por Mirela Costa (mirelacosta@usp.br) e Renan Affonso (rsilvaaffonso@usp.br)
Uma simpática e convidativa fachada verde e uma pequena porta azul chamam a atenção de quem caminha próximo à estação de metrô da República, em São Paulo. Em alguns domingos, não é necessário estar muito perto do local para notá-lo: os grupos de samba e chorinho que tocam na calçada em frente preenchem a Praça da República com música, alegria e ocupação de um espaço pertencente a todos os cidadãos que passam por ali.
É em clima de receptividade que o público é convidado para entrar e conhecer a cafeteria, mercearia e bar à Mercê. Além da combinação de queijos, cafés, brunches e vinhos, a proposta do local é firmada na ideia de integração à diversidade cultural do centro de São Paulo. É o que conta Marco Aurélio, um dos proprietários do estabelecimento, em entrevista ao Sala 33.
A história
A vivência e a questão da moradia no centro de São Paulo sempre foram duas das maiores paixões de Marco, que é doutor em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e há alguns anos mora na região que hoje sedia seu empreendimento. “As pessoas acham que o centro está abandonado e muito violento. São preconceitos causados pelo que é divulgado na mídia “, diz Marco.
“Há uma falsa ideia de revitalização desse espaço, se você olhar pelas ruas tem vida, sim, talvez só não a que muitos querem ver”
Marco Aurélio
A paixão do idealizador pelo centro, somada ao seu amor por produtos artesanais brasileiros, deu origem ao à Mercê. “A ideia foi juntar essas duas coisas: um espaço bacana no centro da cidade e boa comida brasileira com uma seleção muito bem pensada. Assim surgiu à Mercê”. Marco conta que, no doutorado, estudou a regulação de produtos de origem animal no Brasil, em especial o queijo, um dos carros-chefe do local. Os queijos da mercearia vêm, sobretudo, de pequenos produtores de Minas Gerais, de São Paulo e da região Sul do país.
Vinda do francês, a expressão à mercê significa estar dependente ou sujeito a algo. Assim, o descontraído nome do lugar foi pensado a partir de três fatores que consolidam em si o conceito do estabelecimento. Em primeiro, “mercê” pode ser entendido como o diminutivo de mercearia. Marco conta que o sentido também pode ser uma ironização da ideia de que o centro de São Paulo está à mercê do abandono e da violência. Por último, a ideia vem da antiga dinâmica artesanal do trabalho, segundo a qual o produtor se coloca à disposição do consumidor do seu produto.
Um lugar aconchegante com comida de qualidade
As três propostas do local — cafeteria, bar de vinhos e mercearia — se dividem em diferentes ambientes. Logo ao entrar, o visitante se depara com o espaço térreo da mercearia e da cafeteria, onde os atrativos são o menu principal e uma seleção de produtos expostos, como os queijos artesanais, cafés especiais e doces.
A ideia da cafeteria veio como consequência da mercearia. “Pensamos que a mercearia, por si só, seria muito arredia para o público, então adicionamos o café como uma forma de fazer as pessoas entrarem, tomarem uma xícara e conhecerem a nossa casa”, afirma Marco. À Mercê também inclui espaço para aqueles que vão com o objetivo de se reunir, conversar e ficar por horas no local. O andar de cima apresenta uma pegada caseira e agradável, que, além de comportar mesas para as refeições, funciona como ambiente de coworking e de realização de pequenos eventos.
O cardápio principal conta com pães, lanches, doces e tábuas de queijos e frios. Uma das pedidas indispensáveis é o Pão de Queijo feito com queijo da canastra (R$9,00) provado pela Jornalismo Júnior, com crosta crocante e recheio saboroso e macio. Um ótimo acompanhamento para a iguaria mineira é o café Coado na hora V60 (R$13,00) ou o Macchiato (R$9,00).
Outros itens disponíveis no cardápio são as Tostadas (R$20,00), o Misto d’à Mercê (R$33,00) e, para sobremesa, o Bolo gelado belga (R$18,00). As tábuas de queijos e embutidos variam entre R$110,00 e R$160,00. Além do menu oficial, são oferecidos brunches aos sábados e aos domingos, das 10h às 15h. Os preços do à Mercê são inacessíveis ao consumidor comum, embora se justifiquem pela qualidade e pelo caráter artesanal dos produtos.
Bar do Bunker
Uma atmosfera completamente distinta é exibida ao público à medida que se desce as escadas e se chega ao bar de vinhos — o Bar do Bunker. O subsolo apresenta uma proposta mais intimista, com luzes baixas e mesas pensadas para casais e grupos menores. O espaço é ideal para dates e pequenos encontros. Neste espaço, as tábuas do cardápio principal costumam ser pedidas para harmonizar com os vinhos da casa, em grande parte brasileiros. Há outras bebidas alcoólicas disponíveis, como cachaças, drinks e cervejas.
Diferentes concepções de ambientes no à Mercê atraem uma grande variedade de público. Segundo Marco, existem clientes locais que tomam café na loja todos os dias e aproveitam para pegar sugestões de vinhos e queijos. Já os visitantes dos fins de semana têm perfil de turistas, que se programam para ir ao local ou eventualmente o conhecem ao caminhar pela Praça da República.
Do samba ao jazz
Não é só de comida — e de política — que se faz o à Mercê. As programações musicais, que ocorrem tanto na calçada frontal, como no Bar do Bunker, dão um toque final à experiência gastronômica do lugar.
São grandes as chances de escutar uma boa música brasileira ao passear pelos arredores da Praça da República. A Mercê realiza quinzenalmente rodas de samba e chorinho durante as tardes para os mais diferentes públicos. Já para os amantes da noite paulistana, o ponto de encontro é o Bar do Bunker, que recebe cantores todas às quintas, sextas e sábados. No bar, o clima é mais intimista e há uma seleção de músicas autorais, além de interpretações de clássicos da MPB e do jazz.
A programação semanal das atrações pode ser facilmente encontrada nas redes sociais do à Mercê.