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Netflix | ‘Blonde’: uma não-biografia da loira mais famosa de Hollywood

Marilyn Monroe deixa de ser uma atriz e filantrópica para se tornar uma vítima da misoginia e sexualização da Indústria cinematográfica

Quem nunca viu uma jovem de 26 anos descendo as escadas em um vestido rosa com colares de diamante nas mãos? Ou mesmo uma loira de batom vermelho com um vestido branco em cima de uma saída de metrô? Para quem ainda não percebeu, estamos falando sobre Marilyn Monroe, considerada uma das maiores atrizes e sex symbol de Hollywood,  que teve um recente e polêmico filme feito baseado em sua vida: Blonde (2022). Melhor dizendo, uma pornografia que teve o desprazer de desonrar a sua imagem mesmo 60 anos após sua morte.

Antes de explicar as polêmicas do filme em si, vale a pena explicar as polêmicas de seu livro base de mesmo nome, lançado em 2000 pela autora Joyce Carol Oates. Mas ele não é qualquer livro de biografia sobre a loira mais famosa de Hollywood. Pelo contrário, ele é um livro de ficção que, assim como o filme, dramatizam e imaginam situações da vida da atriz, passando por sua infância conturbada com um pai ausente e uma mãe mentalmente instável até seus relacionamentos na vida adulta marcados por violências sexuais e físicas. O curioso é que em nenhum momento o filme indica que se trata de uma obra de ficção, levando a crer que tudo apresentado no filme ocorreu com a jovem Norma Jeane (nome real de Marilyn), o que não é verdade, como mostram inúmeros vídeos desmentindo cenas do filme.

A redução de Norma Jeane (Ana de Armas) em uma pessoa desequilibrada emocionalmente e uma vítima do sistema é um dos maiores problemas de Blonde. [Imagem: Divulgação/Netflix]

 Mas a polêmica do filme da Netflix não ocorre pelo fato de ser uma obra de ficção que reimagina fatos reais, porque se isso fosse um problema, Tarantino não teria nem carreira como diretor de cinema. O problema de Blonde ocorre no recorte que Andrew Dominik (O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford e O Homem da Máfia) faz do livro, como aponta o youtuber e crítico de cinema Dalenogare: a transformação da Marilyn em uma jovem que tinha problemas paternos e que queria fazer sexo. Então, ao decorrerde longas 3 horas, acompanhamos a vida de uma atriz que sofreu todos e qualquer tipo de abuso, indo desde estupro até aborto, e que só queria uma figura paterna presente em sua vida. Mas, ao longo de 3 horas, não vemos sequer um momento de alegria na vida de Norma Jeane, reduzindo Marilyn Monroe a uma eterna vítima.

E aqui está o maior problema de todos em Blonde: a redução da figura da Marilyn Monroe em uma vítima da indústria cinematográfica e uma jovem com daddy issues. Mas por que isso é tão problemático? Primeiro porque isso desconfigura a imagem da Marilyn como uma mulher/atriz inteligente, filantrópica e empresária que queria transformar e destruir a figura de “loira burra e boba” presente nos seus filmes —  figura essaque é a forma que o diretor escolheu retratar ela. Segundo porque o filme não deixa tempo de tela para desenvolver outras questões tão importantes da vida e do próprio enredo de ‘loira’, como toda a questão envolvendo ela e o presidente JFK (Caspar Philipson), nunca mencionando como ambos se conheceram, como os rumores surgiram ou ainda como um parabéns para você mudou a América.

Ana de Armas consegue brilhar ao fazer trejeitos e reencenar momentos famosos de Marilyn Monroe. [Imagem: Divulgação/Netflix]

E mesmo que o filme quisesse abordar a indústria cinematográfica e como ela transforma jovens meninas em vítimas por causa do machismo, violência sexual (vulgo teste do sofá) e toda a presão da mídia, ele continuaria sendo problemático. Isso porque o diretor do filme acredita que a melhor forma de denunciar a sexualização extrema e condenar a indústria de Hollywood é fazendo uma sexualização extrema e reproduzindo atitudes que o filme tenta condenar. Dessa forma, o público não vê apenas traumas e tragédias da vida de Marilyn ao longo de 3 horas, mas ele acompanha um filme de cenas de sexo explícitas de 3 horas da Marilyn Monroe. Essa construção dá a impressão que o diretor parece estar mais impressionando em mostrar o corpo da atriz e uma cena de sexo brutal e humilhante a cada 5 minutos do que se preocupar como essas situações teriam afetado a própria Marilyn e a própria atriz que a interpreta.

E, por falar na atriz que interpreta a Marilyn Monroe, chegamos em um dos únicos pontos que merecem destaque no filme inteiro: a atuação de Ana de Armas, conhecida por 007-sem tempo para morrer (No Time to Die, 2021) e  Entre facas e segredos (Knives Out, 2019). Apesar de todas as sexualizações feitas pelo diretor, que queria tirar o máximo de seu corpo — literalmente —, a atriz conseguiu cumprir a difícil tarefa de ser a Marilyn Monroe, mas não só na aparência. Ela foi capaz de recriar trejeitos e até um certo falar da clássica atriz, sempre mostrando como ela era inteligente e bondosa e muito mais do que apenas um rostinho bonito e bobo. Então, não fiquem surpresos se o nome da atriz começar a aparecer para a temporada de premiações.

De qualquer forma, mesmo uma das melhores atuações de 2022 não seria capaz de salvar a bomba chamada Blonde, que preferiu se concentrar em sexualizar a figura da Ana de Armas e reduzir  Marilyn a uma completa vítima. Talvez uma direção feminina teria melhorado o filme? Talvez uma minissérie fosse melhor para adaptar o livro e conseguir cobrir toda a vida da atriz? Ou talvez seja a hora de finalmente deixarmos a alma da loira em paz e pararmos de sexualizar e humilhar uma atriz que já foi tão sexualizada e desprezada em vida?

O filme estreou no dia 28 de Setembro e está disponível para todos aqueles que quiserem ver na Netflix. Confira o trailer:

Imagem de Capa: Divulgação/Netflix

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