Por Andrey Furmankiewicz (andreyffurman@usp.br)
Baseado nos livros do lendário britânico J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis é uma das trilogias mais aclamadas do mundo das fantasias e amadas pelo núcleo geek. O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim (The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim, 2024) é o mais novo lançamento dessa série de longas, que conquista uma legião de fãs ao redor do mundo com as adaptações para o cinema desde 2001. A animação, feita no estilo de anime japonês, foi dirigida por Kenji Kamiyama, conhecido por trabalhos como Blade Runner: Black Lotus (2021-2022) e Ghost in the Shell: Stand Alone Complex (2002-2005), e teve produção executiva de Philippa Boyens, que co-roteirizou as trilogias O Senhor dos Anéis e O Hobbit.
A produção tem o objetivo de expandir o universo da Terra-Média e as diversas aventuras que aconteceram no lore desse mundo incrível criado por Tolkien, mas que ainda não foram adaptadas para a cinematografia. A importância dessa parceria entre a Warner Bros. Animation e a New Line Cinema é manter vivo o legado da franquia produzida nas telas, que não tinha um longa desde O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies, 2014)
Ambientada 183 anos antes do início da história de Frodo e da Sociedade do Anel, A Guerra dos Rohirrim, narrada por Éowyn (Miranda Otto), a mesma de Senhor dos Anéis: As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers, 2002) e o Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, 2003), conta a história do reinado de Helm Mão-de-Martelo (Brian Cox), lendário rei de Rohan (um dos reinos dos homens na Terra Média, grandes aliados de Gondor e conhecidos como senhores dos cavalos), e de sua família, principalmente de Héra (Gaia Wise), filha do monarca.
A trama desenvolve-se ao redor do conflito entre Helm e Wulf (Luke Pasqualino), lorde Dunlendino do povo terra-pardense, amigo de infância de Héra. Wulf busca vingança pela morte de seu pai, Freca (Shaun Dooley), que foi morto pelas mãos do Mão-de-Martelo após oferecer a mão de seu filho em casamento para Héra, em uma tentativa de aumentar seu poder. Diversas localidades clássicas da franquia são visitadas nessa história, incluindo Edoras, Isengard e o Abismo de Helm (conhecido antes como Forte da Trombeta).
Ao expandir e permanecer fiel ao universo cinematográfico de Peter Jackson, a animação conecta emocionalmente os fãs à obra com elementos visuais e sonoros icônicos, como trilha sonora e os designs das armas, das armaduras, dos cenários e das criaturas. A estética visual do filme é muito bem feita, remetendo a animes, em uma mistura de 2D com 3D; as cenas de ação também são muito empolgantes, apesar de alguns problemas de movimento, que fazem os personagens mais artificiais. Outro ponto interessante é a imprevisibilidade das batalhas, que causa um incômodo no espectador, que não sabe qual personagem pode ser o próximo a morrer.
O longa também explora mensagens interessantes e importantes, como o protagonismo feminino de Héra, que inspira o povo Rohirrim nas batalhas e nas situações delicadas, e mostra como a busca orgulhosa por vingança pode cegar alguns personagens, por exemplo.
Apesar disso, a animação deixa a desejar em alguns pontos. Para começar, o roteiro que, apesar de expandir um pouco o universo da Terra-Média, parece se acomodar nos moldes dos filmes dessa saga e não traz tantas inovações ou uma história tão épica quanto seus antecessores. Dessa forma, A Guerra dos Rohirrim se contenta em fazer o básico, sendo uma trama sem muita complexidade ou novidades que parece visar apenas expandir e não adicionar muito às obras de Peter Jackson.
Outro fator decepcionante é a falta de profundidade de certos personagens, principalmente o antagonista, Wulf, que tomam decisões minimamente questionáveis ao longo da história ou apresentam motivações superficiais para alcançarem seus objetivos. Isso faz questionar se a trama realmente queria ter esse caráter mais simplista ou se foi apenas produto de um roteiro mediano e feito às pressas, para que a New Line Cinema não perdesse os direitos das adaptações das obras de Tolkien.
Mesmo com esses aspectos negativos, a trama flui de uma maneira envolvente, seduzindo o espectador pelo ambiente e cenários e por alguns personagens do filme. O arco inicial faz um bom trabalho em introduzir a história, assim como o final que fecha de um jeito bem épico a história de Héra.
Apesar de sofrer com a falta de desenvolvimento do roteiro e de personagens pouco complexos e motivados, o longa deixa uma boa impressão. A narrativa fica bem amarrada, com um bom ritmo e com diversas referências ao mundo criado por Tolkien, e adaptado por Jackson, nos fazendo sentir de volta à Terra-Média.
O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer: