por Beatriz Quesada
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¡Átame! (1990) é o nono longa de Pedro Almodóvar e o primeiro feito após o grande sucesso de Mulheres à beira de um ataque de nervos (Mujeres al borde de un ataque de nervios, 1988). Lançado em 1990, o filme é polêmico desde as cenas de sexualidade até a tentativa de classificação do romance em um estilo, que passa de comédia para drama e por vezes para uma mistura dos dois.
Marina (Victoria Abril) é uma ex-atriz da indústria pornográfica que se recupera de um envolvimento com drogas enquanto realiza seu primeiro trabalho no cinema “convencional”. O filme estrelado pela personagem é uma produção de segunda categoria dirigida por Máximo (Francisco Rabal), diretor que busca retornar ao meio após um derrame e tem uma grande atração por Marina. Já o protagonista Ricky (Antonio Banderas) tem verdadeira obssessão pela atriz com quem passou apenas uma noite durante uma de suas fugas do manicômio; seu caráter lunático fica explícito nas cenas em que oberva Marina no início do filme usando uma peruca longa e acompanhado por uma música de suspense.
“Me llamo Ricky, tengo veintitrés años, cincuenta mil pesetas, y estoy solo en el mundo. Intentaré ser un buen marido para tí y un buen padre para tus hijos”
Assim o personagem de Banderas explica para Marina suas intenções românticas (ou não?) ao raptá-la e mantê-la cativa dentro do próprio edifício. Seu objetivo é que a convivência forçada faça com que ela se apaixone e assim eles construam uma vida juntos.
Depois de várias tentativas de fuga e um dente quebrado, Marina permanece amarrada à cama sempre que o sequestrador tem que deixá-la sozinha. Ricky sai do cativeiro para comprar novas peças para a torneira que quebrou, novo esparadrapo e cordas que não machuquem sua amada, drogas que amenizem a dor de dente.
Apesar de violento ao impedí-la de sair do apartamento, Ricky tem uma postura que beira a ingenuidade e o idealismo dos contos de fadas: gosta de fazer coisas a dois como se já estivessem casados. Além disso, planeja levá-la para conhecer sua cidade natal e conta como sua aparição fez com que “parasse de fazer loucuras” e fosse liberado do hospital psiquiátrico.
Uma história de amor
De certa forma a comicidade da trama está justamente nesse romantismo às avessas: o doente mental que sonha com uma vida a dois, escolhe como amor verdadeiro uma mulher que já foi atriz pornô e viciada em heroína e busca seduzí-la através de metódos pouquíssimo convencionais. Como legítimo representante do cinema espanhol, Almodóvar insere neste filme sua característica intensidade. Esse fator aliado ao modo com o longa é conduzido faz com que o espectador aceite e se envolva nesse cenário bizarro, que culmina com Marina correspondendo ao amor de seu sequestrador.
Um recurso bastante explorado no filme é a cor: os cenários são muito coloridos, com presença marcante do vermelho nas roupas das personagens e detalhes nos ambientes. Já no campo do conteúdo, a sensualidade é elemento primordial do longa, principalmente em torno da personagem de Victoria Abril. As cenas de sexo são explícitas e com muitos closes, enfocando as expressões das personagens para explorar suas sensações e sentimentos.
Após terem passado a noite juntos, Marina pede para ser amarrada com medo de fugir caso tenha a oportunidade, mostrando-se dividida entre o recente amor por Ricky e a vontade de escapar do cativeiro. Essa mudança evoca o título do filme e marca definitivamente uma virada na história.
Tal como a maioria dos romances, Ata-me tem um final feliz, ainda que esse seja o único componente convencional do filme. A conclusão da trama combina com a excentricidade presente durante toda a obra: embora a mocinha estivesse fisicamente presa, acaba por salvar mocinho (ou vilão?) de uma vida solitária, dando a ele a família e o amor que buscava.