Audrey Hepburn é considerada uma das maiores atrizes de todos os tempos. Seu passado contêm o balé, a luta contra o nazismo e filmes de grandiosidade atemporal que a marcam na história como um ícone cinematográfico. Em janeiro, completaram-se 25 anos de sua morte: sua falta é sentida e sua memória lembrada por cada um que vê (e revê) seus sucessos. Abaixo é possível conferir quatro das produções mais marcantes na carreira da atriz.
A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953)
O filme conta a história de Ann (Audrey Hepburn): uma princesa de um país não especificado que está em visita oficial a Roma. Ela é completamente infeliz com sua rotina real, que não permite que tenha tempo para si mesma, e almeja se sentir uma pessoa comum. Em certa noite, secretamente deixa seu quarto na embaixada – decidida a fazer um passeio noturno disfarçada. Entretanto, por estar sob efeito de sedativos devido a uma crise nervosa ao fim do dia, acaba adormecendo em um banco de praça. Joe Bradley (Gregory Peck) é um jornalista que a encontra e, sem reconhecê-la, tenta a ajudar achar sua casa. Mas como Ann responde coisas sem sentido devido à medicação, ele acaba por deixá-la passar a noite em seu apartamento.
No dia seguinte, a embaixada percebe o desaparecimento da princesa e esconde a notícia do público, dizendo que ela teve uma indisposição e precisou cancelar seus compromissos do dia. Ao chegar atrasado em seu trabalho, Joe vê uma foto da princesa e percebe que é a garota desconhecida que está dormindo em seu apartamento. A partir de então, vê a chance de se aproveitar da oportunidade e diz ao seu chefe que voltará com uma entrevista exclusiva da princesa.
Ele volta para o apartamento e finge não saber quem ela é. Ann se apresenta como Anya, uma turista, e Jon se oferece para lhe apresentar Roma – buscando obter detalhes inéditos sobre a menina. A narrativa se desenrola a partir desse dia de princesa Ann como anônima e seu envolvimento com o jornalista.
O filme foi lançado no ano de 1953 e bastante elogiado, chegou-se até mesmo a ser cogitada uma sequência – nunca realizada – devido a sua popularidade. Foi a primeira produção norte-americana inteiramente gravada na Itália, o que acabou a encarecendo, e por isso o filme foi gravado em preto e branco (inicialmente, ele seria em cores).
Este foi o primeiro grande papel de Audrey Hepburn, chegando a aparecer nos créditos iniciais como “introducing Audrey Hepburn” (“introduzindo Audrey Hepburn”). A personagem princesa Ann foi inicialmente oferecida à Elizabeth Taylor e Jean Simmons, Audrey a ganhou apenas após o teste de cena, no qual sua espontaneidade foi extremamente cativante.
Foi um início de carreira grandioso: por este papel, Hepburn ganhou o Oscar de Melhor Atriz, o BAFTA e o Globo de Ouro daquele ano. Durante esse período, a atriz também passava por uma tumultuada vida pessoal: um ano antes tinha terminado seu noivado pouco antes do casamento – justamente devido à carreira – e, logo depois, conheceria seu futuro marido (Mel Ferrer), em uma festa de Gregory Peck, seu parceiro romântico no filme.
Sabrina (Sabrina, 1954)
A história gira em torno de Sabrina Fairchild (Audrey Hepburn), filha mais nova do motorista da rica família Larrabee. Linus (Humphrey Bogart) é o herdeiro mais velho dos Larrabee, caracterizado como um homem sério e workaholic. Já o caçula, David (William Holden), é o típico milionário mulherengo e irresponsável – por quem Sabrina é apaixonada há muitos anos, mas ele nunca a notou.
Sabrina muda-se por dois anos para Paris, a fim de estudar culinária, e volta para casa como uma mulher madura e sofisticada, o que acaba por chamar a atenção de David. A esta altura, entretanto, o caçula Larrabee está noivo de Elizabeth Tyson (Martha Hyer), e Linus começa a temer que o compromisso seja desfeito, comprometendo uma grande oportunidade lucrativa de fundir os negócios dos Larrabee com os dos Tyson.
Ao notar que David não parece ter a mínima preocupação em prejudicar a empresa da família com mais um caso amoroso, Linus decide distrair Sabrina aproximando-se afetivamente dela, e acaba por se envolver mais do que pretendia em seu próprio plano.
O filme foi lançado em 1954 e muito bem recebido, rendendo algumas indicações ao Oscar e sendo o segundo grande sucesso da carreira de Audrey.
Porém, o por trás da câmeras de Sabrina não aparentava ser tão positivo quanto os resultados da produção. Muito se relatou que Humphrey Bogart não mantinha uma boa relação com a equipe: constantemente se envolvia em discussões com o diretor (Billy Wilder) e o ator William Holden. Bogart era conhecido por seus papéis em filmes de ação e pareceu não ficar muito confortável encenando um romance, além de estar insatisfeito em não ser a primeira opção – o papel foi inicialmente oferecido ao ator Cary Grant. Também havia boatos de que ele queria que sua esposa, Lauren Bacall, fosse escalada como Sabrina – e chegou a criticar publicamente a atuação de Audrey.
Entre outras histórias dos bastidores está o curto romance que ocorreu entre Audrey e William Holden durante as filmagens. Mesmo assim, Hepburn casou-se com seu noivo, Mel Ferrer, um mês antes do lançamento de Sabrina.
O filme também marca o início da associação entre Audrey e a Givenchy: Hubert de Givenchy foi autor das roupas usadas pela atriz. A partir de então se tornaram amigos e ela passaria a utilizar modelos criados por ele em seus próximos filmes.
Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961)
O enredo conta a história de Holly Golightly (Audrey Hepburn), uma acompanhante de luxo que sonha em casar-se com um homem rico e se tornar uma estrela de Hollywood. Ela conta com auxílio financeiro de Sally Tomato (Alan Reed), um mafioso preso em Sing-Sing, e vive em um apartamento em Nova York com seu gato. Quando se sente mal, costuma dar um passeio até uma loja Tiffany’s para ficar observando as jóias que sonha comprar – como na marcante cena inicial, na qual Holly desce de um táxi de manhã e toma café em frente a vitrine.
Paul Varjak (George Peppard) é um escritor que está há anos sem publicações e torna-se vizinho de Holly. Entre eles nasce uma genuína amizade, que vai se tornando um sentimento cada vez mais intenso conforme um envolve-se na vida do outro – o que inclui seus problemas e planos de vida distintos.
A produção foi lançada no ano de 1961 e, sem dúvida, é o trabalho mais lembrado de Audrey Hepburn. Sua personagem, além de um ícone de estilo da época, possui facetas muito humanas e delicadas: uma garota de interior que persegue um sonho e constantemente encontra-se perdida, buscando conforto em momentos de significação subjetivos – no caso seus cafés da manhã em frente a Tiffany.
O papel de Holly Golightly foi inicialmente oferecido à Marilyn Monroe – que o recusou, após ser aconselhada de que interpretar uma acompanhante de luxo poderia ser ruim para sua imagem. Audrey foi então contratada para interpretá-la, algo que a própria descreveu como um desafio, pois não se achava parecida com a personagem.
O enredo é uma adaptação do livro homônimo de Truman Capote, e alguns elementos da obra original foram omitidos ou alterados a fim de tornar a produção mais palatável para um grande público tão conservador como o da época. É o caso da suposta bisexualidade de Holly e do fato de Paul ser homossexual.
O filme teve grande destaque nas premiações, sendo suas maiores vitórias devido à trilha sonora e à canção Moon River, interpretada por Audrey.
Charada (Charade, 1963)
Regina Lambert (Audrey Hepburn) é casada com homem extremamente rico e misterioso, seu casamento é repleto de segredos. Ela retorna a Paris após uma pequena viagem, decidida a divorciar-se, e descobre que seu marido foi assassinado enquanto tentava fugir do país.
A partir dessa situação, Regina descobre o perigoso passado de seu falecido esposo, que inclui o roubo de 250 mil dólares e perseguições pelos seus antigos colegas. Ela passa a ser ameaçada pelos homens que estavam atrás desse dinheiro, e precisa encontrá-lo antes de também ser morta. Para isso, ela conta com a ajuda de Peter Joshua (Cary Grant), homem que desperta seu interesse durante a viagem e acaba demonstrando várias facetas durante a caçada pela fortuna.
A produção mistura comédia e mistério de uma maneira fascinante e nada clichê: o desenvolvimento possui várias reviravoltas inesperadas, mantendo a história dinâmica e o desfecho incerto.
O filme foi lançado em 1963 e muito bem recebido pela crítica – rendendo mais um BAFTA de melhor atriz para Hepburn.
Uma marca da produção é a diferença de idade entre os protagonistas: Audrey tinha 33 anos e Cary, 59. Essa situação teria deixado o ator, de certa maneira, desconfortável – já tendo recusado dois papéis anteriores como par romântico de Hepburn devido aos quase 30 anos de diferença (A Princesa e o Plebeu e Sabrina). Por conta disso, essa característica chega a ser ressaltada até mesmo na fala dos personagens, como uma maneira de transparece-la de forma clara e não naturalizada.
por Samantha Prado
sampradogp@gmail.com