Os filmes de ação estão longe de ser uma unanimidade entre o público. Quem os critica, costuma dizer que falta uma construção narrativa interessante, e que eles se resumem em ”tiros e explosões”. Os grandes longas do gênero são aqueles que conseguem unir o melhor dos dois mundos. Covil de Ladrões (Den of Thieves, 2018), novo filme do diretor Christian Gudegast, tenta chegar a esse patamar. Infelizmente, não foi dessa vez.
Nick Flanagan (Gerard Butler), comandante do grupo de elite da polícia de Los Angeles começa a investigar um estranho roubo a carro-forte. Ele descobre que o crime tem conexão com o mais importante grupo de ladrões de bancos do estado. A organização, liderada pelo ex-fuzileiro naval, Ray Merrimen (Pablo Schreiber), e que conta com a participação de Enson Levoux (50 Cent), Bosco (Evan Jones) e Donnie Wilson (O’Shea Jackson Jr.), planeja agora uma operação no maior banco da cidade, até que Donnie é identificado pelas autoridades e começa atuar como um agente duplo.
Logo na primeira cena – um tiroteio – o filme já mostra uma movimentação interessante de câmera. Dando bastante liberdade, o diretor cria através dela planos sequência, ao longo da história, que impressionam, principalmente nas cenas de ação. No entanto, o recurso fica saturado e em certos momentos até confuso devido à sua repetição.
É difícil definir Covil de Ladrões em um subgênero dentro dos filmes de ação. O longa alterna-se entre filme de assalto e de gângster. Ficar nesse limbo não seria problema algum caso fosse intencional. Mas com suas duas horas e vinte minutos, ele busca claramente ser um filme de roubo a banco, que tenta se diferenciar, através de seus personagens mais desenvolvidos e profundos do que o comum. A tentativa, porém, esbarra no roteiro.
Em mais de 140 minutos de filme, o diretor deixa espaço considerável para o desenvolvimento de seus personagens, ao contrário do que muitos filmes do gênero fazem. O que no primeiro momento parece positivo, não se concretiza em tela. Gerard Butler, por exemplo, interpreta o policial com métodos nada ortodoxos. Alto, forte, cheio de tatuagens, de óculos escuros e fumando, torna-se um perfeito clichê de filmes de ação. O drama familiar pretendia tornar o policial mais denso psicologicamente, mas termina por ser apenas cansativo e esse tipo de situação se repete com boa parte do elenco. Os integrantes principais do grupo que dá nome ao filme se saem bem em cenas de ação, mas fora dela, são muito superficiais. A surpresa é 50 Cent que em sua aventura como ator surpreende e apresenta uma atuação digna.
O destaque fica por conta de Donnie. Justamente por intercalar cenas com os policiais e com os bandidos, o personagem é o único a apresentar a densidade almejada. A atuação é competente e mostra ao espectador o potencial que o filme teria se algumas escolhas fossem diferentes. Já o ponto alto do filme é de longe o momento do roubo principal. Em um estilo semelhante à Truque de Mestre (Now You See Me, 2013), o espectador por não saber como será realizado o assalto, é enganado e surpreendido juntamente com os policiais da trama. A tensão muito bem construída, assim como a resolução do assalto, ajudam a elevar o longa.
Covil de Ladrões cai na armadilha de sua própria pretensão. Se por um lado, considerando a baixa expectativa em torno do longa, ele vai deixar pouca parte de seu público decepcionado, por outro vai fazer com que saiam com um gostinho de quero mais. No final, as falhas do filme residem em sua própria ousadia.
Covil de Ladrões estreia dia 05 de abril nos cinemas brasileiros. Assista ao trailer abaixo:
por André Romani
andreromani@usp.br