Ocorreu entre os dias 13 e 22 de abril, na Califórnia, Estados Unidos, um dos festivais mais aguardados de 2022, o Coachella. O festival contou com uma line up formada pelos artistas que constam entre os mais ouvidos do mundo na atualidade.
As estreias no palco também contribuíram para a animação do público do festival, como foi o caso da performance de Harry Styles, que se popularizou como integrante da boyband One Direction. O cantor britânico teve sua primeira participação no Coachella e se destacou por ser uma das apresentações mais aguardadas do festival, além de agitar o palco com lançamentos inéditos. O astro cantou no primeiro dia de evento e, dos 125 mil espectadores na plateia, estima-se que 100 mil foram apenas para vê-lo.
As participações brasileiras no Coachella também foram motivo de entusiasmo pelos participantes do evento, e dos fãs nas redes sociais. Anitta e Pabllo Vittar performaram no festival e levaram aos palcos estadunidenses elementos que representam a força e a cultura brasileira.
A cantora Pabllo Vittar foi a primeira drag queen a se apresentar no Coachella, que já tem 23 anos de apresentações. Em sua performance, a emoção estava visível. “Muito obrigada Coachella por me fazer a primeira drag queen a performar no festival. Esta noite, vamos fazer história”, disse a cantora durante seu show. Já Anitta, em sua participação, utilizou em suas roupas cores que referenciavam a bandeira do Brasil e instalou um cenário que imitava casas de comunidades brasileiras, além de exibir os ritmos e danças típicas da cultura do país.
A música, entretanto, não foi o único ponto de destaque dos dias de festival — o que também levantou discussões foi a representatividade e a diversidade das apresentações do evento. Durante todos os dias do Coachella, o público percebeu manifestações sociais e culturais, principalmente durante as performances de Anitta e Pabllo Vittar. “Absurdamente lindo” e “Orgulho do que é nosso” foram apenas alguns dos comentários dos internautas ao assistir aos shows.
Representatividade por trás dos palcos do festival
Seria, contudo, a representatividade e a diversidade nesses eventos efetivas, ou puramente jogadas para atrair mais pessoas e um público ainda mais fiel? Renato Gonçalves, professor de Publicidade e Propaganda na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em São Paulo, ressalta que “tudo depende do algoritmo“. As atrações do Coachella e de outros festivais são colocadas em uma line up que segue resultados de uma sequência de ações, capaz de mostrar o que o público quer ou não ver. Dessa forma, o algoritmo impulsiona os festivais e demais eventos e acaba trazendo a representatividade como um gancho, onde utilizam a imagem dos artistas e da diversidade para atrair o público e gerar maiores resultados.
“A representatividade não deve ser apenas um gancho”, diz Renato, quando ressalta a importância de tratar a representatividade não como um chamariz utilizado pelos artistas, mas por meio de seu conceito. Em entrevista para o Sala33, o professor acrescenta que a ideia de representatividade está batida pelo seu uso, já que muitas pessoas utilizam o conceito de maneira superficial. É preciso, segundo o professor, que haja muito mais do que a representação nos palcos — é preciso que ela ocorra fora dele também. Enquanto cresce um movimento de maior diversidade entre os artistas, nos bastidores, as equipes sofrem com a falta de espaço para que pessoas de grupos sociais historicamente oprimidos possam ascender. “A representatividade é como um espelho, pelo qual você olha seu reflexo e se identifica.”
Visão da psicologia
O psicólogo Leonardo Alves Coêlho (CRP-RJ 05/57493), especializado em direitos humanos, gênero e sexualidade é um dos autores do livro “Experiência no casulo”, uma ilustração infantil que fala a respeito dos “casulos” presentes na sociedade. “Não tem como falar de representatividade sem falar de identidade, diferença e visibilidade”, alega. Ele reforça que, a partir do momento em que um indivíduo assume sua identidade como uma pessoa homossexual, por exemplo, ela se diferencia de outros indivíduos.
A mídia social, portanto, beneficia uma padronização dos comportamentos e aparência física das pessoas, e acaba por enaltecer uma única identidade. “Quem pertence a outro grupo não tem visibilidade, acaba sofrendo muita violência, preconceito e é estigmatizado na nossa sociedade”, aponta Leonardo. É a partir dessa exclusão que nasce a luta para a visibilidade desses grupos não padronizados.
“A psicologia utiliza a música como um uma ferramenta auxiliar no processo.” Leonardo ressalta que não vê uma necessidade pura dos fãs de se sentirem identificados por um ídolo ou artista, mas que há uma importância na possibilidade de que um grupo suprimido da sociedade se veja representado na televisão, nos palcos, e na internet, assim como ocorreu no Coachella, onde as pessoas conseguiram se enxergar em cima dos palcos. As pessoas, quando têm a possibilidade de se sentirem representadas, são capazes de ver a possibilidade de chegar no patamar que certo indivíduo já alcançou. É o que ocorre quando artistas drags veêm a Pabllo Vittar no Coachella, por exemplo: eles sentem que aquele espaço também pertence a eles e que podem alcançar aquilo que antes lhes parecia distante.