No último domingo (04), no terceiro dia do Rock In Rio 2022, o Palco Mundo recebeu, pela primeira vez, uma cantora preta brasileira no palco que reúne as principais atrações do festival. Entre artistas estrangeiros que eram aguardados pelo público, como Justin Bieber e Demi Lovato, Iza juntou a representatividade, a dança e o repertório musical em uma apresentação que contava com seus grandes sucessos formando um dos melhores shows do primeiro fim de semana do festival.

A apresentação foi iniciada com uma homenagem à ida da cantora ao Rock In Rio antes da fama: imagens de Iza como plateia estavam ao fundo, no telão, enquanto a cantora surgiu no meio do público e subiu ao palco ao som de Pesadão.  Infelizmente, em sua entrada, é notada uma certa falha técnica que interfere em seus vocais, mas o contratempo não diminuiu a emoção e tão pouco trouxe grandes prejuízos para o ato inicial.

O primeiro hit foi seguido por outros quatro: Gueto, Ginga, Meu Talismã e Sem Filtro. O quinteto musical que Iza escolheu para começar a noite foi certeira para animar o público, mas pode não ter sido a melhor opção considerando a totalidade do show. Sua setlist foi atualizada para o Rock In Rio 2022, adicionando ao repertório as faixas que compõem seu novo EP, TRÊS, lançado no dia 2 de setembro. Devido ao pequeno intervalo entre a publicação dele e o evento, o engajamento do público diminuiu consideravelmente nessa parte da apresentação, o que poderia ter sido evitado por uma melhor distribuição de suas músicas mais populares.

As composições do EP não foram a única novidade, já que a artista fez um medley com cinco de seus sucessos, entre os quais vale citar Evapora, parceria com Ciara e Major Lazer, e Toda Sua. Outra surpresa foi uma junção entre Ginga e um trecho do sucesso de Gilberto Gil, Andar com Fé, que é tocado durante uma parte instrumental. Ao final do show, foi performado um cover de No Woman No Cry, parceria de Bob Marley e The Wailers, juntamente com sua versão em português, Não Chore Mais, feita por Gilberto Gil.

O cover conta, ainda, com a participação de Isabel Cristina, mãe de Iza, que toca o piano e, após a canção, coroa a filha no palco. Além da presença materna, o show trouxe grandes vozes femininas negras em vídeo, entre elas Taís Araújo e Zezé Motta, no qual declamam um texto sobre força. Todos esses elementos se juntam para trazer o empoderamento das mulheres pretas ao palco que, além de ser de importância social, foi algo constante durante a trajetória da cantora, atingindo seu ápice com a celebração de Iza por ser a primeira mulher preta brasileira a se apresentar no Palco Mundo. A escolha da música Dona de Mim para dar continuidade ao show foi mais um de seus acertos, pois sua letra reforça a ideia de persistência e poder das mulheres. 

A headliner não trouxe, no entanto, somente a representatividade feminina ao palco. Toda sua apresentação foi marcada pela presença da cultura negra, seja no seu time, ou nos elementos musicais que abordavam um pouco do jazz. A própria setlist evidencia essa característica, dado que as faixas trazidas por Iza que são externas ao seu repertório são todas cantadas por cantores pretos, como Gilberto Gil e Bob Marley. 

Os aspectos técnicos também devem ser considerados pela sua grandiosidade: a estrutura montada no palco simulava um templo, com os arcos arredondados e de mármore. No telão, as imagens mudavam constantemente de acordo com a música, exibindo sua letra, símbolos de resistência negra e fotografias, tanto da própria Iza, quanto de artistas pretos. 

Além disso, os figurinos também se destacaram, desde o momento em que subiram no palco: tanto Iza, quanto os dançarinos, estavam vestidos em um  tom forte de azul.  Durante o show, a cantora trouxe quatro roupas diferentes, começando com um vestido branco repleto de cristais. Os outros looks uniram cor e estilos diferentes, mantendo o brilho como padrão com o intuito de destacar a headliner.  

O show da Iza no Rock In Rio 2022 foi marcante não só pelo  repertório ou pelos aspectos técnicos, mas também pela capacidade da cantora de juntar esses elementos montando um conceito marcado pela representatividade, e deixando sua marca durante toda a apresentação. A grandeza do momento foi assegurada também pela interação com o público, que, segundo ela, formavam “um mar de talismãs”, no momento em que a música foi tocada e ela pediu que todos acendessem seus celulares.