Soraya Vieira Thronicke tem 49 anos, é nascida em Mato Grosso do Sul e lá se elegeu senadora em 2018, em sua primeira corrida eleitoral. Advogada de empresária, tem boa relação com a senadora e também candidata Simone Tebet (MDB), a qual foi sua professora no curso de Direito do Centro Universitário de Campo Grande (UNAES). Ela também tem MBA em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.
A senadora entrou para a vida política no início da década passada, inicialmente organizando manifestações anti-corrupção, anti-petismo e pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em 2018, além de concorrer ao Senado, apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro (até então no extinto PSL). Soraya é tida como uma candidata de centro-direita ou direita, e concorre pela primeira vez à presidência da república, após o presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), desistir da candidatura para tentar sua reeleição enquanto deputado federal, com o apoio do PT. Ela participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 em 2021, na bancada feminina, e é hoje titular de comissões importantes, como a CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania), o CDHC (Conselho da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara), e a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News.
Na noite de 7 de setembro, Dia do bicentenário da Independência, a sede do União Brasil (fusão entre os antigos Democratas e Partido Social Liberal) em São Paulo, localizada na Avenida Brasil, recebeu a senadora candidata à presidência da República, Soraya Thronicke (União Brasil). Em bate-papo promovido com jovens da periferia da capital e da juventude do partido, ela foi questionada sobre temas como engajamento político, corrupção, economia, tributação, saúde, segurança pública, intolerância política e relação com o presidente Jair Bolsonaro (PL), e escutou as principais reclamações dos cerca de 25 jovens presentes.
A seguir, o que foi dito sobre os assuntos e as entrevistas realizadas pela J.Press com Soraya Thronicke e Gilvania Medeiros (União Brasil), candidata a deputada estadual:
Engajamento político
A senadora chegou cerca de uma hora após o horário marcado, das 18 horas. Até então, o evento vinha sendo conduzido por Gilvania Medeiros (União Brasil), e por Marcos Cintra (União Brasil), vice da presidenciável. Soraya, então, perguntou aos jovens presentes, de diferentes classes sociais e realidades sócio-econômicas, quantos deles tinham a pretensão de seguir carreira política e quantos eram filiados a algum partido ou juventude partidária. Para ambas as respostas, pouco mais de um quinto dos presentes levantou as mãos. Soraya, então, contou que decidiu entrar para a política em meio às manifestações de 2013, quando constatou que para haver mudanças ela mesma teria de se movimentar: “Eu tinha pavor de política. Mas me convidaram para disputar a eleição, eu ia ter mais voz. E eu entendi que se eu não tivesse uma caneta na mão, de nada iria adiantar”.
Relação e rompimento com Jair Bolsonaro
Questionada por Talita Santos (28), que liderou o grupo de jovens da periferia (em maioria, da Zona Sul paulistana) na conversa e pelo jovem Arthur, a senadora também explicou sua relação com o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiado por ela em sua candidatura anterior: “Já em 2016 eu conheci o Jair Bolsonaro. E, nós, dos movimentos de rua, inclusive o Major Olímpio (muito elogiado por Soraya durante o evento), decidimos que queríamos eleger alguém para tirar o poder do PT. Nós levantamos as bandeiras do combate à corrupção e principalmente da economia”.
No que diz respeito à economia, Soraya explicou o que defendia: “A gente perde os nossos jovens para outros países, porque lá eles conseguem prosperar. Aqui, você rala e não consegue nada. Eu morei nos Estados Unidos, sempre gostei de fazer essas comparações e estudei que a diferença era a economia liberal. Aqui, nós temos poucos bancos e companhias aéreas, tem pouca competitividade, é difícil empreender. E o Bolsonaro abraçou essas bandeiras conosco. Acreditamos que ele concretizaria essa bandeira.”
A seguir, a candidata falou da decepção com o atual presidente, hoje muito criticado por ela e por muitos dos que o apoiaram na eleição passada: “Qual não foi a nossa surpresa, passamos a perceber em 2019 que Bolsonaro tinha abandonado essas bandeiras. Começamos a nos decepcionar. Muitas pessoas me chamam de traidora, mas acusam-me do que fazem. Nós temos que ter fidelidade aos homens, mas principalmente aos princípios. O homem pode errar, o Bolsonaro tem o direito de errar, mas nos sentimos traídos e gostaríamos que ele tivesse se arrependido”. Soraya completou mencionando o embate que teve com o senador Flávio Bolsonaro após o Debate do Grupo Bandeirantes, quando classificou os bolsonaristas como “traidores da pátria”.
Corrupção na política
A seguir, Micael (28), confessou à candidata do União Brasil seu desejo por entrar na vida política, mas disse não acreditar na honestidade do meio. Em resposta a esse questionamento, Soraya alertou: “A gente não pode generalizar nunca, tem gente boa em qualquer lugar. Em outros países, fazer faculdade de ciências políticas é algo muito honroso. Aqui no Brasil ficou algo pejorativo. Mas não tem como fazer nada na vida sem a política”, explicou.
Embora Soraya não seja investigada por casos de corrupção, é importante ter em vista que uma semana antes do evento, o Estadão publicou uma matéria indicando o uso de mais de 95 milhões de reais pela presidenciável em emendas do chamado orçamento secreto, ao qual Soraya fez duras críticas. Mara Gabrilli (MDB), candidata a vice da chapa de Simone Tebet (MDB) também teria se valido dos recursos para suas emendas parlamentares.
No debate realizado por SBT, CNN Brasil, Estadão, Nova Brasil, Terra e Veja no dia 24, porém, tanto Soraya como Simone se defenderam das acusações feitas por Jair Bolsonaro, que afirmou que ambas haviam votado a favor da derrubada do veto ao orçamento secreto. A candidata do União Brasil afirmou, ainda, que todas as suas emendas foram destinadas ao benefício do Mato Grosso do Sul, e negou que as indicações tenham sido secretas. O orçamento secreto consiste, em suma, na liberação de verbas federais para deputados e parlamentares sem que haja transparência, e tornou-se um dos maiores escândalos do governo Jair Bolsonaro desde 2020.
Além disso, tanto Soraya como Gilvania repetiram o discurso de que a carreira política não é e nem deve ser uma profissão, mas sim algo a que alguém se dedica por um espaço de tempo de sua vida. “A pessoa que, de quatro em quatro anos, tem que dar um jeito de preservar o seu emprego, está muito mais suscetível a se corromper”, disse Soraya.
Segurança pública nas comunidades
No restante do encontro, os jovens debateram sobre temas como educação e segurança pública para os mais pobres, abordando a ação policial nas comunidades, e a candidata deu sua visão sobre uma das facetas do assunto: “O Major Olímpio tinha uma proposta de fazer condomínios fechados para os profissionais da segurança pública, porque o filho do policial não pode brincar na pracinha, porque ele é perseguido. Nem a segurança pública se sente segura nesse país. As pessoas estão se sentindo inseguras”. Defendendo o discurso de que a economia é o fator principal para essa insegurança, Soraya comentou que o dinheiro que o país arrecada é mal investido e que a segurança pública é mal gerida.
A candidata Gilvania Medeiros completou a fala de Soraya e falou sobre a insegurança dentro das comunidades: “A comunidade também não está segura! O Estado também está deixando de atender à comunidade. E, às vezes, na sua situação de necessidade pontual, o crime organizado acaba sendo o herói da comunidade. O policial que vai entrar lá não está preparado, no sentido de que o salário do profissional de segurança pública é muito baixo, e muitas vezes existe abuso de poder”, explicou, defendendo o uso da câmera no uniforme pelos agentes. Arthur Novaes, estudante de 17 anos, completou essa ideia, e falou da ação do crime organizado como causadora de uma “falsa sensação de segurança” nas comunidades, uma vez que o Estado se ausenta de suas atribuições.
Intolerância política
No debate, houve convergências e divergências de ideias, sobretudo no que dizia respeito à atuação da polícia nas comunidades.
Um jovem deu sua visão sobre o assunto, de forma empática aos policiais: “Muitas vezes quando o policial para alguém no meio da comunidade ele vai ser truculento, porque os caras das biqueiras têm armas melhores que as dos policiais. A vida do policial não é fácil. Eu sou negro, tenho meu carro, consegui tudo o que eu tenho pelo meu esforço, sem ajuda de ninguém, e só fui parado uma vez pela polícia morando do lado da comunidade [a seguir, ele explicou o acontecimento, e deu razão aos policiais]. Mas você vê a diferença de quando o profissional tem o preparo para estar atuando com pessoas na rua”, afirmou.
A seguir, outra jovem se manifestou, em uma direção diferente: “O policial recebe o mesmo treinamento, o mesmo. É igual à política, a corrupção corrompe muitos. A gente da favela da Pipoca se reúne, e o que a gente quer é câmera no policial! Defende o direito do policial e também, se o criminoso é criminoso, está ali a prova”, completou.
Sobre discussões como essa, Soraya relembrou uma briga de família envolvendo política e frisou: “Discutir política tem que ter conhecimento e tem que ter respeito. Hoje em dia isso se perdeu. Aqui pode ter pessoas que são totalmente contra o que a gente pensa, e essas pessoas não vão ser barradas aqui. Tem gente que não é bolsonarista, nesse momento, com medo de andar de verde e amarelo na rua. Respeito e estudo em primeiro lugar!”, completou.
Demais tópicos comentados, como educação, tributação, economia e saúde, foram temas de conversas, mas sem fugir ao que propõe o plano de governo de Soraya Thronicke ou gerar grandes debates.
Entrevistas
Soraya Thronicke
Tanto a senadora Soraya Thronicke (União Brasil), como Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB) geraram uma repercussão positiva com parte do público após o primeiro debate presidencial, realizado pelo Grupo Bandeirantes no dia 28 de agosto. Isso não ocasionou, porém, mudanças significativas no cenário apontado pelas pesquisas. O chamado voto útil em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou em Jair Bolsonaro (PL) ainda parece ser a preferência da maioria dos eleitores diante de um cenário polarizado.
Em conversa à Jornalismo Júnior após o evento, Soraya foi indagada sobre essa questão e sobre o paternalismo e o populismo marcantes nas eleições brasileiras. Ela defendeu que os eleitores votem nos candidatos de sua preferência no primeiro turno. “Faço tudo o que eu posso para conseguir despertar as pessoas para esse problema tão grave que nós estamos vivendo. É um momento em que estamos vivendo essa polarização, as pessoas sem esperanças, achando que não existe uma saída. Eu estou fazendo o que eu posso, o que a Lei me permite, o que a vida me trouxe de oportunidade para falar com o maior número possível de pessoas e tocar o coração dessas pessoas. E ao mesmo tempo, dar um chacoalhão. Agora, mais do que isso, eu não consigo.”
“Está pesado, está muito sério. No primeiro turno, você tem que fazer o seu voto. Vai ter segundo turno. Que vai ter, vai ter. Mas nós precisamos, no primeiro turno, votar em quem nós acreditamos. Depois, você escolhe o menos pior, infelizmente”.
Gilvania Medeiros
A seguir, foi a vez da candidata a deputada Gilvania Medeiros (União Brasil) conversar à J.Press. Ela foi questionada sobre um projeto citado durante a roda de conversa, que dizia respeito às ações de amparo na Cracolândia. Gilvania, que é jornalista e atua em projetos sociais, admitiu que o cenário atual precisa de soluções.
“Quando se fala de Cracolândia, se fala também de segurança pública, de saúde pública, e de questões sociais, de assistência social. Quando você trata um drogadicto, você tira ele da rua, você protege as pessoas no sentido da segurança. Quando você dá o tratamento para ele você está atingindo saúde pública. E quando você faz o acolhimento da família, você está falando de ação social”, explicou.
A candidata também ressaltou o fato de que, muitas vezes, a família do usuário é co-dependente, pois financia a droga para ter sossego e acaba deixando o drogadicto levar alguma coisa de casa. Por isso, ela crê que o tópico envolvendo a cracolândia e a retirada das pessoas da rua envolve saúde, educação, assistência social e segurança, atreladas.
Quanto às ações que pretende tomar, Gilvania disse que a conscientização não basta: “É dentro disso que eu quero atuar: não só conscientizando, porque é um paliativo. Mas trazendo títulos de utilidade pública para introduzir na sociedade as instituições marginalizadas. Quando você capacita essas instituições para receber o drogadicto, você está saneando de fato um problema de saúde pública, mental, e de todas as pastas envolvidas.”
Durante o bate-papo, Talita Santos comentou que muitos usuários são levados para hospitais e despejados de volta nas ruas após um período de tratamento. Indagada pela reportagem da Jornalismo Júnior sobre essa questão, Gilvania reiterou que sua proposta pretende impedir isso: “Quando você fala de internação compulsória, eu sou a favor, mas não que você leve um drogadicto para um hospital. O hospital é o primeiro atendimento caso ele esteja machucado. Mas quando você fala de abstinência, ele precisa estar num local adequado para que quando a crise de abstinência passar, ele tenha um tratamento adequado. Então, as comunidades terapêuticas capacitadas podem, de fato, acolher esse assistido. Assim, oitenta por cento a gente acaba [com a questão da Cracolândia]”, completou.