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46ª Mostra Internacional de SP | ‘Belas Criaturas’

Quando todos os problemas parecem sufocar você, onde encontrar a beleza?

“Um por todos e todos por um!”. Esse lema, muito presenciado em filmes teens americanos, onde a história se desenrola ao redor de um grupo de crianças ou adolescentes salvadores, é usado para reforçar a lealdade. Só que dessa vez, a frase não é de uma equipe de escoteiros, clube de crianças investigadoras, time de futebol, patrulha ou algum grupo pronto para resolver uma missão ou barrar algum vilão em ativa. Pelo contrário. Em Belas Criaturas (Berdreymi, 2022), o grupo da vez é uma gangue — bem diferente de um grupo salvador —, que mostra, na prática, o lema “um por todos e todos por um”. 

Para os três amigos, Siggi (Snorri Rafn Frímannsson), Addi (Birgir Dagur Bjarkason) e Konni (Viktor Benóný Benediktsson), a amizade é muito importante. Adolescentes encrenqueiros, os membros da gangue de uma pequena cidade na Islândia passam por difíceis dramas familiares e encontram uns nos outros o apoio para superar suas dificuldades.

Para Balli (Áskell Einar Pálmason), esse apoio está prestes a começar. Vítima de bullying na escola, ele é constantemente perseguido e maltratado por todos. E em casa, não é diferente. Sem afeto de sua mãe, única familiar mais presente em sua vida, ele segue sem ajuda, comida e estrutura para viver. Jogado à mercê, Balli busca nas lâminas, o seu refúgio, refúgio esse que muda quando seu caminho cruza com a gangue dos três amigos.

Acolhido pelos novos amigos, em especial por Addi, que se solidariza com a aflição de Balli, o menino passa a seguir os passos deles e a entrar nas violentas furadas que eles se metem. 

Embora sejam violentos, as brigas causadas pelos três garotos é só uma forma de colocar para fora, o medo que sentem por dentro. Apesar de serem diferentes, todos têm uma característica em comum: a ausência paterna. E cada um lida com essa ausência de uma forma isolada.

Konni, líder da gangue, sofre com agressões do pai e isso reflete na sua personalidade: é o mais violento e impulsivo de todos, sempre o responsável pelas confusões. Siggi, sem uma boa referência de paternidade, é facilmente manipulado. Já Addi, que não supera a separação dos pais, é o mais passivo, que sempre tenta acalmar a gangue e evitar o pior.  E agora Balli, com um passado cheio de traumas. Isso é o que une todos, a rejeição familiar.

Mesmo sendo causadores de confusões, esses quatro meninos são belas criaturas que mostram, na parceria que possuem, o que há de mais belo dentro de si: o amor e o cuidado. Em meio ao uso precoce de drogas, conversas maliciosas sobre sexo e brigas, a forma inocente como externalionalizam o amor e se protegem evidencia o quanto eles querem ser acolhidos. E aqui há um ponto positivo para o diretor em normalizar o afeto, abraço e demonstrações de carinho entre colegas do sexo masculino sem uma conotação sexual ou homossexual. São garotos com potencial único de mudar suas vidas, mas que são sufocados pelos problemas que os rodeiam.

Com diversos temas abordados, como problemas familiares, drogas, violência, abusos e bullying, o filme mostra que todo complexo tem uma raiz, a qual pode ser muito amarga e dolorosa. Mas que a solução também pode estar no acolhimento e pertencimento e, como se sentir importante, é necessário para todo ser humano. 

Isso fica claro quando Addi, Siggi, Konni e Balli acham, diante das conturbações e angústias, tempo para rir, se divertir e se ajudar. Juntos para o que der e vier, o vínculo deles é tão forte que ultrapassa os limites e desemboca em um desfecho triste, mas que mesmo assim, não apaga a conexão que todos têm. 

Cena do filme 'Belas Criaturas'.
Konni, Addi e Siggi respectivamente. [Imagem: Divulgação/Motion Pictures]

Com duas horas de duração, o filme é uma excelente produção para quem deseja explorar diferentes perspectivas. Criativo, o diretor Guðmundur Arnar Guðmundsson recebeu elogios da crítica ao explorar, pela segunda vez, temas da juventude e mesclar cenas leves e pesadas, mostrando que é possível encontrar beleza mesmo nos dias mais sombrios. 

Exibido no Festival de Berlim, Belas Criaturas apresenta um panorama diferente de adolescentes maltratados que querem ser belos e vai além do que meros dramas familiares: revela como a família pode ser importante para a formação de um indivíduo na sociedade.

Nota do cinéfilos: ótimo - 4,5

O filme estreou na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Confira o trailer:

*Imagem de Capa: Divulgação/Motion Pictures

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