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A prática jornalística na arte de construir o presente

O Jornalismo articula espaço e tempo, é uma atividade de interação com a sociedade. Para isso, contempla quatro elementos básicos: atualidade, periodicidade, difusão (ou publicidade) e universalidade, como afirmava o jornalista e pesquisador alemão Otto Groth (1875-1965). Apesar de os seus estudos focarem no meio impresso, Groth dizia que independentemente do suporte, plataforma ou veículo …

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O Jornalismo articula espaço e tempo, é uma atividade de interação com a sociedade. Para isso, contempla quatro elementos básicos: atualidade, periodicidade, difusão (ou publicidade) e universalidade, como afirmava o jornalista e pesquisador alemão Otto Groth (1875-1965). Apesar de os seus estudos focarem no meio impresso, Groth dizia que independentemente do suporte, plataforma ou veículo de comunicação, o trabalho jornalístico passa por esses pilares.

Consciente ou inconscientemente, os jornalistas ao decidirem o porquê desse ou daquele assunto merecer ser pauta assumem o compromisso em relação ao público no sentido de (1) identificar a amplitude do assunto (universalidade); (2) a realidade do ocorrido, ou seja, a sua a conexão com o momento (atualidade); (3) a maneira como isso se propaga, impactando os espaços existentes; (4) a regularidade (ritmo) que isso ocupa no espaço/tempo.

Ao olhar esses pilares podemos compreender como as sugestões já apontadas aqui nesta coluna: pesquisa (ideias, dados, histórias), fontes (documentos, pessoas), redação e edição (o que deve e merece estar no texto) se encaixam no fazer jornalístico.

A quantidade de informações tornou-se tão abundante que é obrigatório selecionar o que vai ser levado adiante. É essa mescla de pilares e estruturas que constrói a narrativa do tempo presente (LAGE, 2006 e MEDINA, 2003).

Seja através dos perfis do atleta Tom Brady (ARQUIBANCADA) e da atriz Sônia Braga (CINÉFILOS), do olhar histórico para a semana de arte moderna (J.PRESS), da reflexão sobre a falta de uma política pública mais clara em relação à biodiversidade brasileira no desenvolvimento da ciência nacional (LABORATÓRIO) ou o encontro (ou não?) das diferentes gerações da Música Popular Brasileira (SALA 33) que os repórteres e editores da Jornalismo Júnior utilizam as ferramentas que o jornalismo proporciona para tecer a narrativa do presente.

Quanto à seleção dos temas, os cinco se encaixam perfeitamente em cada uma das editorias. São pertinentes ao que se propõe, inclusive, produzir pautas dentro de uma temática especial chamada brasilidades é muito interessante para proporcionar ou reforçar o reconhecimento e/ou reflexão sobre aspectos da cultura e da sociedade brasileira. 

Estruturalmente os textos fluem, ou seja, a escrita está agradável, há pesquisa e fontes, além de usar recursos como intertítulos, links, imagens que contribuem com a experiência de leitura.

Em relação às fontes de informação, especificamente, recomendaria uma pluralidade no texto “Tom Brady: 45 anos do Maior de Todos os Tempos“, por Osmar Neto e Tulio Shiraishi. A fonte utilizada é um especialista que se encaixa muito bem na pauta, mas, nesse caso, seria importante ter outras vozes (fãs ou outro especialista) também. 

Os textos “Encontro de gerações: Sênior e Nova MPB“, por Cecília de O. Freitas e “Cem anos da semana que não acabou“, por Clarisse Macedo têm as fontes especializadas, que são ótimas, por sinal, mas de repente vocês podem começar a pensar nas próximas reportagens na utilização das chamadas fontes comuns, que são impactadas direta ou indiretamente pelo fato em si.

No caso do texto “Sônia Braga: alma, corpo e voz de força“, por Maria Fernanda Barros, há uma baita pesquisa, levantamento de dados, arquivos, etc. Mas todas são fontes documentais e/ou de terceiros. Talvez tenha sido uma escolha da equipe, ok. Mas eu gosto de ouvir/ler vozes de gente real, de pessoas que a própria equipe encontrou e conversou porque isso traz um olhar diferenciado, exclusivo. 

Entendo que também deva ter sido uma escolha editorial, mas a introdução do texto “A biodiversidade brasileira como caminho para a ciência“, por Gabriele da Luz Mello e Sofia Helena Lanza, está bem “nariz de cera”. Eu não sou inimiga dessa técnica, muito pelo contrário. Mas nesse caso achei que a ideia ficou um tanto repetitiva (“o país produz, mas há empecilhos, o país produz e não é de hoje, mas há problemas…”), enfim, caberia mais uma editada. A ideia de reforçar que produz, mas há problemas se manteria, no entanto, a escrita poderia ser mais objetiva. 

Aliás, fazer o gancho com algo mais pop como as séries The Good Doctor e Grey´s Anatomy foi uma boa sacada, mas não seria o caso de exemplificar quais foram essas soluções retratadas por elas?

Pode ser preciosismo da minha parte, mas no texto Encontro de gerações: Sênior e Nova MPB logo no início eu mudaria uma coisinha. Está escrito: “Rita Lee e AnavitóriaEmicida e Belchior,Toquinho e Camilla Faustino, são alguns exemplos de parcerias entre artistas da Música Popular Brasileira e da atualidade que vêm acontecendo nos últimos anos. (…)”. Dá a sensação de que Música Popular Brasileira e da atualidade são coisas diferentes e não é bem isso. O texto deixa claro que está falando da música brasileira na perspectiva geracional. Poderia ser assim: “Rita Lee e AnavitóriaEmicida e Belchior,Toquinho e Camilla Faustino são alguns exemplos de parcerias entre artistas da Música Popular Brasileira do passado e da atualidade (…)”.

Em outro momento também mexeria numa coisinha. Está escrito: “Apesar da idade avançada e da ausência de muitos, não são poucos os artistas desta época que permanecem cantando suas canções antigas e compondo novas. (…)”. Eu alteraria a ordem porque acredito que daria uma fluidez de leitura, dessa forma, ficaria assim: “Mesmo com a ausência de muitos e apesar da idade avançada de outros, ainda há artistas dessa época que permanecem cantando suas canções antigas e compondo novas. (…)”

Nenhuma dessas observações significa problemas de construção ou compreensão do trabalho jornalístico realizado em cada um desses textos. Apenas, como ombudswoman, me cabe opinar sobre o que pode ser observado e, eventualmente, aprimorado nos próximos trabalhos. 

Aproveito e deixo a dica de leitura dos livros:

LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 2006

MEDINA, Cremilda. A arte de tecer presente: Narrativa e cotidiano. São Paulo: Summus, 2003

*Carla de Oliveira Tôzo é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, doutoranda em Comunicação pelo PPGCOM-ECA-USP, professora universitária. Foi repórter freelancer em revistas cobrindo temas ligados a beleza, saúde e estética.

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