As águas estão subindo e submergindo as casas de uma vila. Para continuar vivendo ali, seus moradores vão construindo novos andares à medida em que as águas tomam seus cômodos. E assim a vila vai se recriando em infindáveis ciclos.
Um velho senhor mora sozinho numa dessas casas, e chega o dia em que tem de pôr as mãos nos pequenos cubos para construir sua nova morada. Durante o trabalho seu cachimbo cai. Equipado com roupas de mergulho, sai para resgatá-lo.
O cachimbo é encontrado facilmente, porém o objeto leva o velho senhor a redescobertas. O cômodo submerso, de súbito, se transfigura. É, agora, o lugar onde outrora foi o lar de uma família. O impacto causado pela lembrança impulsiona o velho aos outros cômodos, cada vez literalmente se aprofundando mais em sua vida. E a vida vem à tona rebobinada até o dia em que conhece aquela que seria sua mulher.
De volta ao cômodo recém-construído, seco, o velho, impulsionado pelas lembranças, prepara um jantar para dois. A cena é tocante e suscita no espectador a melancolia nostálgica por aquilo que acabara de presenciar. O senhor, ao contrário, bebe sozinho e sereno seu vinho, parece saborear em cada gole um momento vivido nos inúmeros andares da casa dos pequenos cubos.
A fábula de Kunio Katô, com seus 12 minutos, é densa, impactante. “A Casa de Pequenos Cubinhos” (Tsumiki No Ie, Japão, 2008) é um daqueles filmes que leva o espectador à reflexão, uma experiência intensa e dificilmente esquecível. Mereceu ter ganho o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação, em 2009.
Por Paulo Fávari