Jornalismo Júnior

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Exposição ‘Diálogo no Escuro’: uma lição de empatia

Uma experiência para a vida toda, a mostra oferece a vivência de uma pessoa com deficiência visual

“Eles [os visitantes] começam a ter empatia, sentem um pouco na pele o que a gente sente e passa no dia a dia.”

Alexandre Teixeira Pinto, pessoa com deficiência visual

Já pensou em ficar 45 minutos sem enxergar, à mercê de um desconhecido que te guiará por corredores e por cotidianos, embora muito conhecidos, difíceis de identificar? A única maneira de se localizar no espaço será por meio da voz de um orientador e de uma bengala longa. Aceitaria a proposta que a exposição “Diálogo no Escuro” traz? A Jornalismo Júnior aceitou!

Criada em 1988 por um filósofo alemão, Andreas Heinecke, “Diálogo no Escuro” já passou por 43 países e teve quase 10 milhões de visitantes. A ideia da exposição surgiu após Andreas precisar criar um programa de treinamento para um colega que tinha acabado de ficar cego depois de um acidente. No primeiro momento, o alemão teve pena da situação de seu aprendiz, entretanto, percebeu que estava equivocado. Seu colega parecia lidar muito bem com as adversidades do caminho. Assim, Andreas teve a ideia de realizar um intercâmbio entre as pessoas com e sem visão. 

Aqui no Brasil, a exposição está localizada na Unibes Cultural (União Brasileiro-Israelita de Bem-Estar Social), a 1 minuto do metrô Santuário N. Sra. de Fátima – Sumaré. Ela tem como propósito fazer o visitante passar a enxergar o mundo com outros olhos após ser inserido no cotidiano de uma pessoa com deficiência visual. A mostra ocorre de quinta à domingo das 12h às 19h, seu ingresso custa 30 reais, a inteira, e é gratuito às quintas-feiras. É possível adquirir a entrada no site Sympla. “Diálogo no Escuro” estará em cartaz até o dia 23 de dezembro.

Na exposição 

A exposição espera que se formem grupos de oito pessoas para começar. Depois de reunidos, todos são encaminhados para o local onde ocorrerá a principal atividade. Cada visitante recebe a chave de um armário onde poderá guardar seus pertences — não é permitido entrar com óculos ou objetos que produzam luz na mostra.

Ainda na claridade, cada um recebe uma bengala longa — que funciona como uma extensão do corpo de indivíduos com deficiência visual, e nesse caso, de todas as pessoas que participaram do “Diálogo no Escuro”. Equipado, o público parte para dentro de um corredor sem qualquer luminosidade e se orienta tateando as paredes. É então que uma guia se apresenta e começa a orientar o grupo.

Existem 253 milhões de pessoas com deficiência visual no mundo. [Imagem: Arquivo Pessoal/Julia Magalhães]

Os ambientes exploráveis são quase sinestésicos: enxerga-se pelo tato, pela audição, pelo olfato. Todos os sentidos são utilizados para construir na mente o lugar onde se está. A orientadora incentiva os participantes a reconhecerem a textura dos objetos em volta, os sons de instrumentos, o cheiro de plantas — e a partir disso, pergunta qual local foi representado naquela sala. Muitas vezes os lugares reconstruídos já são conhecidos pelos visitantes, dos seus cotidianos. Entretanto, agora, eles os descobrem por meio de outras perspectivas.

alfabeto em braile apresentado em uma parede na exposição Diálogo no Escuro
6 milhões de pessoas são portadoras de alguma deficiência visual no Brasil. [Imagem: Arquivo Pessoal/Ingrid Gonzaga]

Os indivíduos do grupo visitante, ainda que sejam desconhecidos entre si, agem como velhos amigos. No escuro, a empatia aflora e, de repente, aquela pessoa que você não sabe quem é está segurando sua mão e te ajudando a explorar o lugar. Nesses momentos começam as primeiras lições que os visitantes podem aprender com a exposição, como por exemplo, a importância de ajudar alguém com deficiência visual a se localizar em um espaço.

A experiência termina com uma roda de conversa em meio à escuridão — um diálogo no escuro. A guia questiona os participantes sobre como eles se sentiram sem conseguir enxergar e quais aprendizados levam da situação. Por fim, há uma grande surpresa que torna toda a exposição ainda mais impactante — e faz valer mais cada momento passado.

Após a exposição

A Jornalismo Júnior entrevistou duas pessoas após a experiência da exposição, uma delas com deficiência visual; a outra, não. Assim, foi possível perceber os diferentes aspectos que a mostra pôde causar nos visitantes, com e sem visão. 

Para o entrevistado com deficiência visual, Alexandre Teixeira Pinto, integrante do time de acessibilidade do Banco Itaú, a exposição foi sensacional “porque as pessoas que enxergam têm um pouco de noção do que é a nossa experiência do dia a dia”, explica. Quando questionado sobre a importância do “Diálogo no Escuro”, ele afirmou que o fato de as pessoas estarem mais cientes das dificuldades das pessoas cegas e com baixa visão faz com que elas comecem a ter mais empatia. “A experiência de saber que as pessoas também estão sentindo a nossa dificuldade é bem bacana”, conclui Alexandre. 

A exposição já esteve no Brasil entre 2015 e 2016, mas agora está mais inovada e restaurada. [Imagem: Arquivo Pessoal/Julia Magalhães]

Já para Cleicy Guião de Oliveira, também integrante do time de acessibilidade do Banco Itaú,  foi uma experiência muito “bacana” e diferente. “Porque imaginamos que seria de um jeito, mas, quando vivenciamos, percebemos que é muito mais que isso”, complementa Cleicy. Ela comenta que ficou mais insegura durante a exposição e, por isso, seus sentidos ficaram mais aguçados. “É só vivenciando que a gente consegue perceber, de fato, o quanto é complexo”, afirma a funcionária do Banco Itaú. Cleicy conta que teve como principal aprendizado da exposição a empatia, a habilidade de se colocar no lugar do outro. Ela finaliza dizendo que agora irá perguntar caso perceba uma pessoa cega desejando atravessar a rua, pois teve uma noção da dificuldade de se localizar por sons. 

A exposição “Diálogo no Escuro” é uma grande oportunidade para que as pessoas que enxergam possam vivenciar por 45 minutos — tempo de duração da mostra —, o dia a dia dos indivíduos com deficiências visuais. Assim como foi dito pelos entrevistados, é necessário se colocar no lugar do próximo e ter empatia por este. A mostra visa ajudar os visitantes a entenderem melhor as dificuldades do outro. 

Nós, como pessoas que passaram por essa exposição, podemos dizer que ela é, de fato, um aprendizado permanente. Por isso, recomendamos que a visitem e vivam essa experiência para a vida toda!

breve texto explicativo sobre a exposição
A exposição ‘Diálogo no Escuro’ foi criada visando a mudanças no ambiente corporativo, com mais diversidade e inclusão. [Imagem: Arquivo Pessoal/Julia Magalhães]

*Imagem de capa: arquivo pessoal/Jornalismo Júnior

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