João Paulo Charleaux , Lais Modelli e Mariana Amaral se encontraram na mesa do 3º dia da Semana da Jornalismo Júnior para conversarem sobre o que seria esse tal de Jornalismo Independente. Como mediador, Guilherme Alpendre, secretário-executivo da Abraji, conduziu a mesa durante a noite de quarta-feira.
No inicio da discussão, Alpendre questiona os palestrantes sobre qual a real definição de Jornalismo Independente. Mariana, uma das fundadores da agência Pública, destaca que essa independência estava atrelada ao chamado “Jornalismo sem patrão” e que com o advento da internet essas publicações sem o intermédio de um terceiro – muitas vezes acusado de incitar a linha editorial do veículo – não parece existir na pseudo liberdade do mundo digital, no qual em teoria todos poderiam postar matérias livremente.
João Paulo, editor de Política e Economia do Nexo, considera tal liberdade restrita, pois a utilização do termo independente, requer uma sistematização a priori. “Independência não é um valor absoluto”, destaca. Segundo ele, essa pode ser separada em três grandes esferas: anuncio, clique e política. Precisa-se separar o jornalista do veículo.
A autonomia jornalística também pode ser conquistada no patamar de profissional jornalista. Lais Modelli conta que há anos não tem um patrão, trabalha vendendo suas pautas para veículos como Caros Amigos e BBC Brasil, e, além disso, faz parte do conselho editorial da revista feminista Az Mina. Esse impeto de ser independente acompanha Lais desde que saiu da universidade, mesmo enquanto trabalhava em veículos tradicionais. Cada matéria escrita é acompanhada da reflexão – “Como a minha assinatura pode ser independente?”- questiona Lais.
Provocados pelo mediador, os palestrantes conversaram sobre as vias de financiamento e sustento dos veículos de comunicação presentes na mesa. Representando a Pública, Marina reitera que a ideia inicial de criar uma agência que publicasse conteúdo gratuitamente parecia ilusório financeiramente. No entanto, hoje a Pública sustenta-se, principalmente, por meio de doações, 40% da Fundação Ford, além de crowdfunding e parcerias. “Não há qualquer tipo de influência dos nossos financiadores na reportagem, primeiro decidimos qual será o projeto e depois buscamos fontes de apoio”, destaca Marina.
O Nexo, depois de 8 meses do lançamento, adotou o sistema de financiamento: assinaturas mensais por um custo de 12 reais, pagos via pay-pal. “Temos o compromisso de escrever um conteúdo que compense a assinatura”, afirma João Paulo. Lais conta que dentro das Az Mina, ela é a responsável por buscar formas de captação de recursos para a revista. Sua primeira experiência com modelos de negócio foi dentro da empresa júnior da Unesp de Bauru (onde é formada). “Lá buscamos como forma de sustento, vender ações comercias a preço de banana”, explica Lais. Hoje dentro da revista as principais vias de financiamento são via crowdfunding; trabalhando conforme a demanda de editais e também o famoso “tomar cafézinhos” com possíveis parceiros.
Questionados sobre a divulgação das matérias no mundo digital. João Paulo alerta: “há veículos tornando-se dependentes do Facebook como via de acesso ao conteúdo”, alerta João Paulo. Assim, o Jornalismo começa a ser avaliado pelo sucesso de cliques, visualizações, compartilhamentos que uma matéria teve e não com o incomodo que ela provocou. O Nexo, busca criar novas vias de acesso para que o leitor chegue até o veículo, uma das opção, destaca Charleaux, é a curadoria de uma newsletter diária. Já Marina não enfrenta a mesma dificuldade, pois a Pública como agência depende da replicação das matérias por veículos de comunicação.
Para fechar a conversa, os palestrantes discutiram sobre a dicotomia entre jornalismo e ativismo. “Antes de jornalistas, somos mulheres feministas”, Lais reitera seu posicionamento. Mas ao mesmo tempo compartilha da opinião da mesa que militância não é jornalismo. Cita um exemplo pessoal, no qual ao escrever um perfil sobre o Foucault, por -”pura ignorância”- conta que confundiu homossexualismo com homossexualidade. Só percebeu tal equívoco quando um leitor entrou em contato com ela, decepcionado com a reportagem. Tanto Lais como João apontaram como problemática: terem um grupo de leitores identificando-os como defensores de determinada causa.
Por ter trabalhado na Cruz Vermelha, Charleuax é visto como ativista dos direitos humanos, papel do qual nega com veemência. Seu trabalho da entidade possui mero dever burocrático comunicacional. A militância para João pode estar na própria leitura, “como nos comportamos como leitores” dentro desse contexto de redefinição de fronteiras na internet entre ter opinião e ser militante.
Ao serem indagados nesse cenário de busca por autonomia, sobre o papel do Jornalismo Alternativo. Os palestrante problematizaram a concepção de alternativo como apenas um veículo fora da mídia tradicional. Relembraram, como foi dito no início da mesa, que a independência no Jornalismo não se restringe a veículos. É a existência de uma pluralidade informacional que permite dialogar com a cobertura ruim, criticar. “Não podemos trocar monopólio da informação por um outro oligopólio”. Todas as formas devem coexistir.
Após aplausos e perguntas da plateia, a apresentadora Camilla de Freitas da Jornalismo Júnior pediu para o João Paulo escolher o papel com o número sorteado. A vencedora subiu ao palco para receber o prêmio: curso online de Jornalismo de Dados da Abraji. Mas a Semana da Jornalismo Júnior no auditório da Casa de Cultura Japonesa ainda não acabou. Quinta-feira a mesa abordará a temática sobre Minorias em Pauta e sexta sobre a Linguagem do Jornalismo.
Vamos continuar juntos reinventando o Jornalismo!
Por Giovanna Querido
gioquerido@gmail.com