Por Andrey Furmankiewicz (andreyffurman@usp.br)
Em 2019, um dos principais vilões do universo da DC Comics estreou em seu primeiro filme solo no cinema. O filme Coringa (Joker, 2019) fez um grande sucesso na bilheteria e nas premiações, recebendo o Leão de Ouro, o maior prêmio do Festival Internacional de Cinema de Veneza e oito indicações (incluindo Melhor Filme) no Oscar do mesmo ano, em que faturou os prêmios de Melhor Ator para o protagonista de Joaquin Phoenix e de Melhor Trilha Sonora Original.
Inicialmente pensado sem continuações, Coringa obteve tamanho sucesso nas bilheterias que a Warner Bros. iniciou o desenvolvimento de uma continuação, que chegou aos cinemas em outubro de 2024, também dirigido por Todd Phillips. Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à deux, 2024) dá sequência à conturbada história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um comediante sem sucesso e com inúmeros transtornos psicológicos, que após os eventos do primeiro filme (dois anos após) é preso no hospital psiquiátrico de Arkham e espera seu julgamento após os assassinatos que cometeu.
No hospital, Arthur é constantemente maltratado e ridicularizado pelos guardas, assim como as pessoas faziam no seu passado. Ao decorrer da trama, Fleck conhece Harleen “Lee” Quinzel (Lady Gaga), uma paciente de outro bloco da prisão, na qual começam a ter uma relação. Enquanto isso, a advogada de Fleck tenta provar que quem cometeu os assassinatos não foi Arthur, mas sim sua outra personalidade, o Coringa. O palhaço havia se transformado em um símbolo em Gotham City depois dos assassinatos, o que dividiu a cidade entre os que apoiam o palhaço e os que querem a sua condenação.
O que mais chama atenção nessa sequência são as cenas musicais (pode se dizer que o filme pertence ao gênero musical), personificando os pensamentos e os delírios dos dois personagens principais no meio daquela situação. A cantora e atriz Lady Gaga brilha nessas passagens, como já era esperado. Apesar de bem executadas, estas cenas que retratam a loucura dos protagonistas falham em desenvolver a narrativa e começam a aparecer de maneira exagerada após certo tempo de tela.
A história se desenrola de forma muito lenta e arrastada, evoluindo pouco e sendo muito dependente das ideias e acontecimentos do passado, o que não justifica as duas horas e vinte minutos de filme. O próprio Arthur não parece ter uma motivação além do seu relacionamento com a Arlequina. Assim, a trama pouco desenvolve o personagem em comparação ao primeiro longa, já que agora mostra a dependência de sua parceira.
Entretanto, o filme traz boas atuações de Phoenix e Gaga, que conseguem transmitir os problemas psicológicos, a insanidade e o conflito dos personagens muito bem. Além disso, a construção do clima de tensão é bem feita (mesmo que pouco se concretize), a ponto que o espectador não sabe o que os personagens são capazes de fazer, principalmente nas sequências do tribunal. O visual e a ambientação também merecem destaques, tanto nas cenas musicais, quanto no restante do longa.
O longa levanta o questionamento da idolatria da figura do Coringa. Quanto mais o personagem mergulha na loucura, mais seus fãs o idolatram. Incluindo Lee, a Arlequina, que enaltece o “lado Coringa” de Arthur cada vez mais. Isso questiona se seu o público realmente se importa com o personagem ou se só estão interessados nas loucuras que comete. A última cena também impacta bastante o filme e deixa sugestões sobre o que aconteceria em uma possível sequência.
Apesar disso, Coringa: Delírio a Dois falha em manter seu público interessado na continuação da história do palhaço. Seja nos diálogos ou cenas musicais que pouco avançam a narrativa, na falta de desenvolvimento do protagonista e da trama e nas poucas inovações trazidas em comparação ao primeiro longa, os pontos positivos, como as atuações, não sustentam o roteiro arrastado do segundo filme.
A principal preocupação dos fãs de Coringa era a mudança de gênero cinematográfico, mas o filme sofreu muito mais com os problemas mencionados do que com o fato de ser um musical (que se encaixava com a temática do filme inicialmente). O longa decepciona por ser uma sequência tão aguardada de um filme que fez bastante sucesso com o público. Pode-se dizer que não era necessária uma continuação da história do Palhaço do Crime.
O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Reprodução/GoodFon