Foto: Audiovisual/Jornalismo Júnior
9 triângulos pequenos dispostos de modo a formar um único triângulo maior. Apesar de sua formação acadêmica centrada na história das religiões, Alina nunca viu esse símbolo na vida. Ao menos não até ser convidada a comparecer a uma delegacia, sua presença solicitada como auxílio em uma investigação sobre o desaparecimento de algumas pessoas e a possível ligação desses sumiços à uma seita misteriosa.
É assim que se inicia a trama de “As perguntas” (Companhia das Letras, 2017), de Antônio Xerxenesky. Dividido em duas partes (Dia e Noite), o livro se propõe a contar um episódio fora do comum na vida de Alina, uma curitibana radicada em São Paulo. Durante o Dia, narrado em terceira pessoa, o leitor conhece um pouco do passado de Alina – com sua infância povoada por sombras e o início de sua ligação com o esoterismo durante a faculdade -, e também de seu presente, em que as perturbadoras visões foram substituídas por uma rotina tediosa e um emprego como editora de vídeos que mal serve para pagar as contas. Assim, o chamado da delegada surge para Alina como uma rota de escape de todo esse tédio de seus dias. Intrigada pelo símbolo e pela chamada “Ordem Metafísica Experimental”, ela decide investigá-la sozinha. Para sua surpresa, nessa brincadeira de detetive, acaba sendo convidada para um dos rituais secretos da Ordem, ao qual, após refletir um pouco, decide comparecer. É então que chega a Noite, momento em que o foco narrativo é assumido pela própria Alina, e, junto com ela, o leitor parte para descobrir o que se esconde por trás de tantos mistérios.
Quem dera, entretanto, que tudo se passasse de modo tão objetivo. Muitas e muitas páginas são preenchidas por interações desconfortáveis entre Alina e seus não tão amigos ou então por devaneios em meio a caminhadas pelo centro de São Paulo. Tantos rodeios tornam o livro um pouco cansativo e deixam o questionamento: quando algo realmente interessante vai acontecer?
Além disso, Alina não é uma personagem muito carismática, o que torna tudo ainda mais desanimador. Ela alterna entre a apatia e uma atitude extremamente crítica para com tudo e todos, inclusive si mesma. Alina está sempre censurando as próprias atitudes e então voltando a repeti-las, num ciclo que dura todo o decorrer da história. Os demais personagens são rasos e mesmo Fábio, o único que parecia ter algum potencial, acaba sendo mero acessório, sua participação pouco aproveitada.
Já se passa da metade do livro quando o ritual é realizado, trazendo a esperança de que, agora sim, a história vai finalmente decolar. Infelizmente, tudo fica por isso mesmo, apenas na expectativa. O lenga-lenga prossegue nas páginas restantes e quando o final chega, a decepção quase não impacta, pois já era, de certa forma, previsível. Frustrada, viro a última página e percebo que me tornei Alina: transbordo de perguntas para as quais me faltam respostas.
Por Gabriela Teixeira
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