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Vai um cafézinho? — Um perfil histórico e emocional do café no Brasil

O que a história do café no país conta sobre os hábitos atuais da população, a qual criou sua própria história com a bebida

Como o café se encaixa em sua rotina?

 

“O café me diverte, é a parte lúdica da minha rotina. Uma real brincadeira de gente grande”, responde Grazielle Albuquerque, jornalista de 40 anos.

“É um ritual sagrado, o momento de começar o dia. É o que define como vai ser o transcorrer, então, é quase como se fosse minha oração matinal”, afirma Guilherme Valle, contador de 26 anos.

“Sem ele, o cérebro não liga”, relata Mariana Lelis, 17 anos e estudante de direito na PUC-SP. 

 

Grazielle, Guilherme e Mariana não são os únicos no Brasil a integrar o café como parte de suas rotinas: apenas no ano de 2020, cada brasileiro consumiu, em média, 826 xícaras, segundo a Euromonitor International

Em grãos, moído, cru ou gourmet, o café embala a vida dos brasileiros das mais variadas gerações e nos mais diversos contextos, na mesma medida em que envolve a história e economia do país. Mas, para chegar até o balcão da padaria na forma de “pingado” ou até a bancada de um coffee lover acompanhado de um leite vegetal, esse grão teve de traçar sua própria trajetória ao longo dos anos, não apenas no Brasil, mas atravessando e arrebatando continentes inteiros. 

   

O café percorre um longo caminho histórico e geográfico até chegar às xícaras dos consumidores. [Imagem: Reprodução/Flickr]

A origem do café 

Não há evidências concretas sobre a descoberta do café como propício para consumo humano. Contudo, há uma diversidade de lendas que relatam a origem da bebida: uma das mais divulgadas é a do pastor Kaldi, que viveu na região da Etiópia, cerca de mil anos atrás. Segundo a lenda, observando o comportamento de suas cabras, Kaldi teria percebido que elas ficavam mais agitadas e saltitantes sempre que mastigavam os frutos vermelho-amarelados. O pastor, intrigado, relatou esse fato a um monge, que decidiu experimentar os frutos: utilizou-os na forma de infusão e percebeu que, após consumi-los, conseguia orar e ler por mais tempo do que o habitual. A notícia teria se espalhado entre os monastérios, o que culminou em uma demanda pela bebida — isso explicaria as evidências sobre o café ter sido cultivado pela primeira vez em conventos no Iêmen. 

Outras versões da lenda contam que o monge teria levado os frutos consigo por considerá-los diabólicos e, ao jogá-los ao fogo, instigou a curiosidade dos companheiros de oração pelo cheiro. Eles teriam utilizado água para resfriar os frutos, e, sem intenção, passado o primeiro “cafezinho”. 

 


O pastor Kaldi teria percebido que suas cabras conseguiam percorrer distâncias maiores após ingerirem os frutos vermelhos.

 

O professor Leandro Napoleão, formado em História pela Universidade de São Paulo, explica que as lendas encontram terreno fértil na história africana pela tradição oral muito presente na cultura dos povos originários do continente. Assim, apesar da necessidade de serem analisadas com cuidado, são muitas vezes fidedignas devido à responsabilidade que esses povos depositam nos seus contadores de histórias. 

Conforme evidências históricas, o grão teve sua origem associada ao centro do continente africano, mais especificamente à região da Etiópia. Depois, viajou ao Iêmen, Pérsia — onde foi, pela primeira vez, torrado — e, por fim, se emaranhou nas trocas comerciais dos árabes, que carregaram a bebida até a Europa. “Trocas comerciais são muitas vezes atreladas a trocas culturais, e o café fazia parte da cultura dos árabes nessa época”, explica Napoleão. 

 

A Europa e a nova posição do café

O termo em inglês do grão, coffee, foi derivado do árabe qahwah (“uma bebida de frutas vermelhas”). A bebida à qual o termo árabe se referia, porém, era o vinho, não o café. Por esse motivo, o café ficou conhecido como “vinho da Arábia” durante seus primeiros passos na Europa.  

A bebida chega ao continente no século 14, mas é só no século 17 que passa a ser valorizada social e economicamente e desperta o interesse do comércio local. Até esse período, somente árabes plantavam café, vendendo-o torrado para que outros grupos não tirassem o grão de seu domínio. Contudo, alemães, franceses, italianos e holandeses procuravam por um produto para plantar em suas colônias. Foram esses últimos que cultivaram as primeiras mudas em solo europeu e tornaram o café uma das bebidas mais consumidas no Velho Mundo. 

Entre os muitos fatores que ajudaram a aumentar o consumo de café na Europa, o que chamou atenção dos comerciantes dessa região, a Revolução Industrial se coloca como um elemento central. Isso porque, ao promover um novo — e acelerado — estilo de vida aos trabalhadores, forçou-os a procurar um estimulante energético, que foi encontrado no café. Assim, a bebida passou a ser consumida tanto pelos trabalhadores mais pobres quanto pela elite, que a transformou em um elemento presente em situações de pompa e prestígio social, como era o caso nas cafeterias que figuram no início da atividade jornalística europeia. “Antes, o chique era tomar chá”, ironiza o professor Napoleão.  

 

A necessidade de aumento da produtividade nas indústrias forçou os trabalhadores a procurarem por um energético — o café. [Imagem: Reprodução/Flickr]

A chegada ao Brasil 

A partir da colonização do Novo Mundo, o café chega até as Américas — entra no Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico, Guianas e, finalmente, no Brasil, que viria a se tornar, séculos depois, o maior consumidor e exportador desse grão do planeta. O plantio foi iniciado nas regiões Norte e Nordeste, no final do século 17, mas não obteve relevância nesse contexto. Foi apenas no século 19, quando passou a ser cultivado inicialmente no Rio de Janeiro, e depois em São Paulo e Minas Gerais, que esse grão ganhou notoriedade no país. 

O contexto do Brasil no período em que o café passou a ser cultivado no Sudeste promovia o Rio de Janeiro à posição de capital política, social e econômica do Império. Com a inserção desse grão no cenário financeiro do país, em especial quando o cultivo passa a se estender pelo Vale do Paraíba em direção ao interior de São Paulo, o cenário se altera: dois grupos elitizados distintos começam a habitar a região, e esse estado inicia um processo de obtenção de prestígio socioeconômico.

A primeira elite paulista era formada por pessoas influentes desde o período da economia açucareira, o qual enriqueceu famílias com base em valores, à época considerados conservadores, como o trabalho escravo. Já a segunda, formada mais recentemente em decorrência da influência cafeeira, era aburguesada e ligada a valores de modernização e industrialização. Assim, com a junção dos ideais desses dois grupos, São Paulo passa a promover uma modernização conservadora — as mesmas estruturas político-sociais se mantiveram, mas o dinheiro acumulado por esses dois grupos passa a ser investido em indústrias ligadas ao café, como de sacas e até mesmo rodovias para o escoamento. 

 

No mapa, de 1886, mostra as áreas em verde, antes despovoadas, para onde expandiu a produção em São Paulo.  [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

Um novo ciclo econômico brasileiro

Com o decorrer das décadas e com o avanço do plantio de café no interior do estado, São Paulo tornou-se o novo centro econômico do Brasil República. Em Santos, no litoral paulista, foi construída a Bolsa do Café, dada a importância do escoamento da produção pelo porto da cidade. 

“Muitos grandes proprietários ali na região do Vale do Paraíba, por volta dos anos 1840, vão expandindo a sua produção para o interior”, explica Gunter da Costa, professor de história formado pela Universidade Estadual de São Paulo. “E, ali, eles têm acesso a terras de melhor qualidade: é o famoso solo de terra roxa. Então, passam a produzir uma quantidade muito maior de café e de maior qualidade. Muitas vezes, os filhos dos proprietários do Vale do Paraíba iam pra lá e, já com um certo conhecimento, desenvolviam novas técnicas para o plantio do grão, enriquecendo e vendendo cada vez mais”, acrescenta. 

Nessa época, o café brasileiro passa a ser exportado para diversas partes do mundo, chegando aos Estados Unidos, onde se consolida de tal forma no mercado que supera o consumo de chá, então costume local. 

 

Imagens de três tipos de café diferentes no primeiro mercado de café do Brasil, o Café Mercado da Vila, na Vila Madalena, São Paulo. [Imagem: Duda Ventura]

A economia brasileira teve, desde o princípio, o trabalho de pessoas escravizadas em sua base. Entretanto, conforme o desenvolvimento da cultura cafeeira se estabilizou no país, o trabalho estrangeiro assalariado passou a ser visto como mais lucrativo. 

“O café é uma planta muito sensível. Foi esse fator que fez muitos produtores preferirem o trabalho estrangeiro ao escravizado nessa época, porque os estrangeiros frequentemente recebiam o equivalente à produção, e tendiam a ter um cuidado maior. Na época, alguns estrangeiros até mesmo mandavam cartas aos seus parentes na Europa os alertando para que não viessem ao Brasil, pelas péssimas condições de trabalho e pagamento, porque muitos caíam nas falsas propagandas do governo brasileiro”, explica o historiador. 

Foi nesse período, no final do século 19, início do século 20, que, com o apoio do governo federal, o qual tinha não apenas interesses econômicos, mas também sociais — e racistas —, que a população estrangeira no sudeste e sul do país aumentou. Os trabalhadores vinham ao Brasil em busca de melhores condições de vida, substituindo o trabalho de negros escravizados em alguns setores. 

 

Café com leite na mesa, na economia e na política

Com a consolidação do café nos mercados interno e externo que ocorreu com a virada para os anos 1900, a elite cafeeira paulista passou a utilizar sua influência para se beneficiar da política e da economia do Estado brasileiro — interferiu, primeiramente, na política dos governadores durante a primeira República brasileira, e, depois, quando aqueles que ocupavam os cargos presidenciais já não eram mais representantes diretos dos cafeicultores, fez acordos com governos em troca de apoio político durante as gestões que seguiram. 

Esse primeiro momento, entre 1889 e 1930, representou o auge do poder dos cafeicultores paulistas, ao ponto de ficar conhecido como República do Café com Leite:

“Esse nome, que foi criado para categorizar o período em que São Paulo, grande produtor de café, e Minas Gerais, grande produtor de laticínios, estavam no poder do país, na verdade está errado. O correto seria República do Café com Café. Minas Gerais produzia muito café na época, muito mais do que laticínios”, explica Napoleão. Café com leite significava também que, não importa quem estivesse no governo, pouquíssimo, em questão de políticas públicas, mudaria. “Era uma ironia. A ideia do mais do mesmo é simbolizada”, complementa Gunter.

Nesse momento histórico, para evitar uma baixa no preço internacional do café, o governo federal comprava centenas de sacas do grão e estocava, prática definida pelo chamado Convênio de Taubaté. Era o produto mais expressivo em exportações para o país, desse modo, uma baixa nos preços significaria um prejuízo enorme para o Brasil em um período em que as outras commodities — isto é, produtos agrícolas de baixo valor agregado — vendidas para o exterior não representavam nem metade do que o café era para a economia.

 

A expressividade do café nas exportações brasileiras definiu, e ainda define, a posição de poder dos grandes cafeicultores. [Imagem: Reprodução/ Mestres da História]

 

Durante os governos que sucederam a República do Café com Leite, foi mantido o tratamento privilegiado concedido aos cafeicultores, atualizando as práticas e medidas. Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, décadas depois, por exemplo, as sacas passaram a ser queimadas, ao invés de estocadas, como forma de controlar ainda mais a inflação que crescia na época devido à Crise de 1929

Atualmente, a presença da bancada ruralista no Congresso Nacional é um indicativo da continuidade da enorme influência da elite do café — que configura entre os integrantes desse grupo congressista — na política do país. 

Osni Nobre, promotor de vendas no setor desse grão, afirma que, apesar de o governo federal ainda comprar estoques reguladores de inflação, essa prática é muito mais dinâmica, com compras menores do que eram nas décadas passadas. 

 

O preço pode ser um empecilho para o valor emocional

Nas prateleiras dos supermercados, chama atenção o preço do café, que sofreu um crescimento de 50% em 2021. “É um momento bem atípico”, definiu o vendedor. 

O sul de Minas Gerais, um dos principais focos de plantações de café no país, sofreu com geadas que queimaram parte das plantações na metade deste ano, fator que colaborou para o aumento no valor das etiquetas dos supermercados. Além disso, a alta no dólar contribuiu para que a pouca produção que sobreviveu às condições climáticas fosse, preferencialmente, exportada. “2020 já foi uma safra menor, o que é comum nas plantações de café, que apresentam safras bianuais, mas, em 2021, com a geada, tivemos praticamente dois anos de safra ruim”, continua Osni. 

“A geada foi muito difícil de lidar”, afirma Luciene Motta, produtora rural de café orgânico especial em Pedralva, sul de Minas Gerais. “Para nós, pequenos produtores, de trabalho familiar, é mais difícil ainda.”

Ainda assim, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria de Café (ABIC), o consumo de café no país apresentou 1,34% de alta em 2020, projeção que se mantém para 2021, assim como aquela que indica que os preços continuarão a subir no país. “O brasileiro gosta de tomar café dentro de casa, é algo mais íntimo que nos outros países”, explica Osni Nobre. 

Os preços, entretanto, vão de encontro ao valor sentimental que muitos brasileiros depositam na tradição de tomar café. 

 

No coração do Brasil

A tradição histórica do café na vida da população brasileira é relativamente fácil de ser contada: alguns fatos, outros dados e muita pesquisa resolvem. 

O real mistério se dá na ligação emocional entre as xícaras e o coração daqueles que seguram-nas. Seja qual for a resposta para esse apego, as histórias individuais se mostram muito mais interessantes do que as das cabras que saltitavam após comer café. 

 

 

Mariana Lelis, 17 anos

Mariana acha o café uma ótima companhia. Para sua família, fã de um bom café coado, essa bebida é sinônimo de união e aconchego. Sua mãe sempre acorda mais cedo do que precisaria apenas para coar o café para a filha e o marido. Não é sobre o café em específico, Mariana acredita, mas sobre a companhia. O pai, claro, não fica atrás no cuidado da relação da família com a bebida quente: alguns dias, ele acorda mais cedo, faz o café e leva uma xícara até o quarto onde sua esposa ainda dorme, apenas para que ela consiga acordar sentindo o cheirinho que tanto ama — mesmo que, por vezes, ela acorde depois de muito tempo e nem tome o café já frio. 

 

A família de Mariana achou, no café, mais uma forma de demonstrar seu amor. [Imagem: Mariana Lélis]

 

Luciene Motta, 42 anos

Os pés plantados na terra junto ao cafezal são uma realidade há 17 anos na vida de Luciene. Desde muito nova — quando abandonou os estudos do primário, com 11 anos, para acompanhar os irmãos na lavoura — Luciene plantava diversos produtos. Porém, foi no café que ela encontrou a sua especialidade. Por anos, ajudou seu pai a apanhar os grãos nas fazendas de outras pessoas e, já adulta, com ajuda financeira de um amigo da família, conseguiu comprar seu próprio pedacinho de chão. A partir de então, começou a vender café para fora de sua pequena localidade mineira, e, com o tempo, passou a plantar de forma orgânica e com todos os cuidados para sua produção ser categorizada como especial. Apesar das dificuldades que Luciene enfrenta sendo uma pequena produtora rural, ela observa que aos poucos, as pessoas foram percebendo seu trabalho e valorizando mais. Até os grandes produtores aprenderam algumas coisas sobre o cuidado que ela e a família têm com esse grão, que forra o chão e o estômago deles todos os dias.  

 

Luciene construiu sua própria relação histórica e emocional com o café. [Imagem: Luciene Motta]

 

Lívia Magalhães, 19 anos 

Lívia costuma tomar café expresso feito em uma cafeteira italiana, a qual faz companhia a uma prensa francesa e a um moedor de grãos. Ela não gosta muito dos outros tipos de café, como gelado, com leite… Mas já tomou café com suco de limão e se apaixonou. Os três a quatro cafés que ela toma no dia podem ser colocados em xícaras chiques — relíquias ganhadas no casamento da mãe — ou até mesmo em copos de requeijão. O primeiro contato de Lívia com café começou aos quatro anos de idade, quando seu pai deixava que ela sentisse apenas o gostinho na ponta da língua, em restaurantes. Na pré-adolescência, virou piada entre a família por colocar muito açúcar na bebida amarga. Na tentativa de imitar seu tio e sua mãe e se provar mais madura, ela parou de adoçar o café, hábito que a acompanha até hoje. Quando não toma nenhuma xícara no dia, Lívia tem dor de cabeça, o que ela considera uma dependência não saudável, mas difícil de mudar hoje. 

 

Lívia costuma tomar café enquanto lê um livro, sua segunda paixão. [Imagem: Henrique Kardozo]

 

Leandro Napoleão, 32 anos 

O professor de história construiu sua própria história no colégio em que leciona. O cheiro do café que carrega em uma garrafa consigo de sala em sala chega até os alunos como um chamado para que se aproximem para uma conversa sobre a vida com o mestre, antes que o sinal que marca o início de cada aula toque. Claro, sempre tomando um golinho da bebida quente — não é só o professor que precisa se aquecer e energizar para o ritmo das aulas pré-vestibular.  

 

O cantinho do café é parada certa de Leandro na escola em que leciona. [Imagem: Duda Ventura]

 

Rodrigo Bachmann, 37 anos 

Rodrigo é o maior influenciador digital brasileiro de cafés, o oitavo maior degustador do Brasil e dono do primeiro mercado de cafés especiais do país. Sua família era dona de fazendas de café, e ele sempre amou a bebida. Começou a postar no Facebook sobre suas marcas favoritas e chamou atenção de outras empresas e produtores, que passaram a enviar novos tipos do grão para que ele experimentasse. Em dezembro de 2019, ele abriu o Mercado da Vila, em São Paulo, que se transformou em sua vida — trabalhando apenas com cafés especiais de pequenos produtores, Rodrigo mora na loja e passou, com o tempo, a expandir seu negócio para outros itens relacionados ao grão, como camisetas e canecas, que agradam aos coffee lovers. Hoje, o desafio do degustador é explorar preços que sejam acessíveis tanto às classes mais baixas, quanto às elites que frequentam seu mercado, levando o café de alta qualidade para todos. 

 

A paixão de Rodrigo pelo café é expressada, também, em sua pele, na forma de uma tatuagem. [Imagem: Duda Ventura]

 

Gunter da Costa, 40 anos

A mãe de Gunter foi trabalhadora das grandes plantações de café da metade do século XX e, apesar de nunca ter tido acesso às riquezas oriundas do café nesse período, ela carrega consigo a nostalgia das produções na roça. O professor de história se diverte com o inconformismo que a toma quando eles passam pela rodovia que liga Franca a Presidente Prudente, no interior de São Paulo — a senhora sempre afirma que mataram o café e que hoje estão matando o solo ao plantarem soja e cana em vez do grão vermelho-amarelado. Talvez, por carregar em suas veias essa ligação tão forte com as terras cafeeiras, é que o encanto de Gunter por café se justifique. 

 

Grazielle Albuquerque, 40 anos

Grazielle acredita que o café convida para uma pausa, para uma conversa. Mesmo naquelas cafeterias to go, nas quais só há um balcão e o objetivo é pegar e ir tomando no caminho para outro lugar, as pessoas sempre acabam parando para bater um papo, ela observa. A jornalista entende que, na verdade, a química do café — que faz com que ele seja um estimulante e energético — vai contra esse caráter de lentidão próprio do hábito de bebê-lo. Grazielle é muito fã da bebida: tem sua própria cafeteria em casa, fruto de muitos cursos de especialização no seu hobby. Ela acredita que quem realmente gosta de café, mói o grão na hora, e não há discussão quanto a isso. 

 

O “laboratório” de Grazielle é seu xodó, onde ela relaxa. [Imagem: Grazielle Albuquerque]

 

Guilherme Valle, 26 anos

Guilherme carrega a lembrança de estar sentado em um balcão com sua mãe, tomando café, e tudo ao redor parecer enorme. Talvez ele fosse pequeno demais na época. Hoje, tomar café ainda parece um ato grandioso para o contador: é um ritual sagrado diário para ele, que cresce ao ingerir a bebida quente. Ela ajuda a definir como vai ser o restante de seu dia, ele pensa. É só sentar, assoprar uma de suas xícaras de estimação e esperar que o café faça seu trabalho de colocar tudo no lugar. 

 

Guilherme é acompanhado pelo café em todos os momentos do seu dia, em casa e no trabalho. [Imagem: Guilherme Valle]

 

Tradição familiar; pressão dos poderosos e conversas entre o coração e o estômago: a ligação emocional que os brasileiros criaram com o café renderia uma discussão longa e, de preferência, na companhia de uma grande xícara.   

 

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