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Audrey Hepburn: uma atriz de luxo

Há 20 anos, a atriz Audrey Hepburn falecia devido a um câncer no apêndice descoberto um ano antes. Ela já havia passado por uma cirurgia e por sessões de quimioterapia, antes que, em uma segunda intervenção cirúrgica, os médicos concluíssem que a doença havia se espalhado muito, e nada mais poderia ser feito. A atriz …

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Há 20 anos, a atriz Audrey Hepburn falecia devido a um câncer no apêndice descoberto um ano antes. Ela já havia passado por uma cirurgia e por sessões de quimioterapia, antes que, em uma segunda intervenção cirúrgica, os médicos concluíssem que a doença havia se espalhado muito, e nada mais poderia ser feito.

A atriz já estava afastada das telas – com a exceção de uma participação no filme Além da Eternidade (Always, 1989), dirigido por Steven Spielberg – há 12 anos quando faleceu, na noite do dia 20 de janeiro de 1993. Seu nome, contudo, já estava há muito marcado na história do cinema – e da moda. Audrey Hepburn foi a maior musa do estilista Hubert Givenchy, responsável pelo seu figurino em filmes como Sabrina (idem, 1954), Cinderela em Paris (Funny Face, 1957) e Charada (Charade, 1963). O francês também assina o vestido preto usado por Hepburn na primeira cena do seu filme mais famoso, Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961).

Audrey como Holly Golightly, em Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961)
Audrey como Holly Golightly, em Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961)

Audrey Hepburn é a terceira maior atriz cinematográfica de todos os tempos, segundo lista divulgada pelo American Film Institute. Além de seu talento, reconhecido, por exemplo, pelas suas cinco indicações ao Oscar e oito ao Globo de Ouro, a sua beleza também foi motivo de fama. Ela foi eleita a atriz mais bonita de todos os tempos segundo pesquisa publicada no Reino Unido, que consultou mais de dois mil cinéfilos, deixando pra trás outros ícones, como Grace Kelly e Marilyn Monroe.

Mas quem observa a esbelta figura de Audrey Hepburn talvez não suspeite dos horrores que ela viveu na infância. Filha de um banqueiro nascido na República Tcheca e com ascendência inglesa e de uma baronesa holandesa, ela nasceu no dia 4 de maio de 1929, na Bélgica. Audrey tinha dois meio-irmãos mais velhos, Ian e Alexander, do primeiro casamento de sua mãe, Ella. Quando a filha tinha apenas cinco anos, Ella mandou Audrey para um internato no interior da Inglaterra, onde a menina começou a ter aulas de balé, o que deflagrou sua paixão por dança e música.

Audrey praticando ballet. A dança era uma de suas paixões desde a infância.

Entretanto, o que poderia ter sido uma infância calma desestruturou-se em 1939, quando a Inglaterra declarou guerra à Alemanhã, dando início à Segunda Guerra Mundial. Ella, que havia se separado do pai de Audrey quatro anos antes, mudou-se com seus filhos para a Holanda, seu país de origem e onde seus pais ainda moravam. Contudo, sua tentativa foi frustrada: um anos após a chegada de Audrey, sua mãe e seus irmãos ao país de seus avós, ele foi ocupado pelas forças alemãs.

Quando isso aconteceu, a família se separou. Audrey e sua mãe ficaram até o fim da guerra sem ter notícias de Alexander e Ian. Morando na casa de seu avô, Audrey participava de apresentações de ballet para arrecadar fundos para a resistência. Ella chegou a mudar o nome da sua filha para Edda, temendo que as origens britânicas da menina, óbvias no nome Audrey, pudessem prejudicá-la na Holanda ocupada. Ainda que a sua família, de sangue azul, não pudesse ser considerada pobre, ela, como todo o povo holandês, passou por grandes privações a partir de 1944, quando, como forma de punição aos holandeses que não queriam colaborar com o governo de Hitler, quando o abastecimento de alimentos para a região foi cortado. Ela chegou a comer tulipas para sobreviver.

Quando a guerra chegou ao fim, em 1945, e a Holanda foi libertada, Audrey estava com um quadro grave de anemia e desnutrição. As imagens de execuções e de judeus sendo levados a campos de concentração não abandonaram a memória da futura atriz. Quando, em 1959, lhe foi oferecido um papel no filme O diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, 1959), ela recusou, alegando que participar da filmagem lhe traria de volta muitas lembranças dolorosas.

O amor de Audrey pela dança, entretanto, passou pela guerra intacto. Contudo, o seu sonho de ser primeira bailarina foi desfeito: lhe disseram que ela não poderia ser uma, devido a sua altura e às consequências das privações que ela sofreu durante a guerra. Então, Audrey continuou a trabalhar como modelo, o que já fazia desde que voltara para a Inglaterra, quando a guerra chegou ao fim, e começou a fazer pequenas participações em filmes. Foi enquanto gravava um deles, Monte Carlo Baby (idem, 1953), em Paris, que ela foi vista por Colette, uma escritora francesa, que procurava uma atriz para viver o papel principal na sua peça Gigi, que estrearia na Broadway. Colette encontrou em Audrey exatamente quem procurava.

A estreia de Audrey nos Estados Unidos foi um sucesso. Logo após o fim das apresentações da peça, Audrey conseguiu o papel principal no filme A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953). Pelo papel da Princesa Ann, Audrey levou três importantes prêmios de Melhor Atriz: o Oscar, o Globo de Ouro, e o BAFTA.

Audrey na peça Gigi (idem, 1953), e com telegramas de parabenização pelo Oscar recebido pelo seu trabalho em A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953)

Em 1954, foi a vez de Audrey estrelar o filme Sabrina. Se no seu primeiro filme em Hollywood, ela fez duas amizades que duraram toda a sua vida, com o diretor William Wyler e com o ator Gregory Peck, o mesmo não aconteceu no seu próximo trabalho. Humphrey Bogart, que interpreta o empresário Linus Larrabee, dizia que Audrey não sabia atuar. Quando lhe perguntaram sobre como era atuar com ela, ele respondeu que era ok, desde que você não se importasse em fazer 20 tentativas para gravar uma cena. Ele queria que Audrey fosse substituída por sua esposa, Lauren Bacall, o que quase aconteceu, já que o clima entre os dois nos bastidores era péssimo. As críticas de Bogart quanto à atuação de Audrey, contudo, não foram partilhadas pela crítica: o papel em Sabrina rendeu a ela indicações ao Oscar e ao BAFTA de melhor atriz.

Audrey em Cinderela em Paris (Funny Face, 1957) e em Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961)

Dois anos depois, foi a vez de Audrey mostrar que seu talento ia além das comédias românticas pelas quais ela ficou famosa e se tornou amada pelo público. Em 1956, ela estrelou ao lado de seu marido, Mel Ferrer, o filme Guerra e Paz (War and Peace, 1956). Por ele, ela recebeu 350 mil dólares, o maior pagamento de uma atriz até então. A alta quantia a deixou constrangida. Ela chegou a afirmar para seu empresário que ela não valia tudo isso. Entre 1957 e 1960, ela estrelou mais 5 filmes: Cinderela em Paris (Funny Face, 1957), Amor na Tarde (Love in the Afternoon, 1957), A Flor Que Não Morreu (Green Mansions, 1959), Uma Cruz À Beira do Abismo (The Nun’s Story, 1959) e O Passado Não Perdoa (The Unforgiven, 1960).

Ainda em 1960, três meses após o nascimento de Sean, seu primeiro filho, Audrey começou a trabalhar no filme que transformou a sua imagem em um ícone: Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961). O curioso é que a personagem Holly Golightly foi escrita por Truman Capote, autor do romance que deu origem ao roteiro, tendo Marilyn Monroe em mente. Na adaptação para o cinema, a intenção era mascarar a profissão de “dama da noite”, exercida por Holly, que fica clara no livro de Capote. Blake Edwards, o diretor do filme, sabia que, embora Marilyn Monroe fosse a preferida do autor para o papel, a profissão de Holly ficaria nitida assim que a loira entrasse em cena. Por isso, ele resolveu bancar a escalação de Audrey para o papel, mesmo contra a vontade de Capote. De início, ela chegou a recusar o convite: a personagem contrariava a imagem que o público tinha dela. Os produtores do filme tiveram muito trabalho para convencerem a Paramount, estúdio responsável pelo filme, e o marido dela de que Audrey era capaz de interpretar a personagem. Segundo o escritor Sam Wasson, autor do livro Quinta avenida, 5 da manhã. (editora Zahar), sobre os bastidores de Bonequinha de Luxo, até então as atrizes eram divididas em duas categorias: boas e más, Doris Day e Marilyn Monroe. De acordo com ele, a escalação de Audrey como Holly quebrou essa dicotomia reinante em Hollywood.

Após Bonequinha de Luxo, Audrey estrelou mais sete filmes: Infâmia (The Children’s Hour, 1961), Charada (Charade, 1963), Quando Paris Alucina (Paris – When It Sizzles, 1964), Minha Bela Dama (My Fair Lady, 1964), Como Roubar um Milhão de Dólares (How to Steal a Million, 1966), Um Caminho para Dois (Two for the Road, 1967) e Um Clarão nas Trevas (Wait Until Dark, 1967). No musical Minha Bela Dama, Audrey teve todas as suas músicas dubladas. Ela, que já havia cantando no também musical Cinderela em Paris, disse que, se soubesse que a intenção do produtor Jack L. Warner era substituir a sua voz, ela nunca teria aceitado o papel.

Em 1967, Audrey decidiu dar um tempo na sua carreira para dedicar-se a família, mudando-se com seu filho e marido para a Suiça. Um ano depois, ela separou-se de Mel Ferrer, e com Sean mudou-se novamente, dessa vez para a Itália. Em um cruzeiro pelas ilhas gregas, então, ela conheceu o psiquiatra italiano Luca Dotti, por quem se apaixonou e com quem se casou em 1969. Pouco mais de um ano depois, Audrey deu a luz a seu segundo filho, Luca.

Audrey com seus dois filhos, Luca Dotti e Sean Ferris

Apenas em 1975, com seus dois meninos frequentando a escola, Audrey se sentiu segura para deixar de atuar exclusivamente como mãe e voltou a fazer filmes. Entre 1976 e 1981, ela estrelou em três filmes: Robin e Marian (Maid Marian, 1976), A Herdeira (Bloodline, 1979) e Muito Riso e Muita Alegria (They All Laughed, 1981). Nenhum dos três teve grande destaque. No fim das filmagens de Muito Riso e Muita Alegria, Audrey conheceu o ator Robert Wolders. Os dois se apaixonaram e viveram juntos até a morte de Audrey.

Em 1988, Audrey começou a trabalhar como Embaixadora Internacional da Boa Vontade da UNICEF, órgão da ONU, no que ela considerou como o seu maior e mais importante papel. Tendo sofrido os horrores de uma guerra, Audrey viajou pelos cantos mais pobres e famintos do planeta, fazendo com que a sua imagem tão famosa ajudasse a chamar a atenção do mundo para as crianças que viviam em situações desumanas. Ao jornal inglês The Independent, ela negou que o seu trabalho humanitário fosse uma forma de quitar uma dívida pessoal que ela pudesse sentir ter com a ONU, órgão que trouxe alívio para a Holanda em que ela vivia após a Segunda Guerra Mundial. “É automático”, ela disse na ocasião. “É uma reação absolutamente instintiva. Se uma criança cai, você a pega. É simples assim. Não há nenhum grande mérito nisso”. Na mesma entrevista ao jornal, ela afirmou: “A obrigação humana é ajudar crianças que estão sofrendo. O resto é ostentação”.

Sua última missão humanitária pela UNICEF foi uma visita à Somália, em 1992. Ao fim da viagem, ela reclamou de dores no estômago. Eram sintomas do câncer que tirou a sua vida no ano seguinte.

Audrey em uma de suas missões humanitárias pela África como Embaixadora da Boa Vontade da UNICEF

Por Odhara Rodrigues
rodrigues.odhara@gmail.com

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