se lidar. Fez muita falta, me ressenti muito de não poder apresentar o filme pra ele”.
Por Isabelle Almeida
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