por Jullyanna Salles
salles.candido@gmail.com
Em outubro de 2013, foi lançado o longa Gravidade (Gravity, 2013), dirigido por Alfonso Cuarón. O tema espacial foi retomado com muita competência, conquistou um bom público e dez indicações ao Oscar, das quais saiu vitorioso em sete. Coincidentemente um ano depois, Christopher Nolan lança Interestelar. Astronautas, espaçonaves explodindo e expectativa são, mais uma vez, colocadas em pauta pelo cinema.
A história é bem diferente. Existem graves problemas ambientais na Terra, o setor industrial e de construção civil deixam de ganhar espaço para serem substituídos por atividades primárias como agronomia. A humanidade já não precisa de prédios e sofre para a obtenção de comida. É neste momento que o filme recorta a vida de Cooper, papel de Matthew McConaughey como um engenheiro que se vê forçado a ser fazendeiro na nova realidade do planeta.
Não demora até que Cooper volte à ativa na NASA e tente salvar o mundo. O roteiro não é dos mais simples. Ao decorrer do enredo, duas histórias interligadas se desenvolvem ao mesmo tempo. Além disso, há uma mistura entre a ciência elaborada (com direito a teorias de física quântica e detalhadas explicações de procedimentos e situações), e uma estranha fé ligada ao sobrenatural e ao amor. Nesse sentido, Nolan escorrega um pouco e deixa o espectador sem saber ao certo se assiste a um grande drama ou a uma produção fantástica de ficção científica. A combinação dos dois fatores, na quantidade em que foram colocados, provoca dúvidas e acaba por confundir um pouco as expectativas.
A parte técnica, por outro lado, é surpreendente. Em longas como Amnésia (2000) e A Origem (2010), o diretor já havia deixado claro o quanto valorizava a estética de suas produções. Interestelar possui em sua equipe nomes notáveis como Hoyte Van Hoytema, diretor de fotografia do longa Ela (2013), e Hans Zimmer (que coleciona indicações ao Oscar e ganhou em 1995 com O Rei Leão) na trilha sonora. O resultado não poderia ser diferente. As passagens de cena são feitas com excelência, os enquadramentos convidam o espectador a se colocar no lugar dos personagens e os efeitos sonoros são de ótima qualidade. É possível perceber, tanto nas filmagens do espaço quanto nas da Terra, a preocupação com a harmonia e a beleza de cada elemento da cena.
A atuação de Matthew McConaughey é cativante nas passagens de drama e de ficção. O ator se mostra bastante versátil nesse aspecto. Ao seu lado, Anne Hathaway também merece ser citada, transita entre as duas interpretações sem perder a identidade da astronauta Brand. Sobretudo, é necessário evidenciar dois personagens robôs que se destacam no enredo, TARS, o responsável por quase todos os momentos de descontração do filme e CASE, uma versão versão mais ríspida e objetiva do primeiro, mas cuja competência acaba por envolver os espectadores.
O longa é composto de quase três horas de muita tensão e inúmeras reviravoltas. Não são poucas as vezes em que é necessário prender a respiração e se segurar na poltrona esperando o pior, ou botar o cérebro pra lembrar das aulas de física do colégio, tentando provar aquilo que é exposto por algum astronauta na tela. Christopher Nolan entrega aos cinemas uma grande produção, que mesmo tropeçando em alguns aspectos, merece ser vista e servir como base para os próximos filmes do gênero.
Trailer: