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Brilhantina, rebeldia e rock’n’roll

O ano era 1959 e a juventude que a América conhecia até então estava prestes a entrar em colapso. O rock’n’roll veio libertar os adolescentes americanos das amarras da tradição; uma revolução cultural e sexual estava pronta para explodir. Expressando a revolta, haviam as jaquetas de couro, as camisetas brancas ou pretas com as mangas …

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O ano era 1959 e a juventude que a América conhecia até então estava prestes a entrar em colapso. O rock’n’roll veio libertar os adolescentes americanos das amarras da tradição; uma revolução cultural e sexual estava pronta para explodir. Expressando a revolta, haviam as jaquetas de couro, as camisetas brancas ou pretas com as mangas enroladas e o mais importante: os cabelos cuidadosamente esculturados em topetes monumentais – com o auxílio de muita brilhantina, é claro. O look é tão familiar quanto os olhos azuis de John Travolta, ambos consagrados na cultura pop pelo musical Grease, de 1978.

A história de Danny Zuko e Sandy Olsson, mais do que um romance colegial, representa a transformação da juventude obediente do sonho americano na juventude transviada de James Dean – quer uma metáfora melhor para isso do que a metamorfose da personagem de Olivia Newton-John, de vestidos rodados e rabos-de-cavalo com laços a femme fatale de roupa colada, permanente no cabelo e cigarro na boca?

Foi justamente na tumultuosa passagem dos anos 50 para os 60 – época retratada por Grease, produzido décadas depois – em meio a todo o rock’n’roll, que os musicais, que viveram momentos gloriosos a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, perderam o lugar cativo que ocupava dentre a cultura juvenil até então.

O gênero que trazia as músicas para a tela do cinema teve seu advento no fim da década de 20, com a incorporação do som aos filmes. “Não que a música fosse uma parte estranha ao cinema antes do advento do sonoro”, como afirma Eduardo Morettin, professor de História do Audiovisual da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. “A música sempre esteve lá, pela presença de orquestras ou quartetos nas salas de cinema, que acompanhavam os filmes com músicas já pré-programada ou improvisadas”.

Nos musicais, as canções são parte intrínseca do enredo. “As músicas interrompem a narrativa; chega um momento em que a pessoa simplesmente começa a cantar. Mas de certa maneira”, afirma Morettin, “elas estão integradas ao andar da carruagem. Elas contam e ajudam a fazer com que a história avance”.

O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927), foi o primeiro filme com diálogo sincronizado, e também o primeiro musical, ainda que o som tenha aparecido apenas na parte central do filme, segundo Morettin. De acordo com o livro The Speed of Sound: Hollywood and the Talkie Revolution, do historiador Scott Eyman (sem tradução para o português), Frances Goldwyn, esposa do produtor americano Sam Goldwyn, ao fim da apresentação do filme, olhou para os artistas na plateia e viu “terror no rosto deles”, como se soubessem que “o jogo que eles vinham jogando há anos estava finalmente acabado”.

A era de ouro dos musicais norte-americanos começou em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Filmes como Um dia em Nova Iorque (On The Town, 1949), Sinfonia de Paris (An American in Paris, 1951) e A Roda da Fortuna (Band Wagon, 1953) eram sucesso de crítica e público. Artistas como Gene Kelly e Fred Astaire se tornaram ícones e ambos “vão sendo marcados por suas performances individuais”, diz Morettin. Cantando na Chuva (Singin’ InThe Rain, 1952), é considerado por muitos o maior clássico dentre os musicais. Dirigido por Stanley Doney e Gene Kelly, e estrelado por esse último, Cantando na Chuva “não é pioneiro em nenhum verdadeiro sentido da palavra, tampouco representa um grande avanço na linguagem cinematográfica, porém poucos filmes conseguiram englobar de forma tão simples e maravilhosa tudo o que há de bom no cinema: as glórias jubilosas,os fracassos lastimáveis e a oscilação perfeita e eterna entre esses dois pólos”, segundo o livro 1000 Filmes para Ver Antes de Morrer (Steven Jay Scheneider [org]. Editora Sextante).

No entanto, na passagem da década de 50 para a de 60, o gênero começa a entrar em decadência, acompanhando o declínio sofrido por Hollywood. “O público mudou”, explica Morettin. “Há o advento da televisão e uma queda de audiência generalizada. Além disso, o público que consumia os musicais mudou.” A transformação da cultura jovem, retratada em Grease, também contribuiu para a saída dos musicais do foco da indústria cinematográfica. “Começa o rock’n’roll. Surgem os filmes dos Beatles, Os Reis do Iê Iê Iê (A Hard Days Night, 1964), mas não existe mais um musical como se tinha antes. Os filmes ligados à juventude são de outra natureza, como o Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955), o Selvagem (The Wild One, 1953). É um outro universo”, esclarece Morettin.

Mas Grease (Grease, 1978) surgiu em um contexto bem diferente da inconstante indústria cinematográfica. A década de 70 foi marcada pelo trabalho de diretores criativos que marcaram a história do cinema, como Woody Allen, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg e George Lucas. “O cinema americano se revitalizou. Em 1977, foi lançado o Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977), do George Lucas, que foi um blockbuster e mudou a história do cinema. Ele colocou a indústria americana novamente nos eixos, levando-a a um patamar de rentabilidade que lhe garantiu uma longa sobrevida”, conta Morettin.

Estrelado por John Travolta e Olivia Newton-John, Grease foi lançado  apenas um ano após o Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever, 1977), outro filme que tem Travolta como protagonista. Para Morettin, a escolha do elenco foi um elemento de peso para o sucesso do filme: “Houve um afluxo de público principalmente feminino e adolescente que foi assistir a ele. Na época em que esses filmes eram exibidos tinha muito cinema de rua  as meninas gritavam quando aparecia o John Travolta. É um tipo de coisa que você não tem hoje.”

Mas é claro que um filme icônico como Grease não se sustenta só sobre o nome dos atores. De acordo com Thiago Romariz, crítico do site Omelete, o que solidificou o filme na história da cultura pop é a sua universalidade: “Grease atingiu a maioria das idades. É de 8 a 80, todo mundo assistia ao filme e não tinha problema nenhum”, ele afirma. “Além disso, há vários estilos musicais em Grease: tem música balada, tem música lenta, tem o rockzinho. Eles tiveram inclusive uma indicação ao Oscar [na categoria de Melhor Canção Original por Hopelessly Devoted to You, interpretada por Newton-John]. É universal. Esse é o motivo pelo qual Grease se tornou esse musical tão conceituado que todo mundo fala, e que até hoje não conseguiu ser copiado”.

Na adaptação para o cinema, o roteiro e as músicas originais da história, que estava nos teatros da Broadway desde 1972, foram suavizados, o que ampliou o público do filme. Deu certo: o romance de Danny e Sandy arrecadou cerca de 395 milhões de dólares ao redor do mundo. 95 milhões a mais do que o segundo colocado na lista de filmes mais rentáveis de 1978, Superman (Superman – The Movie, 1978).

Hoje, a influência de Grease nas histórias juvenis é declarada. Desde números inspirados nas músicas do filme no seriado Glee, da Fox, até adaptações modernas para o enredo, como em High School Musical, de 2006. “No High School Musical há uma certa qualidade. O diretor é o Kenny Ortega, que é bom e os números são super bem produzidos – o que não é mais do que obrigação hoje em dia. Mas Grease tem tudo isso há trinta anos.  Não deixando nada a desejar tecnicamente, artisticamente, nem na atuação e nem na história. Mas principalmente, o que fez Grease ficar marcado na vida das pessoas é o carisma de cada personagem. As personagens de hoje até possuem esse carisma, mas Grease tem um histórico de trinta anos contra os outros, não podemos nem comparar. Todo mundo lembra do Danny Zuko, todo mundo lembra da Sandy, não tem como fugir muito disso”, acredita Romariz.

Os musicais nunca mais voltaram ao topo depois dos tempos áureos das décadas de 40 e 50. “Ele [o musical] aparece muito espontâneamente, de forma intermitente, não é mais um gênero a partir do qual a indústria se organiza a fim de produzir uma quantidade de filmes ano a ano, com um corpo de atores identificados ao gênero”. Ainda que não existam mais Gennes Kellys e Fred Astaires, alguns musicais produzidos nos anos 2000 se destacam dentro do gênero. Romariz cita como principal o filme Moulin Rouge, Amor em Vermelho (Moulin Rouge!, 2001): “Assistir a Moulin Rouge é assistir a uma história super bonita de uma época fantástica e com conteúdo histórico. Há uma temática artística, poética e há as músicas pop. Se você gosta de Madonna, se você gosta de U2, se você gosta de Elton John, tem tudo. Isso é maravilhoso”, ele diz.

Ele acredita assim que para começar a assistir musicais, a tomar gosto pela coisa, deve-se começar pelos mais recentes, pois a partir do momento que se entende como funcionam é que se pode gostar dos mais antigos. Suas sugestões começam por Moulin Rouge, “Depois vem Chicago (Chicago, 2002), que eu não gosto, mas é super bem produzido, com atuações estupendas”. Entre os clássicos, Romariz recomenda Cantado na Chuva e a Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965). Segue em sua lista filmes como Hairspray, em Busca da Fama (Hairspray, 2007) e Os Produtores (The Producers, 2005).  Além de, é claro, Grease: “não tenha dúvida, todo mundo tem que assistir”.

E se você quiser conhecer os clássicos também, segue abaixo a lista feita em 2006 pelo American Film Institute com os 25 melhores filmes musicais de todos os tempos:

Por Jeanine Kobayashi e Odhara Rodrigues
jeanine.carpani@gmail.com
rodrigues.odhara@gmail.com

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