Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Bowie? Qual Bowie?

David Bowie foi uma das figuras mais importantes da música do século XX: sua longa carreira – interrompida por sua morte no começo deste ano – durou mais de cinquenta anos e rendeu 26 álbuns de estúdio. Sua influência, no entanto, foi muito além do universo musical: a dedicação de Bowie em tornar sua arte …

Bowie? Qual Bowie? Leia mais »

David Bowie foi uma das figuras mais importantes da música do século XX: sua longa carreira – interrompida por sua morte no começo deste ano – durou mais de cinquenta anos e rendeu 26 álbuns de estúdio. Sua influência, no entanto, foi muito além do universo musical: a dedicação de Bowie em tornar sua arte completa pelo uso inovador dos meios audiovisuais lhe rendeu o status inabalável de ícone da cultura pop. Sua caracterização na capa de Aladdin Sane (1973), com um raio azul e vermelho no rosto e cabelos ruivos, foi incessantemente copiada e referenciada em inúmeros filmes, e é a primeira imagem que vêm a nossa cabeça quando pensamos em Bowie.

Mas seria possível atrelar uma única imagem a David Bowie? Ao longo de sua atividade no meio artístico, ele assumiu diversas personas: seu som estava em constante mudança, e esta se refletia em todas as partes de sua apresentação na esfera pública – roupas, cabelo, atitude – hábito que lhe rendeu o apelido de “o camaleão do rock”. Há quem diga que até as fases mais tardias e menos dramáticas de Bowie contêm personas.

A primeira banda de Bowie foi formada em 1962, quando ele tinha quinze anos. Na época, seu visual – e sua música, um típico rock and roll dos anos 60 – estava bem alinhado à moda do período. Esse estilo mais “normal” perdurou até seu primeiro álbum, lançado em 1967.bowieer

“Space Oddity”, um de seus hits de maior sucesso até hoje, foi um ponto de virada importante para sua identidade artística. Seu som passou a ter a aura futurística que perdurou por toda sua carreira, e seu visual também começou a fugir (mesmo que de forma sutil,em comparação com o que estava por vir) do comum.

The man who sold the world

A primeira grande mudança veio no álbum seguinte, The Man Who Sold the World (1970): aí surgiu a primeira identidade audiovisual que pode propriamente ser chamada de persona. O terceiro disco de Bowie é reconhecido por críticos musicais como a gênese do glam rock, e sua capa explora a androginia do artista, que usa um vestido e cabelos longos, num visual inspirado em uma pintura pré-rafaelita de Dante Gabriel Rossetti. Tal estética se intensificou durante a promoção de Hunky Dory (1971).

bowie2

Ziggy played guitar…

Sua persona mais icônica veio, contudo, em seu quinto disco, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars (1972). Ziggy Stardust era uma personagem completa: além de ter sua própria (e complexa) identidade visual e performática, ele tinha uma história de vida – que Bowie explicou em maiores detalhes numa entrevista à David Burroughs para a Rolling Stone:

Faltam cinco anos para o fim da Terra. Foi anunciado que o mundo vai acabar devido à falta de recursos naturais. Ziggy está numa posição onde todos os jovens tem acesso à tudo que elas achavam que queriam. As pessoas mais velhas perderam contato com a realidade e os jovens ficaram sozinhos para roubar o que eles bem entendessem. Ziggy era parte de uma banda de rock, mas as crianças não queriam mais rock. Não existe eletricidade para tocar. O conselheiro de Ziggy lhe diz para colecionar notícias e transformá-las em música, porque não existem mais notícias.

O fim chega quando os infinitos chegam à Terra, que são, na verdade, um buraco negro. Eu só os transformei em pessoas porque é mais fácil representar isso no palco…

bowieziggy

“Starman” seria uma música que esses “infinitos” teriam o feito compor, e representariam a primeira notícia esperançosa nesse cenário quase apocalíptico no qual Ziggy se encontra. Ele, então, se tornaria um tipo de profeta para essa geração; mas acabaria por ser destruído no palco – daí a última faixa do álbum, Rock n’ Roll Suicide – pelos “infinitos”, para que estes pudessem se tornar visíveis. Não surpreende que o álbum tenha sido responsável por injetar uma via especialmente dramática – até então inédita – ao rock.

aladdin

Seu álbum seguinte, Aladdin Sane (1973), foi definido pelo próprio artista como “Ziggy vai à América” e se tratou de um novo, apesar de menos elaborado, capítulo da história da personagem. Ziggy Stardust tornou-se algo tão imenso que o limite entre David e Ziggy passou a não existir – assim, no show final da tour de promoção do álbum, em 3 de julho de 1973, Bowie declarou que aquele seria o último show que ele e sua banda fariam. O mundo da música ficou histérico até perceber que quem estava se aposentando era Ziggy Stardust, e não David Bowie.

Durante a tour de Diamond Dogs (1974), Bowie adotou a imagem que denominou “Halloweeen Jack”, um “cool cat”, nas palavras do artista, que vivia numa cidade decadente chamada Hunger City. Esta fase é tida como a última que Bowie dedicou ao glam rock.

bowie3

The return of the Thin White Duke…

A próxima grande – e mais controversa – personagem da carreira de Bowie surgiria em Station to Station (1976): o Thin White Duke, ou “duque branco magro”. Com cabelos descoloridos com gel, calça social, camisa branca e colete – um visual “neocabaret” – o Duque era o estereótipo do homem vaidoso e vazio, um aristocrata maluco e amoral que flertava até mesmo com o fascismo – em entrevistas dadas in character em 1975 e 1976, Bowie disse que Hitler teria sido “o primeiro rock star”. Anos depois, Bowie se referiu a seus anos como Thin White Duke como os mais sombrios de sua carreira, culpando seu vício astronômico em cocaína por suas atitudes polêmicas na época.

thin

Major Tom

Apesar de não ter uma identidade visual concisa, o Major Tom é um personagem que figura em diversas eras da música de Bowie: sua primeira aparição foi em Space Oddity, e ele retornou nas faixas Ashes to Ashes (1980) e Hello Spaceboy (1995) e há quem diga que o astronauta morto que aparece no vídeo de seu último single, Blackstar (2016), é o próprio.

majortom

 

O Bowie da 4ª arte

Duas encarnações importantes de Bowie foram mais ligadas a sua carreira cinematográfica: a primeira, um (outro) alienígena que chega à Terra em busca de água para seu planeta em O homem que caiu na Terra (1976). Uma captura do filme foi usada como capa do primeiro disco de sua “trilogia de Berlim”, Low (1976).

manwho

A segunda foi Jareth, o mítico Rei Goblin de Labirinto (1986), filme responsável por introduzi-lo a toda uma nova geração de crianças e jovens.

bowie4

Here I am, not quite dying / Look up here, I’m in heaven

Seus últimos anos – simbolizados pelos álbuns The Next Day (2013) e Blackstar (2016) – são interpretados por alguns como Bowie em um estado “metalinguístico”, colocando um fim artístico à narrativa de sua própria vida.

bowiethenext

A capa de The Next Day ser uma releitura da de Heroes (1977) e o clipe agonizante de Lazarus seriam “provas” dessa visão.  Despido de personas para se transformar, de certa forma, em uma.

bowie5

Por Bárbara Reis
barbara.rrreis@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima