Altas Expectativas (2017) promete ser um bom filme logo no começo, bem como na escolha do título, porém, fica só por isso mesmo. Mais uma vez, a velha estratégia de brincar com o nome da obra foi colocada em prática. Os diretores superestimaram o longa-metragem com um trocadilho bobo, óbvio, na tentativa de torná-lo mais atraente ao público. Isso de certa maneira poderia funcionar, mas depois de alguns minutos sentado em frente à tela, surge aquela vontade agoniante de se retirar do local, porque o que fora prometido não se cumpre. É isso que o enredo, ou melhor, a inexistência de um ocasiona.
O filme foi inspirado no curta-documentário Léo & Carol (2015), de Álvaro Campos e Dafne Capella, que narra a vida do comediante conhecido nas casas de stand-up comedy como “Gigante Léo”, nos preparativos do seu casamento. Até aí tudo bem, várias pessoas se casam, não há um motivo especial para retratar algo tão rotineiro. Mas aqui, o que muitos consideram “inusitado” é o matrimônio ser entre Léo, um anão, e Carol, uma mulher de estatura normal.
A história do longa, com direção de Pedro Antônio e Álvaro Campos, gira em torno de Décio (Leonardo Núñez), um anão treinador de cavalos do Jockey Club Brasileiro, que se apaixona subitamente por Lena (Camila Márdila), a mais jovem herdeira de uma cafeteria, que está prestes a falir. Os dois passam a se conhecer e a paixão de Décio só aumenta, porém, o receio da sua estatura não agradar a moça o impede de seguir adiante.
Lena a todo momento é taxada como “ranzinza” por não rir de piadas ou situações engraçadas. Essa falta de “humor” é, de certa maneira, compreensível já que ela desde muito cedo teve que adquirir um grau de responsabilidade enorme: cuidar do irmão mais novo, que é paraplégico e tomar conta do comércio lhe trazem diversas preocupações que a deixam dura nos momentos para lidar com outras pessoas. Com a intenção de quebrar essa barreira, Décio utiliza o humor para conquistar o sorriso e quem sabe o coração da moça.
Para completar a fórmula batida de comédia romântica, não poderia deixar de faltar um antagonista – aqui, fraco, sem consistência e que está ali só para o público ficar torcendo a favor dos protagonistas. Flávio (Milhem Cortaz) cumpre bem essa função: um homem rico, apostador e dono de cavalos do Jockey Club, que tenta seduzir Lena utilizando como artimanha todo o seu charme galanteador, a sua condição financeira e simpatia. Sem qualquer tipo de esforço, ele conquista Lena, que se deixa levar pela ajuda financeira que o milionário pode oferecer para o tratamento do irmão e revitalização do Café. O início desse romance promete estragar a felicidade de Décio.
Existem outros personagens coadjuvantes, mas o desenvolvimento deles é pouco aprofundado. Todos, sem exceção, subsistem somente quando os protagonistas estão por perto. Aguentar uma hora e meia de filme na mesma história sem sal de Décio e Lena é extremamente entediante.
Além disso, o longa peca em vários outros aspectos. Primeiro, na ideia absurda de intercalar trechos reais do stand-up do Gigante Léo com cenas ficcionais do filme. Por mais que as piadas estejam conectadas às coisas que estão acontecendo, isso quebra todo o ritmo da narrativa. Fica cansativo ver vinte segundos de piadas e logo em seguida, uma cena do filme. As locações também são bem monótonas, porque como mais da metade do filme se passa sempre no Jockey, os cenários pareciam se repetir, e tudo parecia parte de uma mesma cena inacabável. Sem falar dos planos estáticos de câmera que contribuem para a atmosfera de morosidade, desnecessária para o tom água com açúcar do filme. O tempo parece não passar!
O único ponto acertado foi a abordagem de um tema tão delicado e pouco discutido na sociedade brasileira. De certa forma, o filme possui um grau de pioneirismo: ter uma pessoa com nanismo como protagonista é algo bem relevante na luta por mais respeito e reforça a importância do combate ao preconceito. Essa é a lição do filme, independente das suas limitações qualquer um pode ser feliz e respeitado.
Por Wender Starlles
wenderstarlles@usp.br