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Faroeste Caboclo: um retrato brasileiro

Uma lenda brasileira virou filme. Por que eu digo “lenda”? A música “Faroeste Caboclo” tem colorido a imaginação dos brasileiros há muitos anos. Além disso, ela conta uma história que vai além de João de Santo Cristo, abordando temas presentes até os dias de hoje. É uma história, mais que tudo, brasileira. Também não se …

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Uma lenda brasileira virou filme. Por que eu digo “lenda”? A música “Faroeste Caboclo” tem colorido a imaginação dos brasileiros há muitos anos. Além disso, ela conta uma história que vai além de João de Santo Cristo, abordando temas presentes até os dias de hoje. É uma história, mais que tudo, brasileira. Também não se pode negar que existem certos artistas que nós podemos não gostar do trabalho, mas somos obrigados a admitir e respeitar sua influência cultural. Renato Russo é um deles. Com dois filmes em cartaz, um sobre sua vida (confira a crítica de Somos tão jovens! ) e outro baseado em uma de suas músicas mais famosas, fica difícil contestar o alcance da obra desse artista brasileiro.

Não é uma tarefa fácil transformar uma música de cerca de nove minutos em um filme de cem. Por isso o diretor René Sampaio, junto de sua equipe, tomou a liberdade de fazer uma releitura dessa música, com as adaptações julgadas necessárias para o roteiro ter sentido. Como ele mesmo afirmou: “A gente nunca quis fazer um clipe de cem minutos da música. Um clipe de cem minutos é meio chato. Então achei que a gente devia amplificar o sentido, o significado dessa história”. Por isso, para assistir ao filme, a sugestão é não se prender somente à história narrada na música, mas também às ideias nela presentes.

Entre essas mudanças feitas, uma das mais importantes é que o João de Santo Cristo, interpretado por Fabrício Boliveira, apesar de continuar sendo um anti-herói, teve sua figura amenizada. O personagem que na música vira “bandido, destemido e temido no Distrito Federal”, é violento, rouba e estupra (“Violência e estupro do seu corpo/ Vocês vão ver, eu vou pegar vocês(…)”) não é o mesmo no filme. Ou seja, os atos reprováveis que João comete não são tão graves quanto os da música e sempre têm uma justificativa plausível por trás deles. Isso faz com que o espectador entenda e simpatize com o personagem.

Maria Lúcia, interpretada por Ísis Valverde, também é uma personagem que chama atenção. Na música, suas atitudes não são muito explicadas e seu psicológico não é muito desenvolvido. Já no filme, ela tem um papel de destaque, e suas atitudes são colocadas dentro de um contexto. Eu me refiro principalmente ao fato de ela trocar Santo Cristo por Jeremias, parte determinante para o enredo. Você que gosta da música e sempre se perguntou sobre essa atitude de Maria Lúcia, vai poder conferir uma explicação no filme. As origens dessa personagem também são especificadas. Ela é colocada como uma estudante rica, formando assim, junto com Santo Cristo, um casal um tanto incomum, que lembra histórias românticas, de amores impossíveis.

O ator Felipe Abib foi quem interpretou o traficante Jeremias, antagonista de Santo Cristo nessa trama. Da mesma forma que Maria Lúcia, Jeremias não é muito descrito na música, aparecendo de repente na história. No filme houve uma maior contextualização, e ele foi retratado como um traficante “filhinho de papai”, herdeiro de dinheiro e contatos.

A diferença social entre Maria Lúcia e João de Santo Cristo, como também outros aspectos do filme, dão margem para que as questões políticas e sociais do Brasil da época (e também de hoje em dia) sejam colocadas como plano de fundo de toda a história, assim como acontece na música. A repressão da Ditadura, as injustiças sociais e a corrupção são temas importantes explicitados no filme. Apesar disso, eles não foram abordados de maneira “panfletária” (expressão usada pelo próprio René), mas de forma sutil e contextualizada, contendo tanto cenas fortes que podem chocar o espectador, quanto cenas de uma violência que (infelizmente) presenciamos cotidianamente, por exemplo com o preconceito étnico.

Trilha Sonora

Num filme sobre “Faroeste Caboclo”, algumas pessoas podem esperar que a música fique tocando do início ao fim. Felizmente, Phillipe Seabra, líder da banda Plebe Rude e responsável pela trilha sonora, encontrou uma alternativa para isso. Isso porque se a música ficasse tocando exaustivamente, poderia cansar quem está assistindo. Algumas partes da melodia da música aparecem no filme, mas nunca ela em si. A opção de Seabra por colocar “Faroeste Caboclo” inteira apenas nos créditos do filme faz com que a música tenha um impacto maior no espectador. Além de arranjos de Faroeste Caboclo, tocam também músicas que retratam a realidade dos jovens, das festas e da cidade de Brasília da época. Músicas clássicas como Dancing With Myself, do Generation X (banda de Billy Idol) e Tédio Com Um T Bem Grande Pra Você, feita pelo próprio Renato Russo, estão presentes ao longo do filme.

Talvez o espectador possa pensar que não mudaria tanto a história ou até que a faria melhor. É normal nessas horas querer comparar o que você imaginava sobre a música com o filme. Até porque muitas pessoas, ao escutarem a música, criam (ou pelo menos esboçam) uma versão própria dela. O filme é uma tentativa de dar forma a todas essas teorias e curiosidades em torno da música, tendo como resultado um retrato não só do enredo da história, mas também da realidade da época e dos problemas sociais que até hoje o Brasil enfrenta.

Por Nina Turin
ninaturin48@gmail.com

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