O palco de estrutura minimalista poderia ser um indício: o show da Ana Cañas, no último dia 20, não precisava de muito mais do que apenas ela e sua voz. Logo de entrada, com “Tô na Vida”, a cantora já iniciava com boa energia e letras de tonalidade diversa ao longo do show: impressões emocionais sobre a vida como pessoa e como mulher, reafirmações fixas e diretas, posicionamentos fortes e sentimentos profundos. Mesmo com pouco diálogo ao longo do encontro, Ana conseguiu transmitir sua personalidade durante o desenrolar das músicas. Despretensiosa e leve, parecia confortável o suficiente no palco para não se preocupar com uma postura perfeita e muito planejada, o que deu uma marca de maior proximidade ao evento.
A apresentação passou por vários momentos, uns mais agitados e frenéticos e outros mais intimistas e melancólicos, mas todos marcados pela característica mais forte da cantora: sua voz. Independente do gênero que explora, essa ressalta e potencializa as canções que interpreta.
Houve vários momentos altos, mas os que mais se destacaram foram aqueles em que a cantora trouxe suas canções mais afirmativas, como Mulher e uma das últimas, Respeita, por exemplo. As duas abordam a situação da mulher na sociedade, sua reafirmação e foram responsáveis por uma grande participação do público. Um dos maiores sucessos da cantora, Pra Você Guardei o Amor, parceria com Nando Reis, também exaltou a plateia, o que agradeceu: “Obrigada por cantarem junto”.
Outro destaque foram os diversos covers que a artista realizou, cada um com sua peculiaridade, como o primeiro, Rock and Roll, do Led Zeppelin, em que tocou o violão e honrou o título da música, mostrando sua personalidade descontraída: “errei o violão a música toda, mas tá tudo bem, no rock and roll pode”. Dentre esses, também esteve Velha Roupa Colorida, de Belchior, que exaltou os presentes e foi o momento mais político da noite: ao final da música, a plateia entoou em conjunto “Fora Temer” favorecido pela iniciativa da cantora.
Talvez o ponto mais alto pode ser dado ao bis, quando Cañas cantou Retrato em Branco e Preto, composta por Chico Buarque e interpretada por Tom Jobim. Composição dramática, foi um dos momentos mais carregados do show, quando todos se aproximaram mais do palco, e Ana demonstrou com excepcionalidade uma profundidade emocional que foi complementada pela sua voz densa, que encaixou-se perfeitamente à música.
Seja pela sua diversidade de gêneros e músicas com várias tonalidades, ou pela sua voz ampla e imponente, Ana Cañas com certeza não passa despercebida, e o encontro da última sexta não poderia ser exceção.
Por Daniel Medina
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