Ricky Hiraoka
Nenhum fenômeno do mercado editorial americano é ignorado pelos estúdios hollywoodianos. Com Nicholas Sparks não poderia ser diferente. Sparks é, junto com J.K. Rowling, o único autor contemporâneo a ficar mais de um ano na lista de mais vendidos do The New York Times.Em sua curta carreira literária, quatro de suas obras foram transformadas, com grande sucesso, em filmes. O livro mais recente a ganhar as telas é Noites de Tormenta (Nights in Rodanthe), com Richard Gere e Diane Lane no elenco.
As histórias de Sparks são bem simples e abusam de clichês românticos. Entretanto, o autor tem o dom de encadear os fatos de forma que tudo pareça surpreendente e inesperado. Seu grande mérito consiste em transformar situações excessivamente exploradas em enredos originais capazes de prender a atenção dos leitores. Para isso, ele não lança mão de artifícios como cenas de suspense ou perseguições policiais. Sparks constrói meticulosamente suas personagens, expõem seus conflitos e faz com que até os leitores mais relutantes e insensíveis se envolvam nos dramas. É fácil reconhecer traços semelhantes entre os protagonistas dos livros de Sparks. O difícil é ser indiferente àquilo que eles representam: a universalidade dos sentimentos. O autor consegue falar ao coração das pessoas sem ser piegas ou cafona. Ele resgata um romantismo genuíno, atípico nas obras atuais.
Em Noites de Tormenta estão todos os elementos típicos da literatura de Sparks: personagens solitárias que tentam entender o que fizeram de errado e que desejam reconstruir suas vidas, o improvável e irresistível amor e as contas para se acertar com o passado. No filme, a divorciada interpretada por Diane Lane vai para o litoral a fim de assumir, temporariamente, a administração da pousada de uma amiga. Lá, conhece Paul (Richard Gere), único hóspede do estabelecimento, que foi ao longínquo local por motivos obscuros. Aos poucos, eles vão ganhando intimidade e passam a se olharem com outros olhos. O romance explode quando o casal fica preso na pousada durante uma terrível tempestade que assola a região. Assim como nas outras histórias de Sparks, as personagens encontram a felicidade momentaneamente, alcançando a redenção.
Ao contrário de Sparks, o diretor George C. Wolfe não consegue orquestrar os anseios e os problemas das personagens e o efeito do filme não é tão devastador quanto o livro. Além disso, não há química entre os protagonistas e Gere se limita a uma interpretação preguiçosa, reduzindo Paul ao clichê do péssimo pai que é um excelente profissional. O filme até emociona, mas não arrebata. O resultado fica aquém de outras obras de Sparks que foram adaptadas para o cinema, como Diário de Uma Paixão e Uma Carta de Amor.