Vencedora do Prêmio do Público no Festival de Gijón e do Grande Prêmio do Monstra no Festival de Cinema de Animação de Lisboa, A Fantástica Viagem de Marona (L’Extraordinaire Voyage de Marona, 2019) é uma animação francesa dirigida por Anca Damian e produzida pelas empresas Sacrebleu Productions, Aparte Films e Minds Meet. O filme é narrado pela perspectiva de Marona, uma cachorrinha que, após ser atropelada, faz um flashback da sua vida antes de morrer, lembrando de todos os tutores que já teve e de sua história com eles.
Logo no primeiro momento, o pensamento que vem em nossa cabeça é “Eu vou chorar!”. Esse é um conceito comum quando assistimos filmes sobre animais, certo? Em A Fantástica Viagem de Marona não poderia ser diferente. O filme é por inteiro comovente.
A começar pela própria história, a trama nos envolve em um panorama diferente das películas do mesmo tema e das quais já estamos acostumados. Tirando o ser humano do primeiro plano, focamos agora na jornada do animal, conhecemos sua história e entendemos seus sentimentos. Isso faz com que passemos a enxergar um outro lado que, muitas vezes, não damos tanta importância. Nesse viés, assuntos delicados como abandono, maus-tratos e negligência são trazidos à tona por uma outra visão, agora, mais triste.
Em A Fantástica Viagem de Marona, é quase impossível não sentir empatia pela Marona. Ela, que também já foi Nove, Ana e Sara. Cada um dos seus nomes revela uma “vida” diferente, com diversos donos, casas e rotinas. Compreendemos o seu amor incondicional pelos seus tutores, o seu receio com pessoas má intencionadas e o seu medo de que situações ruins se repitam. É como se todas as suas conquistas fossem comemoradas por nós, e suas angústias são também sentidas.
Além disso, as cenas não seguem uma linearidade estrita. Nem tudo é o que é ou o que se propõe a ser, de forma estática em uma concepção. Na verdade, A Fantástica Viagem de Marona é um apanhado de sensações, percepções, desejos, sonhos e imaginações. Muito disso, além da própria narrativa, é devido à trilha sonora e à fotografia, que juntas, nos embalam em uma experiência extraordinariamente sensorial e emocionante.
A trilha sonora, composta por Pablo Pico, é existente em quase todo o tempo do longa A Fantástica Viagem de Marona. Ela carrega o drama da animação e nos guia a sentir o que temos que sentir em determinados momentos, de modo ainda mais forte. A fotografia, por sua vez, rompe com quaisquer padrões estéticos estabelecidos.
Formas geométricas, como círculos, se juntam com as cores – que são fortes e muito presentes – e se combinam, para configurar outros objetos completos. Nesse sentido, alguns dos elementos do filme A Fantástica Viagem de Marona não são previamente construídos, mas vão se estruturando a partir de outros elementos fluidos. Quase todos os itens visuais possuem movimento, o que dá a noção de vida a pessoas e a objetos, até então, inanimados. Ainda, cada um deles detém uma estética única e específica.
São nesses pontos que percebemos a personalidade e a originalidade da diretora de A Fantástica Viagem de Marona. A estética rica, em harmonia com a melodia, faz o nosso coração acelerar em um misto de emoções.
Em síntese, A Fantástica Viagem de Marona nos possibilita refletir sobre nossas ações para com os animais, que, nem sempre, são feitas pensando no bem-estar deles, mas sim no nosso. É um filme maravilhoso e com potencial para atingir em cheio qualquer “mãe/pai de pet”. Então, já prepare os lencinhos antes de começar a assistir!
O longa está disponível para aluguel no Belas Artes À La Carte. Confira o trailer:
*Imagem da Capa: Divulgação/Sacrebleu Productions, Aparte Films e Minds Meet
Muito emocionante a história de Marona e brilhante a interpretação de Ana Paula !!!