O filme Coração de Cowboy (2018), que estreia nos telões nesta quinta, narra a história de um cantor sertanejo que se vê tendo que fazer uma escolha entre o mundo da fama, com músicas que agradam seu público, mas não respeitam suas raízes, e seguir seu coração tocando o que realmente gosta.
As cenas iniciais contemplam a infância do cantor em que alguns fatos marcam muito sua história e definem tudo o que acontece dali em diante. Se sentindo culpado pela morte do irmão, o menino sai de casa e se aventura no mundo da música — mas não do jeito que gostaria.
Com um salto no tempo, Lucca (interpretado por Gabriel Sater) é mostrado como um popstar que está migrando para a música pop pela vontade de seus fãs e sua assessora Iolanda (Françoise Forton). Cada vez mais, o cantor é impedido de usar as roupas que gosta — como o chapéu de cowboy — e o público não aceita suas criações que remetem ao sertanejo raiz.
O longa segue com a jornada que Lucca percorre para se redescobrir como pessoa, cantor e para voltar a valorizar sua família que quase perdeu. A mensagem geral do filme é sobre volta às raízes e valorização das relações familiares.
Contando com um elenco de excelência, entre eles Thaila Ayala (interpretando Paula, par romântico de Lucca), Jackson Antunes (interpretando Joaquim, pai do cantor) e Guile Brando (como o personagem Tião), o filme consegue desenhar uma história factível nos dias de hoje, em que o sertanejo universitário tomou um grande espaço no contexto musical brasileiro e o sertanejo de raiz só atinge um público mais velho que teve contato com esse gênero algumas décadas atrás.
O êxito dos atores também se dá, como declararam em coletiva de imprensa, devido a experiência do jovem diretor Gui Pereira. Foi destacada a excelência do profissional para lidar com atores, com suas emoções e por saber exatamente o que queria para seu longa metragem.
O destaque fica para a atuação de Thaila Ayala, que interpreta a dona do bar que Lucca cantava com seu irmão e sua melhor amiga, Marcelle (Thaís Pacholek), e é o lugar em que o artista se encontra de novo. A construção trouxe uma personagem forte, que não depende de homens, é dona do seu próprio negócio e se defende de assediadores do bar sozinha. O que deveria ser obrigatoriedade, se torna destaque entre personagens que ainda vivem cuidando da casa e dos filhos.
Quando questionados sobre como foi a criação dos personagens, vários integrantes do elenco revelaram terem sido criados no interior (a história se ambienta em Jaguariúna, cidade do interior do estado de São Paulo) e, por isso, conseguiram se inspirar em sua própria história ou na de alguém próximo.
Sobre a temática crítica ao sertanejo universitário no cenário musical, Gui Pereira nega. Segundo ele, a narrativa se encaixaria em qualquer gênero musical que está perdendo a identidade e ficando a mercê do que o público gosta e quer ouvir. Porém, é possível enxergar no filme uma crítica explícita ao tipo de música que cantores como Wesley Safadão e Simone e Simaria cantam nos dias de hoje, se aproximando mais do pop do que seguindo as raízes musicais.
Um destaque técnico do filme é sua cenografia. Os objetos que compõe as cenas, principalmente dentro das casas, combinam perfeitamente com a proposta interiorana. Para quem já morou no interior ou costuma visitar parentes em cidades nas áreas rurais do estado, vai poder identificar muitos itens que são figurinha carimbada nesses ambientes
A trilha sonora, assinada por Lucas Lima (músico experiente e integrante do grupo Família Lima), traz arranjos impecáveis que embalam as modas sertanejas. A montagem ainda conta com a participação de Chitãozinho & Xororó, Marcos e Belutti, Família Lima, Rio Negro e Solimões e das músicas interpretadas por Gabriel Sater, que é cantor e filho primogênito do lendário Almir Sater, cantor e compositor de sertanejo raiz.
O longa foi eleito como melhor filme em premiações como: Jukebox International Film Festival, em Nevada e Scruffy City Film and Music Festival, no Tennessee.
Coração de Cowboy estreia dia 27 de setembro nos cinemas. Confira o trailer abaixo:
por Giovana Christ
giovanachrist@usp.br