Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
O nome Nelson Mandela (1918-2013) traz imediata associação com o apartheid, regime de segregação social que ocorreu na África do Sul. Pois bem, Nelson Mandela, de fato, foi um homem que lutou contra esse regime e pagou por isso sendo preso por 27 anos. Porém, ele não estava sozinho. O Estado Contra Mandela e os Outros (The State Against Nelson Mandela and the Others, 2018) conta a história daqueles que também foram elementos importantes no combate a essa política absurda, mas como sugere o título, não são reconhecidos.
O documentário traz o julgamento dos homens que formaram o grupo armado de oposição ao governo, o Umkhonto we Sizwe, que tinha Nelson Mandela como um de seus líderes. O grupo realizava ataques para resistir ao regime vigente, como explodir locais públicos. Até o dia em que, entregues por um “companheiro” de luta, foram presos, e mais tarde, levados a julgamento.
A ferramenta que unifica os personagens nesse longa é justamente o banco dos réus, pois ainda que lutassem por um mesmo ideal, eram de etnias e regiões diferentes do país africano. E isso é feito de maneira muito interessante: com animações. Além das entrevistas com os próprios homens do extinto Umkhonto we Sizwe, ― hoje idosos com 90 anos de idade ― fotos e vídeos da época, desenhos são usados para ilustrar o julgamento, que não possui imagens, foi gravado por áudio.
Em entrevista ao site AdoroCinema, o diretor Nicolas Champeaux esclarece que a ideia de utilizar desenhos foi fruto do material de pesquisa utilizado para a criação do filme: “Decidimos fazer as animações porque, no meio dos arquivos, haviam muitos desenhos feitos pela esposa de um dos acusados. Sua mulher realmente desenhou algumas imagens do julgamento e, quando as encontramos, pensamos em usá-las para dar autenticidade às animações” disse.
É emocionante ver os heróis da África se emocionando com os áudios do julgamento que um dia os condenaram à prisão perpétua ― eles acreditavam que seria à morte. Ver os familiares dos envolvidos, como a esposa de Nelson Mandela, Winnie Mandela, que veio a falecer logo após as filmagens do longa; o filho do juiz presente no caso, que se emociona ao mesmo tempo em que se indigna por ver que seu pai não lutou contra o apartheid, mas ao contrário, abraçou a causa do governo mesmo sendo judeu e tendo conhecimento dos horrores causados pelo nazismo.
Emocionante também são as cenas finais, nas quais os homens se encontram, se comovem, revivem a história que juntos fizeram. O Estado Contra Mandela e os Outros, dirigido por Nicolas Champeaux e Gilles Porte é inquietante, surpreendente.
Confira o trailer oficial:
por Crisley Santana
crisley.ss@usp.br