
O romance “açucarado”’ envolvendo uma garota de programa e um aspirante a escritor, se tornou um clássico com a atriz Audrey Hepburn em seu tubinho preto e piteira. Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s,1961) chama atenção por retratar temas pesados de forma descontraída e conservadora, assim como a personalidade da personagem principal, Holly Golightly.
Na trama, Holly é uma mulher desinibida. Sempre acompanhada de uma figura masculina, a personagem esconde seu passado sofrido em meio a looks exuberantes, drinks e festas. Holly teve uma infância muito pobre, acabou casando aos 14 anos com o primeiro homem que lhe ofereceu lar e comida. Fugiu de casa e conheceu um produtor que lhe propôs um trabalho como atriz. Após aprender como se portar e se livrar do sotaque caipira, Golightly se mudou para Nova Iorque e se tornou garota de programa.
Sua meta de vida era de se casar com um homem rico e poder gastar quantos dólares desejar em jóias da Tiffany’s. No entanto, após a aparição do “amor de sua vida”, seu novo vizinho Paul Varjak, a quem ela carinhosamente chama de Fred, se vê indecisa entre o amor e o dinheiro.

Apesar de abordar temas como casamento infantil e prostituição, o filme tem um clima leve. Seu total enfoque é sobre o romance entre os personagens de Holly e Paul. Tudo se passa em torno do casal e de como dar um final feliz a história. O trabalho da bonequinha de luxo é apenas uma sugestão. Para os desatentos ou aqueles que não leram o livro que dá origem ao filme, essa questão poderia até mesmo passar despercebida.
Outra diferença do livro é a opção sexual da personagem. Na obra, Holly é bissexual, informação totalmente ocultada no filme. A explicação é que essa característica da personagem não combinaria com a atriz, Audrey Hepburn.
No entanto, podemos justificar esse conservadorismo contextualizando o longa na década em que foi filmado. A obra é de 1961, uma época em que temas como casamento infantil, homossexualidade e prostituição eram assuntos polêmicos, assim como atualmente. Só havia duas formas desses temas serem retratados, ou com uma sexualização da mulher, que é o que aconteceria se Marilyn Monroe ficasse com o papel de Holly, como inicialmente planejado; ou com um certo conservadorismo, que foi a opção escolhida quando Audrey assumiu o papel.
Claramente, nenhuma das opções seria a ideal. Porém, retratar essas questões sem a sexualização é um importante passo para lutas que as mulheres enfrentam até mesmo nos dias de hoje. Bonequinha de Luxo foi um grande e importante avanço para a desmistificação desses temas e para o começo do debate sobre essas questões. É um clássico neutro, conservador, mas importante para o início de uma mudança nas telas e na vida real.
Este texto faz parte do especial de 10 anos do Cinéfilos. Para ver mais da antiga editoria Túnel do Tempo, clique aqui.
Por Gabrielle Torquato
gabrielletorquato17@usp.br