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O mundo é alvinegro: 24 anos do Corinthians campeão mundial

O polêmico Mundial de Clubes de 2000 completou 24 anos em janeiro. Pela primeira vez, os campeões continentais foram reunidos pela FIFA para disputar o título de melhor time global

Por Isadora Batista (isadorabatista@usp.br)

A Copa Intercontinental, ou Copa Europeia Sul-Americana, é considerada a antiga disputa mundial e existia desde 1960. Organizada pela UEFA e pela Conmebol, sem envolvimento da FIFA, colocava frente a frente o campeão da Libertadores e o campeão da Champions League em jogo único. 

Um novo modelo desse torneio começou a ser idealizado pela FIFA no final da década de 1990, totalmente organizado e reconhecido pela autoridade máxima do futebol, e contaria com os campeões dos cinco continentes. Em 1999, a FIFA anunciou o Brasil como o país-sede da competição, escolha unânime no comitê da entidade. 

Antes do início do Mundial de Clubes, a FIFA se responsabilizava apenas pelo futebol de seleções. Em entrevista ao Arquibancada, Celso Unzelte destaca que a partir dessa iniciativa, a entidade passou a ver os clubes de forma diferente: “A virada para os anos 2000 significou uma virada econômica sobre a importância dos clubes de futebol e a Fifa não fechou os olhos para isso. Então ela resolveu organizar o primeiro campeonato Mundial de Clubes dela.”

A organização do torneio

A primeira edição do novo Mundial foi realizada entre os dias 5 e 14 de janeiro de 2000, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, em pleno verão brasileiro. Alguns apelidos depreciativos surgiram, como “Torneio de Verão” e “Mundialito”, já que, além do calor de janeiro no Brasil, os clubes europeus não demonstraram interesse no título como os outros clubes na disputa. 

O Mundial de Clubes contou com oito times: seis campeões continentais, o campeão intercontinental de 1998 e o representante do país-sede; todos indicados pelas confederações de seus continentes.

O sorteio foi realizado em outubro de 1999, com dois grupos de quatro times. No grupo A estavam Corinthians, representante do país sede e campeão do Campeonato Brasileiro de 1998; Real Madrid, campeão do Intercontinental de 1998; Al-Nassr, campeão da Supercopa da Confederação Asiática de Futebol (CAF) em 1998; e o RAJA Casablanca, campeão da Liga dos Campeões da África em 1999. O grupo B foi formado por Vasco da Gama, campeão da Libertadores de 1998; Manchester United, campeão europeu de 1999; Necaxa, campeão da Liga dos Campeões da Concacaf em 1999; e o South Melbourne, campeão da Liga dos Campeões da Oceania.

Todos os jogos do grupo A ocorreram no estádio do Morumbi e os do grupo B foram disputados no Maracanã, que também recebeu a disputa de campeão e de terceiro lugar. O regulamento estabeleceu que o primeiro colocado de cada grupo avançaria direto para a final. No grupo A, o Corinthians se tornou finalista pelo saldo de gols após empatar com o Real Madrid na pontuação da tabela. No grupo B, o Vasco venceu todos os jogos que disputou e garantiu a vaga na final sem dificuldades.

A disputa do terceiro lugar ficou para os dois segundos colocados, Real Madrid e Necaxa, com o clube espanhol sendo derrotado pelo mexicano.

O primeiro campeão mundial

O time do Corinthians se mostrou equiparável aos gigantes europeus.. Dando início à fase de grupos, o clube paulista começou ganhando do RAJA Casablanca de 2 a 0, com gol polêmico de Fábio Luciano, no qual a bola não passou da linha do gol, mas que foi validado  pelo juiz da partida.

O segundo jogo da fase de grupos, contra o Real Madrid, foi um empate marcante. A equipe corinthiana começou perdendo, mas conseguiu empatar com gol de Edílson que aplicou uma caneta histórica no zagueiro Karembeu e finalizou à meta. Mais tarde, Edílson marcou mais um gol para virar o placar, mas o time espanhol conseguiu empatar na reta final do segundo tempo. O goleiro Dida ainda defendeu um pênalti cobrado por Anelka, autor dos dois gols do Real Madrid.

O Corinthians venceu o Al Nassr na última partida da fase de grupos, empatando com o Real Madrid nos pontos corridos e garantindo a classificação pelo critério de desempate em saldo de gols. 

Invasão corinthiana: 30 mil corações corinthianos preencheram o Maracanã [Reprodução/X: @Corinthians]

Corinthians e Vasco se enfrentaram na decisão no Maracanã diante de mais de 70 mil torcedores, no dia 14 de janeiro.  O jogo terminou empatado em 0 a 0 e a decisão foi levada para os pênaltis. Os jogadores corinthianos Rincón, Fernando Baiano, Luizão e Edu converteram suas cobranças, Alex Oliveira, Viola e o artilheiro Romário garantiram três para o Vasco. Dida defendeu o pênalti de Gilberto e, em seguida, a cobrança de Marcelinho foi defendida pelo goleiro Helton. A última cobrança veio dos pés de Edmundo, que mandou para fora, consagrando o Corinthians como o primeiro campeão mundial reconhecido pela Fifa.

Freddy Rincón, capitão do Corinthians na conquista, faleceu em 2022 após grave acidente de carro na cidade de Cali [Reprodução/X: @Corinthians] 

Organização polêmica

O sorteio dos grupos para o Mundial de 2000 foi realizado no final do ano anterior com algumas polêmicas. O campeão sul-americano indicado pela Conmebol não foi o da Libertadores de 1999, o Palmeiras, mas sim o Vasco da Gama, campeão em 1998.

A Conmebol indicou o Vasco como representante sul-americano dois dias antes do Palmeiras disputar o jogo de volta contra o Deportivo Cali pela final da Libertadores de 1999. Celso Unzelte explica que foi uma escolha estratégica: “O campeão da Libertadores de 1999 era o Palmeiras, mas a Fifa resolveu poupar, porque o campeonato era no Brasil, então tinha que ter um apelo de São Paulo e Rio de Janeiro”. O adversário colombiano ganhou de 1 a 0 no primeiro jogo, fazendo com que o Brasil corresse o risco de não ter dois times nacionais na competição. Além disso, a possibilidade de ter uma equipe paulista e outra carioca era vantajosa comercialmente, já que as partidas seriam disputadas no Maracanã e no Morumbi. 

O presidente do time alviverde, Mustafá Contursi, foi convencido pela FIFA a ceder sua vaga no Mundial, com a promessa de que o clube estaria na próxima edição. Contudo, o torneio não teve continuidade no ano seguinte. Celso Unzelte comenta que problemas internos da FIFA foram os principais motivos: “Teria um Mundial em 2001, na Espanha. Os grupos chegaram a ser sorteados, mas a ideia foi abortada, porque explodiu uma série de escândalos da FIFA. Então aquele Mundial que o Palmeiras participaria não existiu.” Em meio aos escândalos, a agência de marketing da entidade, a International Sport and Leisure (ISL) , entrou em falência e, sem o apoio da parceira, a Federação decidiu adiar a segunda edição do torneio, que voltaria a ser realizada só em 2005. O time do Palmeiras foi indenizado em 750 mil dólares pela FIFA. 

Dois campeões mundiais em 2000?

A Copa Intercontinental representou um torneio mundial entre 1960 e 2004. Ao todo, foram disputadas 42 partidas, consagrando 25 campeões mundiais. Esses campeões foram reconhecidos pela FIFA de forma retroativa em 2017, quando a entidade definiu o torneio como precursor do atual Mundial e oficializou os clubes como, também, campeões mundiais. Dentre eles, estão os brasileiros Santos, São Paulo, Grêmio e Flamengo. 

Mesmo com o Mundial de Clubes realizado em janeiro de 2000, a Conmebol e UEFA, em parceria com a Toyota, mantiveram sua programação normal e, no dia 28 de novembro, o campeão da Champions League enfrentou o campeão da Libertadores para a disputa da Copa Toyota, antes chamada de Copa Intercontinental. O Boca Juniors derrotou o Real Madrid por 2 a 1 e se consagrou campeão em Tóquio. Dessa forma, com o reconhecimento dado pela FIFA, o Corinthians divide o título de campeão mundial de 2000 com o Boca Juniors, mas seguirá sendo o primeiro da história a ser reconhecido pela FIFA.

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