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Aurélio Miguel, o ícone dos tatames – parte 1

Por Rafael Paiva A história reserva a glória para aqueles que não caem nas armadilhas provocadas pelo medo e que conseguem superar as adversidades nas circunstâncias mais inesperadas. Para alcançar o topo da pirâmide no judô, o paulistano Aurélio Miguel teve que transpor inúmeras barreiras, as quais variaram desde a luta contra as doenças na …

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Por Rafael Paiva

A história reserva a glória para aqueles que não caem nas armadilhas provocadas pelo medo e que conseguem superar as adversidades nas circunstâncias mais inesperadas.

Aurélio Miguel e o canadense Joseph Meli nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis (Imagem: página oficial do atleta no Facebook)
Aurélio Miguel e o canadense Joseph Meli nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis (Imagem: página oficial do atleta no Facebook)

Para alcançar o topo da pirâmide no judô, o paulistano Aurélio Miguel teve que transpor inúmeras barreiras, as quais variaram desde a luta contra as doenças na infância até os embates contra os maiores judocas de seu tempo e dirigentes esportivos.

O início da trajetória do esportista nos tatames deu-se graças à fragilidade da sua saúde em seus primeiros anos de vida. “Um mês após o meu nascimento, eu tive uma broncopneumonia. Fui pro hospital, fiquei trinta dias hospitalizado, perdi dois quilos e quase vim a óbito. Os médicos falaram para os meus pais tomarem muito cuidado em relação a essa questão cardiorrespiratória e que quando eu tivesse uma idade propícia a iniciar atividades esportivas, que eles fizessem isso comigo. Desse modo, eu iniciei no São Paulo Futebol Clube, com quatro anos, natação e judô”, comentou Aurélio em entrevista ao Arquibancada.

Engana-se quem pensa que logo ao pisar nos tatames, o jovem se encantaria com o espírito da disputa. Em seus primeiros passos nessa arte marcial, só aceitava treinar com a sua irmã Suzana e temia a ação de encarar os adversários.

Tanto é que, quando tinha apenas seis anos, ao ter a oportunidade de disputar a sua primeira competição, o futuro campeão olímpico ficou atemorizado com o que vira. “Quando eu vi os garotos fazendo o Kiai, que é você usar a força interior pra potencializar uma entrada de golpe, eu me assustei e fui me esconder no vestiário. Ao saber que eu estava morrendo de medo e que não iria competir, meu pai me disse: ‘Não tem problema. Você faz o esporte pelo benefício que ele te traz. Você não faz o esporte pra competir, pra ser campeão, nada disso. O seu objetivo é o benefício da saúde’”, relembrou o judoca.

Com o passar dos anos, o receio dos confrontos foi se dissipando. Nos períodos da infância e da pré-adolescência, Aurélio teve a oportunidade de disputar e obter resultados expressivos nos campeonatos estaduais e nacionais. Aos quinze anos, fora convidado para treinar com os atletas da seleção olímpica pela primeira vez.

Aurélio com Walter Carmona e Luiz Shinohara, primeiro e segundo à direita, respectivamente (Imagem: Antônio Lúcio/AE)
Aurélio com Walter Carmona e Luiz Shinohara, primeiro e segundo à direita, respectivamente (Imagem: Antônio Lúcio/AE)

Primeiras competições internacionais

Após vencer na seletiva brasileira seu ídolo no período, o judoca Carlos Eduardo Motta (Tico), o medalhista olímpico teve a chance de disputar seu primeiro torneio internacional, o Campeonato Mundial Universitário, que ocorreu na Finlândia, em 1982. Mesmo não tendo conquistado medalha na ocasião, a experiência adquirida no evento foi de fundamental importância para que a confiança de Aurélio acerca de seu futuro no esporte ganhasse ainda mais força.

“Naquela época, as gerações anteriores traziam que eram um pouco difícil você vencer um japonês, um soviético, um coreano, mesmo com as medalhas do [Chiaki] Ishii e do Walter Carmona nos mundiais que disputaram. Então eu pensava que iria encontrar dragões de sete cabeças, que nós [equipe brasileira] enfrentaríamos o Gulliver enquanto éramos os pequenos. Chegando lá, percebi que os europeus eram altos, fortes, mas pertenciam ao mesmo limite de peso e não eram de outro planeta. […] Ali eu vi que não estava longe deles e que tecnicamente o judô brasileiro estava muito evoluído”, recordou o judoca.

Na sequência, ainda no mesmo ano, Aurélio Miguel conseguiu a proeza de ser campeão do Pan-Americano entre os adultos logo em sua primeira participação e disputou a tradicional Copa Jigoro Kano no Japão, na qual pôde adquirir uma considerável bagagem ao enfrentar campeões mundiais e olímpicos.

Eis que o ano de 1983 chegou e Aurélio tornou-se campeão de um torneio que até hoje recorda com muito carinho. Depois de derrotar esportistas da Coreia do Sul, da União Soviética, do Canadá, da Argentina e, por último, do Japão, o ícone do esporte brasileiro obteve a medalha dourada na final do Mundial Júnior, disputado em Porto Rico.

Embora o resultado no tatame tenha sido espetacular, alguns fatos marcaram negativamente aquele campeonato. De início, no dia anterior à disputa, não havia a bandeira do Brasil no local – fato corrigido na data das lutas. A situação mais constrangedora, entretanto, aconteceu na hora da premiação: os organizadores não tinham o hino nacional brasileiro e, para que o atleta não se recusasse a receber a medalha no pódio, sugeriram algo inusitado.

“Quando eu ganhei, [os organizadores] falaram pra mim que não tinham o hino brasileiro e que tocariam o hino olímpico. Eu respondi que não, pois tinham tocado os hinos de Cuba, do Japão, da França e eu queria escutar o brasileiro. Caso contrário, não subiria no pódio. Depois de um tempo, eles vieram com a ideia dos atletas da nossa delegação, no microfone, cantarem o hino e me perguntaram se assim eu aceitaria. Desse modo, eu aceitei”, mencionou Aurélio.

Os meses que sucederam ao título conquistado em Porto Rico e ao vice-campeonato no Pan-Americano do mesmo ano deram uma freada na ascensão da carreira de Aurélio Miguel. Por equívocos cometidos por membros da Confederação Brasileira de Judô em relação ao visto de entrada no país, a delegação brasileira não pôde disputar o Campeonato Mundial que aconteceria em Moscou.

A pior notícia, contudo, veio nos meses seguintes. Após um período de treinamento no Japão, Aurélio teve um desentendimento – dos muitos que viriam pela frente no futuro – com o presidente da entidade máxima do esporte no Brasil, Joaquim Mamede, e acabou sendo cortado, em sua categoria, dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

Em seguida ao momento de frustração, o esportista, por intermédio de um convite feito pelo presidente da Federação Internacional de Judô à época, Shigeyoshi Matsumae, seguiu em direção à Universidade de Tokai, no Japão, para passar alguns meses treinando com os melhores judocas do planeta.

Ao entrar em contato com uma série de lutadores europeus que treinavam no estabelecimento, Aurélio percebeu que tinha uma combinação de competições na Europa a qual os brasileiros desconheciam no período. Com o auxílio da Federação Internacional, o judoca enviou telegramas para as federações de vários países do Velho Continente para que pudesse participar desses torneios.

Desse modo, iniciou-se a consagrada trajetória do brasileiro nos solos europeus. Nos dias que se sucederam, o paulistano conseguiu medalhas em todas as competições que disputou. Ademais, teve a oportunidade de conhecer a fundo os rivais que encontraria ao longo da carreira graças a uma característica peculiar do local: todos os atletas faziam um treinamento de campo depois dos torneios.

No retorno ao Brasil, Aurélio ainda teve a oportunidade de disputar uma seletiva brasileira para a vaga da categoria “absoluto”, nos Jogos Olímpicos de 1984. Apesar de conseguir vencê-la, o atleta fora impedido de competir.

Consolidação dentre os melhores

Entre os anos de 1985 e 1986, Aurélio obteve resultados importantíssimos, os quais fizeram com que se consolidasse cada vez mais entre os melhores de sua categoria: foi vice-campeão da Universíada (Jogos Mundiais Universitários) contra o então campeão olímpico, o coreâno Ha Hyung-zoo e obteve medalhas em torneios no Japão, nos Estados Unidos e na Europa.

Uma lesão séria no ombro, no entanto, fez com que o judoca temesse não poder praticar o esporte em alto nível. Fato que não se confirmou no ano seguinte, haja vista que foi campeão dos Jogos Pan-Americanos em Indianápolis e medalhista de bronze no Campeonato Mundial de Essen – mesmo com toda a insegurança do momento.

Com o ego massageado e uma melhor preparação, nos meses que precederam os Jogos Olímpicos de Seul, o ícone paulistano se destacou nos campeonatos que disputou. “Participei de seis competições na Europa, conquistei quatro medalhas de ouro e duas de prata; venci o Pan-Americano, um novo torneio na Áustria, fiz dois estágios no Japão e, assim, fui pra disputar as Olimpíadas como cabeça de chave”, citou Aurélio.

Na sequência, seria o momento do brasileiro, enfim, brilhar nos Jogos Olímpicos.

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