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Aurélio Miguel, o ícone dos tatames – parte 2

Por Rafael Paiva A primeira parte da história do judoca você lê aqui. Jogos Olímpicos de Seul (1988) A relação conturbada com Joaquim Mamede, a quem via como um presidente arrogante e autoritário, quase fez com que Aurélio Miguel não participasse da competição a qual consagraria de uma vez por todas a sua carreira. “Eu …

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Por Rafael Paiva

A primeira parte da história do judoca você lê aqui.

Aurélio conquista a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. (Imagem: Reprodução/Brasil2016)
Aurélio conquista a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos (Imagem: Reprodução/Brasil2016)

Jogos Olímpicos de Seul (1988)

A relação conturbada com Joaquim Mamede, a quem via como um presidente arrogante e autoritário, quase fez com que Aurélio Miguel não participasse da competição a qual consagraria de uma vez por todas a sua carreira. “Eu não aguentava mais ser cortado todo dia [em relação às ameaças constantes do dirigente]. Às vésperas do embarque pra Seul, uma semana antes, eu falei para o meu pai: ‘Eu vou me cortar. Não aguento mais!’. Meu pai pediu para que eu me acalmasse, pois ele [Mamede] não iria viajar e eu ficaria longe dele”, relembrou o campeão.

Nos primeiros contatos com os profissionais e o público presentes em Seul, Aurélio pôde sentir a atmosfera olímpica. “Eu nunca tinha visto tanta câmera na minha vida. O batuque feito pelos coreanos no dia em que fui lutar, algo que não era comum em minha modalidade, me impressionou um pouco. Fora que toda a atenção estava voltado para a luta que ocorria [naquele período, não existiam dois tatames, como acontece hoje em dia]”, citou o judoca.

A noite do dia 29 de setembro, que antecedeu a data dos embates de Aurélio, ficou marcada pela preocupação com o peso (limite de até 95kg), pelo estudo do chaveamento da competição e, por mais incrível que pareça, por uma partida de truco no qual o esportista brasileiro “profetizou” a sua conquista.

“Eu estava até que tranquilo e bastante confiante. Lembro que joguei a partida com o Zequinha Barbosa, o Adauto Domingues e, se não me engano, o Robson Caetano. Eu brinquei com eles dizendo que o hino brasileiro seria tocado no dia seguinte. Eu estava, na verdade, trabalhando o lado da confiança, pois ninguém ganha na véspera”, contou.

Embora a autoestima estivesse alta e as horas antecedentes não tenham sido tão horripilantes, o atleta paulistano sentiu a verdadeira pressão olímpica nos instantes anteriores ao primeiro confronto. “A luta era contra um inglês [Dennis Stewart], um atleta forte, mas que não trazia risco de projeção. Nos colocaram sentados em uma cadeira semelhante a essa [o vereador apontou para o móvel em que estava posicionado]. Eu comecei a ficar agitado porque a outra luta não terminava e passei a me levantar, enquanto que os organizadores pediam para que eu me sentasse. Na terceira vez em que me mandaram sentar, eu sai do local, fui a um corredor e, sem querer, descobri um exercício que alivia um pouco a tensão: comecei a gritar de dentro pra fora”, relembrou.

Na sequência do embate inicial, vencido por decisão dos juízes, Aurélio Miguel derrotou o islandês Bjarni Fridriksson, o italiano Juri Fazi, o tcheco Jiri Sosna e, por último, o alemão Marc Meiling.

Em meio à última, truncada e decisiva luta, o medalhista olímpico se recordou de um momento peculiar de sua preparação. “Antes de embarcar pra Seul, eu fiz todos os exames e os médicos falaram pra mim que eu estava com VO2 [variável fisiológica que reflete a capacidade aeróbica de uma pessoa] de maratonista e que eu não tivesse medo de cansar, pois se isso ocorresse o meu adversário estaria morto. Em determinado momento da luta, o alemão veio num ritmo forte, eu lembrei disso [fala dos médicos] e também acelerei. Quando chegou no quarto minuto, ele começou a cansar. Foi então que tirei a vantagem e consegui conquistar a tão sonhada medalha”, citou o judoca.

Minutos finais da decisão e comemoração (Vídeo: Reprodução/Youtube)

Conflitos com a Confederação e Jogos Olímpicos de Barcelona (1992)

Nem a conquista inédita da medalha de ouro nas Olimpíadas fez com que a convivência entre os atletas, sobretudo Aurélio, e o presidente da entidade máxima do esporte no Brasil ficasse mais harmoniosa.

“Depois de Seul, os dirigentes me cortaram das competições. Toda a seleção acabou se desligando em apoio ao que fizeram comigo e então começamos uma luta para moralizar o esporte e pra melhorar as condições dos atletas”, explicou o único brasileiro a conquistar a principal medalha em 1988.

Os sacrifícios e as lutas dos judocas deram resultados. Em 1992, devido à intervenção do Comitê Olímpico Brasileiro junto com o Ministério dos Esportes, os atletas conseguiram um novo tratado. A partir de então, mudanças em relação às seletivas e as despesas de viagens foram feitas e o retorno dos esportistas foi consolidado.

O tempo perdido com a ausência da delegação brasileira nas grandes competições foi extremamente prejudicial para a preparação de Aurélio direcionada às Olimpíadas de 1992. Apesar de obter resultados expressivos nas competições que disputara no ano e de ter mais experiência, a confiança de outrora não era a mesma.

Pra piorar a situação, logo no segundo embate da competição, o paulistano sentiu uma contusão. “Eu acabei sentindo meu ombro na luta contra o tcheco [Jiri Sosna]. Na hora, achei que era por falta de treinamento, mas, na verdade, eu tinha rompido um tendão. […] A minha ideia era tentar chegar até a semifinal e dar meu máximo naquela etapa, pois eu achava que não aguentaria disputar a final, caso passasse. Só que perdi para o húngaro [Antal Kovács] nas quartas e para o russo [Dmitri Sergeyev] na repescagem”, comentou o desportista.

Naquela edição do maior evento esportivo do planeta, algo que ficou eternizado na memória e, consequentemente, na carreira de Aurélio Miguel, foi o fato dele ter sido o responsável por carregar a bandeira do país na cerimônia de abertura.

“Eu fiquei meio engessado pela responsabilidade de levar a bandeira do meu país em plena cerimônia de abertura. Parecia um robozinho (risos).Para mim foi um momento fantástico. Até porque eu estava voltando para a cidade dos meus pais. Pena que eu não sei onde foi parar o meu agasalho e a correia que eu guardava”, recordou e lamentou o porta-bandeira brasileiro.

Mundiais e Jogos Olímpicos de Atlanta (1996)

Aurélio festeja a conquista da medalha de bronze em Atlanta (Imagem: Luludi/AE)
Aurélio festeja a conquista da medalha de bronze em Atlanta (Imagem: Luludi/AE)

Com apenas quatro meses de treinamento, após ficar nove meses parado devido à contusão que o impossibilitou de ir mais longe na competição de Barcelona, Aurélio Miguel conseguiu dar a volta por cima e chegou na final do Campeonato Mundial disputado na cidade de Hamilton, no Canadá, em 1993.

“Naquele mundial, eu ganhei do Sergeyev, derrotei um japonês e, na final, acabei perdendo pro húngaro [atual campeão olímpico na época], porque acabou o fôlego mesmo. Foi um momento de superação. Eu nem esperava que conseguiria aquele resultado. Talvez por não ter ido com a pressão da obrigatoriedade, eu tenha conseguido isso”, comentou o judoca.

Durantes os anos de 1994 e 1995, apesar dos bons resultados nos tatames nacionais e internacionais, alguns profissionais da comunicação passaram a questionar a idade de Aurélio. “Quando eu fui disputar as Olímpiadas de Atlanta, em 1996, determinados jornalistas me chamavam de vovôzinho e diziam que eu era um dos dinossauros”, relatou.

Nas trajetórias que marcaram as conquistas das medalhas de bronze, nas Olimpíadas de 1996 (contra o holandês Ben Sonnemans), e de prata, no Mundial disputado na cidade de Paris, em 1997, as lutas contra o polonês Pawel Nastula, na semifinal da primeira e na final da segunda, respectivamente, tiveram grande destaque.

“O Nastula era um competidor. Ele sabia jogar bem, ficava na retranca, esperava e deu resultado: conseguiu ser bicampeão mundial e campeão olímpico”, falou o esportista brasileiro sobre o judoca responsável por derrotá-lo, de forma extremamente contestável, nas duas competições citadas.

Aposentadoria

Depois de muitos anos competindo em alto nível e após uma série de contusões, Aurélio Miguel, um atleta marcado pela confiança e por sempre tomar as iniciativas durante as lutas, resolveu “pendurar o quimono” em 2001.

Atualmente, Aurélio, que foi indicado ao Hall da Fama do Judô, em 2013, é presidente da FUPE (Federação Universitária Paulista de Esportes) e está em seu terceiro mandato como vereador da capital paulista pelo Partido da República (PR).

Os campeões olímpicos Aurélio Miguel, Sarah Menezes e Rogério Sampaio (Imagem: Reprodução/Página Oficial do Atleta no Facebook)
Os campeões olímpicos Aurélio Miguel, Sarah Menezes e Rogério Sampaio (Imagem: Reprodução/Página Oficial do Atleta no Facebook)

Momentos olímpicos marcantes

Um atleta que disputou três edições do maior evento esportivo do mundo não poderia deixar de ter histórias interessantes acerca de suas experiências nas cerimônias e na Vila Olímpica.

Na cidade espanhola, Aurélio teve o privilégio de ver o treinamento de uma lenda do atletismo mundial. “Em Barcelona, eu e o [Wagner] Castropil [ex-judoca e atual médico] fomos perder peso numa pista que havia na Vila Olímpica e, de repente, entrou a equipe dos Estados Unidos. Na hora, eu falei pro Castropil, ‘vamos parar, porque olha a categoria dos caras” (risos). Foi então que nós começamos a observar. Que coisa linda era a técnica do Carl Lewis correndo. Parecia um cavalo puro sangue”, recordou o judoca.

Em 1996, na capital da Geórgia, uma situação deveras peculiar aconteceu. “Quando eu ganhei a medalha, pensei: “deixa eu ver o que ela tem de diferente da de Seul”. Uma vez que nelas vem escrito o esporte e a categoria. Foi então que eu reparei que me entregaram a medalha do feminino. No final das contas, acabei trocando com a judoca italiana”, explicou.

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