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Carros autônomos: em que direção estamos indo?

Saiba mais sobre os carros autônomos, os veículos de um futuro mais próximo do que muitos imaginam. Por João Pedro Malar (joaopedromalar@gmail.com) Há mais de 100 anos, quando o famoso modelo de carro Ford T foi lançado, a ideia de um automóvel que se movesse sem um motorista era algo inimaginável. Hoje, ela representa a …

Carros autônomos: em que direção estamos indo? Leia mais »

Saiba mais sobre os carros autônomos, os veículos de um futuro mais próximo do que muitos imaginam.

Por João Pedro Malar (joaopedromalar@gmail.com)
Imagem: Beatriz Crivelari/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior

Há mais de 100 anos, quando o famoso modelo de carro Ford T foi lançado, a ideia de um automóvel que se movesse sem um motorista era algo inimaginável. Hoje, ela representa a realidade. Os carros autônomos, veículos de transporte que dispensam a existência de um motorista, já existem, e, em um futuro não muito distante, serão vistos frequentemente nas ruas. No entanto, esses veículos ainda são relativamente desconhecidos para o público, e estão envolvidos em complexas questões.

Os primeiros projetos envolvendo carros autônomos surgiram na década de 1970, com evoluções nos décadas de 1980 e 1990, mas ainda com grandes limitações financeiras e tecnológicas. A partir dos anos 2000 essas barreiras seriam reduzidas com investimentos de grandes empresas, como a Google e a Uber, o que trouxe grandes avanços na área e o surgimento de diversos grupos de pesquisa e desenvolvimento desses veículos.

 

Funcionamento e autonomia

O funcionamento de um carro autônomo envolve três passos: percepção, decisão e ação. A percepção se dá por meio de uma série de sensores, que realizam uma leitura dos arredores e coletam diversos dados. Os sensores são de três tipos: lasers, radares e câmeras. A decisão ocorre quando esses dados são enviados para o sistema computacional do carro, que então irá analisá-los e, levando em consideração a sua programação, tomará uma decisão. Por fim, a ação é a decisão sendo concretizada, onde as partes do carro recebem comandos e os realizam.

A performance desses veículos baseia-se em cinco níveis de autonomia. Do nível um, em que o veículo é controlado por um motorista mas possui algumas ferramentas de assistência, até o nível cinco, em que a inteligência do carro substitui o motorista e é capaz de realizar todas as funções do mesmo, o automóvel torna-se cada mais independente de um condutor ou das condições ambientais.  Atualmente, porém, ainda não foi produzido um veículo que tenha atingido o quinto nível.

Para Rodrigo Pissardini, mestre em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da USP, a falta de infraestrutura dificulta o pleno funcionamento de um carro autônomo em qualquer ambiente, impedindo assim a total autonomia. Já Fernando Osório, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), o nível 5 ainda não foi atingido devido à falta de tecnologias que permitam o desenvolvimento de um veículo inteiramente autônomo, mas ele ressalta que “estamos chegando” a esse nível.

 

Vantagens e desvantagens

Para diversos especialistas, a grande vantagem de se utilizar um carro autônomo é a questão da segurança. Ao eliminar o lado humano presente na condução de um veículo, o risco de acidentes de trânsito diminui drasticamente. O sistema de controle de um veículo inteligente não comete as imprudências no trânsito que as pessoas podem cometer, e, além disso, consegue ir além dos sentidos humanos, podendo, por exemplo, percorrer trechos com uma forte neblina com total segurança. O professor Osório ressalta, porém, que é impossível evitar todos os acidentes, já que a autonomia não consegue superar as “leis da física” e sempre poderão ocorrer imprevistos nas ruas e estradas.

Outra vantagem é a capacidade de comunicação entre os veículos, permitindo assim uma grande organização do trânsito de um local, além do uso de tecnologias que estabeleceriam as melhores rotas para um determinado trajeto. Os veículos também trariam mais mobilidade para deficientes e idosos, que não precisariam obter carros especiais ou adaptados para determinadas necessidades em relação à condução de um automóvel.

As desvantagens envolvendo os carros autônomos seriam as mudanças necessárias para a implementação dos mesmos no dia a dia das cidades, em especial mudanças na legislação de trânsito e também de infraestrutura. A questão do custo também seria um empecilho, já que, por utilizar tecnologias muito complexas, os preços desses carros seriam bastante elevados, inclusive na manutenção e troca de peças. Rodrigo Pissardini aponta que um grande desafio seria a questão da confiabilidade, ou seja, do motorista reconhecer a superioridade da inteligência do carro e permitir que ela assuma o comando.

 

Riscos

Duas questões surgem quando se fala de riscos ligados aos carros autônomos. A primeira, seria a questão ética, ou seja, como estabelecer um algoritmo de comportamento em diversas situações (como escolher entre salvar o motorista ou um pedestre, ou escolher qual pedestre salvar em situações extremas). Outro problema é o uso das informações coletadas por esses veículos, além do acesso e proteção delas. Hoje, um hacker poderia acessar e controlar um carro autônomo.

Rodrigo Pissardini defende, porém, que essas questões deverão ser resolvidas e abordadas futuramente, quando os carros autônomos já estiverem completamente desenvolvidos e em funcionamento. Hoje, o foco é em colocar esses automóveis nas ruas.

 

O filme “Eu, robô” é um dos muitos filmes futuristas que apresentam carros autônomos. Imagem: Reprodução/20th Century Fox.

E no Brasil?

O Brasil tem bons resultados na área de pesquisa e desenvolvimento de veículos autônomos, porém ainda possui problemas que dificultam e limitam esses projetos. Um grande empecilho é a falta de recursos e materiais para criar tais veículos. Além disso, a legislação brasileira impede a circulação de carros autônomos, ao estabelecer, no código de trânsito, que o motorista deve sempre manter as mãos no volante ao dirigir. Isso impede testes envolvendo os automóveis, além da implementação dos mesmos na sociedade. Atualmente, não há nenhuma proposta ou iniciativa de mudança dessa legislação.

Dos projetos envolvendo esses carros (um em Minas Gerais, um no Espírito Santo e três em São Paulo: dois em São Carlos e um na capital paulista), o projeto CaRINA (Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma) é o de maior destaque. Entre os seus feitos, está o primeiro teste no Brasil de um carro autônomo em uma via urbana (após a obtenção de uma autorização especial). Hoje, o grupo trabalha na atualização da tecnologia do seu carro, além de projetos para o desenvolvimento de veículos autônomos em setores como agricultura e mineração, áreas promissoras que devem trazer avanços mais rápido do que o foco no transporte urbano, já que ocorrem em propriedades privadas, onde o código de transporte não precisa ser respeitado e, assim, não há necessidade de um motorista.

 

Previsões

Os grandes desafios para o futuro são a atualização de leis a fim de atender a questões específicas ligadas aos carros autônomos e também a substituição da infraestrutura. Hoje, porém, ainda se prioriza a adaptação do veículo à atual infraestrutura urbana, criando, segundo Rodrigo Pissardini, uma situação em que “temos carros do amanhã funcionando em estradas do ontem.”

Quanto à polêmica questão dos acidentes envolvendo esses veículos, Denis Wolf, professor do ICMC e coordenador do Projeto Carina, ressalta que ocorrem muito mais acidentes envolvendo a direção humana, mas que, por ocorrerem a todo momento, acabam recebendo pouca atenção. Rodrigo Pissardini faz o mesmo apontamento, e, ao analisar um recente acidente envolvendo um carro autônomo nos Estados Unidos, em que uma mulher foi atropelada e veio a falecer, realiza um contundente questionamento: “Será que se fosse um ser humano ali, também teria batido?”

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