por Leticia Fuentes
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Um dos destaques do mês, Neruda (Neruda, 2014), filme do diretor chileno Manuel Basoalto, é categorizado como o primeiro longa de ficção produzido no Chile sobre a vida do poeta. O diretor define o filme como uma aventura, embora ele seja um pouco monótono em alguns momentos. Estreado em todos os cinemas do Chile em abril de 2014, o longa só chega agora no Brasil, tendo sua exibição marcada para o dia 9 de julho em 8 capitais brasileiras.
Aqueles que assistiram a O Carteiro e o Poeta (Il Postino, 1994), filme produzido na Itália sobre o livro de mesmo nome do famoso escritor chileno Antonio Skármeta, provavelmente conhecem um Neruda muito diferente do retratado na recente produção de Basoalto. Este Neruda (interpretado por José Secall) é muito mais político, corajoso, aventureiro; um verdadeiro defensor da pátria chilena, que chega a parecer forçado em alguns momentos.
O filme conta com uma narrativa não-linear: começa com o discurso de Neruda na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel, em 1971, e, acompanhando as palavras do poeta, volta a 1948, quando Neruda foi eleito Senador da República, para narrar a história “quase esquecida” de seus anos na clandestinidade.
Naquela época, ele estava como fugitivo político por sua oposição ao governo de Gabriel González Videla, e foi forçado a cruzar a Cordilheira dos Andes para chegar à fronteira com a Argentina. É este o momento em que o filme realmente começa: a aventura do poeta de retornar às terras de sua infância e cruzar as íngremes montanhas andinas em uma batalha contra a morte. Obviamente, a história real não era tão extrema assim, e isso demonstra um pouco da visão romântica do poeta que o diretor constrói ao longo da obra.
Graças aos vários momentos de digressão do filme, em que cenas de diferentes etapas da vida do poeta se misturam, alguns acontecimentos ficam mal-explicados, e o espectador fica confuso e distraído da trama central, deparando-se com essas quebras em momentos pouco estratégicos. Além disso, a seleção de alguns atores, com exceção do protagonista, também poderia ter sido melhor.
Que o diretor tentou fazer uma verdadeira “carta de amor” ao poeta chileno e a seu próprio país não há dúvidas: Neruda aparece sempre recitando trechos de seus poemas mais célebres, enquanto a câmera explora cenários maravilhosos. Quanto a isso, o filme não deixa a desejar: as imagens são capazes de impressionar qualquer espectador diante da beleza e grandiosidade das paisagens chilenas.
Os elementos culturais também estão muito presentes no longa, o que faz com que o espectador mergulhe naquele universo ancestral de costumes e trajes típicos do sul chileno. Para dar mais vida ainda a esse mundo, o diretor explora até os diferentes sotaques e expressões usadas em cada lugar em que a história se passa, além de contar com uma trilha sonora belíssima, que mistura músicas instrumentais usadas para causar suspense a sons tradicionais da cultura local.
Apesar de todos os pontos negativos, o filme consegue entreter o espectador, especialmente por conta das imagens e dos elementos culturais já citados, e é uma excelente opção para aqueles que se interessam por fotografia. Ademais, o longa desempenha um grande papel no universo do cinema latino-americano, já que, além de contar a história de um personagem importantíssimo da literatura, ele ajuda a “construir uma identidade para o cinema da América Latina”, como afirmou o próprio diretor Manuel Basoalto em sua entrevista para o Cinéfilos.
Confira o trailer de Neruda: