A série Brooklyn Nine-Nine, dos criadores Michael Schur e Daniel Joshua Goor, teve início em 2013 e já possui seis temporadas. A sitcom retrata uma delegacia no Brooklyn, Nova York, e explora as situações cômicas vivenciadas no trabalho. A série conta com sete personagens principais, Amy Santiago(Melissa Fumero), Charles Boyle (Joe Lo Truglio), Gina Linetti (Chelsea Peretti), Jake Peralta (Andy Samberg), Raymond Holt (Andre Braugher), Rosa Diaz (Stephanie Beatriz) e Terry Jeffords (Terry Crews), além dos personagens secundários que compõem a história, como os detetives Scully (Joel McKinnon Miller) e Hitchcock (Dirk Blocker) ou Kevin (Marc Evan Jackson)- marido do capitão Holt.
Por mais que se trate de uma comédia, o seriado também aborda temáticas sociais de forma excelente. No começo da série, o engajamento sobre tais temas aparece com Raymond Holt ao assumir o cargo de novo capitão da delegacia. Em toda sua carreira, ele foi considerado um bom profissional com ampla possibilidade de ascensão, se não fosse negro e homossexual. Em uma sociedade do século XXI, com preconceitos estruturais tão enraizados, Holt sofre para alcançar o cargo de capitão, tido como seu sonho profissional. Seu estilo sério – que o faz engraçado – foi utilizado em sua vida para que os preconceitos não afetassem a luta pelos seus sonhos. O mais singular em relação ao tema é que Brooklyn Nine-Nine expõe discriminação e desigualdade de forma não cansativa ao público, mesclando bom humor no decorrer dos episódios.
O tom crítico se expande na quarta temporada, no episódio Moo Moo, em que o sargento Terry Jeffords é abordado por um policial branco por estar à procura de um objeto de sua filha. O que revolta o sargento é o fato de o policial não deixá-lo falar, até descobrir sua profissão. O policial, então, se desculpa com Terry por serem colegas de profissão, e ainda complementa: “Nove, entre dez chamados recebidos, são sobre gente como você”.
O ocorrido transpõe o mundo televisivo e evidencia um acontecimento comum na vida da população negra que deve se preocupar não só com os perigos do cotidianos, mas com abordagens policiais abusivas. Infelizmente, os indivíduos que são abordados e não possuem a profissão de policial – reflexão que Terry faz, que menciona suas filhas – tendem a ter um resultado diferente. Brooklyn Nine-Nine denota ao telespectador uma forte crítica em relação ao racismo estrutural na sociedade norte-americana.
Por mais que carregue essa análise pesada e uma alta carga emocional, a série não se afasta da sua função principal: a comédia. Nesse mesmo episódio, os policiais Amy Santiago e Jake Peralta são cômicos por não saberem abordar temas como racismo e orgasmo às filhas de Terry.
O episódio é um ótimo retrato de como Brooklyn Nine-Nine consegue abordar assuntos pertinentes a nossa sociedade sem deixar de entreter seu público, o que a diferencia das demais sitcoms.
Há uma desconstrução de estereótipos que acentua o divertimento das temporadas. Diferentemente das demais séries policiais, em Brooklyn Nine-Nine, os homens não estão interessados em preservar seus sentimentos ou externalizar uma extrema masculinidade. Por outro lado, as mulheres também ganham destaque nessa desconstrução. A competitividade feminina, muito retratada em outros seriados, ganha um processo inverso: as mulheres do esquadrão são unidas e se ajudam, como dito pela detetive Diaz, “nós trabalhamos em um delegacia cheia de caras. Nós precisamos cuidar uma da outra, ok?”.
Esse novo olhar trazido contribui para uma reflexão do público em relação a estereótipos sociais, tão batidos e arcaicos, sobre como devem ser o comportamento masculino ou feminino. O destaque de Brooklyn Nine-Nine é notório e justo, em que a série transpõe as características comuns presentes em sitcoms e firma seu lugar com um ótimo humor e excelentes críticas.
A série exige um telespectador ativo que, além de se divertir, possa refletir sobre os preconceitos enraizados na atual sociedade e estereótipos. O público se debruça ao maratonar o seriado com a certeza que estará diante de uma série cômica e, ao mesmo tempo, crítica. Entre risos e reflexões, o seriado desponta como um dos melhores da atualidade devido a inovação muito bem feita no âmbito das sitcoms.
Caralho, quem é esse Gabriel Guerra? MALUCO É BRABO