I don’t know just where I’m going/ But I’m goin’ to try for the kingdom if I can/ ‘Cause it makes me feel like I’m a man/ When I put a spike into my vein/ Then I tell you things aren’t quite the same.
Tradução: Eu não sei exatamente onde estou indo/ Mas eu estou tentando pelo reino, se eu puder/ Porque isto faz me sentir como se fosse um homem/ Quando eu ponho a agulha em minhas veias/ E eu direi a você, as coisas não são mais as mesmas
Por Sofia Mendes (mundodesofiadpaula@gmail.com)
Não é mistério para ninguém que as drogas tiveram um papel importante no desenvolvimento do rock n’ roll. O estilo musical, surgido no final da década de 1940 e consolidado nos “Anos Rebeldes” (década de 1960), teve forte influência de algumas substâncias ilícitas. Além de impulsionar nuances musicais e incentivar produções criativas, as drogas também foram responsáveis pela morte precoce de muitos talentos.
Lucy in the Sky
Quem já ouviu as faixas do álbum dos Beatles “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” sabe que ele não pode ter sido feito em condições “normais”. Com músicas que beiram o experimentalismo, é possível perceber o estilo psicodélico que marcou época.
O disco é influenciado pela dietilamida do ácido lisérgico, mais conhecida como LSD, uma das mais potentes substâncias alucinógenas conhecidas. É impossível não associar o LSD ao movimento do rock psicodélico que chegou aos Estados Unidos e à Inglaterra no final da década de 1960. O estilo buscava replicar os efeitos das drogas alucinógenas, tendo resultados surpreendentes. Puple Haze, do Jimi Hendrix, Break on Through do The Doors, além, claro, de Lucy in the Sky with Diamonds e I am the Walrus do álbum já citado são exemplos famosos de músicas com referências claras a drogas alucinógenas. Além disso, o “doce” (como também é chamado) é associado a algumas descobertas científicas famosas, como a dupla hélice do DNA, proposto por Francis Crick.
A droga tem toxicidade insignificante, mas isso não a torna inofensiva. Segundo o psiquiatra e especialista em abuso de drogas Ivan Mario Braun, “o uso do LSD foi divulgado na época áurea da contracultura e do movimento hippie, como uma forma de ‘expandir a consciência’. Entretanto, quando ficaram claros os prejuízos de seu uso, passou a ser considerada, também, droga de abuso”. Apesar de ser associado a grandes obras musicais e científicas, o LSD pode ser muito perigoso. Além de causar alterações sensoriais imprevisíveis, pode desencadear quadros psicóticos em pessoas predispostas a isso. O médico afirma que a droga não causa dependência. “Por outro lado, o LSD leva a alterações nos neurotransmissores cerebrais que podem levar a uma série de problemas, dos quais os mais conhecidos talvez sejam os ‘bad trips’ e os ‘flashbacks’”, afirma Mario.
Barra Pesada
A música que abre essa matéria chega a ser uma homenagem à droga que a intitula: a heroína. Conhecida como uma droga muito perigosa, foi em sua época áurea (década de 1970) que o rock deixou de ser uma experiência psicodélica para se tornar algo mais pesado. O álbum The Velvet Underground & Nico, do qual a música Heroin faz parte, foi um marco no rock experimental. O vocalista da banda, Lou Reed, não fazia a menor questão de esconder seu vício pela droga.
A heroína também foi responsável por perdas insubstituíveis no rock. Entre suas vítimas estão a cantora Janis Joplin, o vocalista do The Doors Jim Morrison, e Sid Vicious, do Sex Pistols. Entre os efeitos estão a sensação entorpecente e de prazer intenso. “A heroína, entre outros efeitos, estimula receptores nas células nervosas que levam a sensações extremamente agradáveis e, ao mesmo tempo, criam uma grande dependência”, diz Mario. Além de causar dependência, a droga ocasiona sérias crises de abstinência. “Esta síndrome de abstinência muito forte é um dos motivos que mantém as pessoas usando a heroína num ritmo relativamente constante”, afirma o psiquiatra.
Pó de arroz
A cocaína pode não ter tido um papel inspirador do rock tão grande quanto o LSD e a heroína, mas isso não significa que era seu uso era raro. O éster do ácido benzoico tem efeitos anestésicos e pode, em altas doses, causar depressão, convulsões e alucinações. Além disso, é a partir da cocaína que é produzido o crack, droga conhecida como extremamente viciante. Segundo doutor Ivan Mario, “as formas mais perigosas de administração são a endovenosa e a fumada, como, por exemplo, o crack e o oxi, que podem levar a alterações como acidentes vasculares cerebrais ou infartos cardíacos”.
O “pó” também teve seus defensores. Raul Seixas, Elton John e David Bowie e a banda Black Sabbath são ou foram alguns de seus usuários ilustres. Sem contar com a música “Cocaine”, do Eric Clapton.
Mesmo assim, não há droga sem prejuízos. Recentemente, o ex-baixista do Guns n’ Roses, Duff McKagan, operou o nariz para corrigir uma perfuração no septo nasal causado pelo uso da cocaína. E entre as vítimas da droga está o cantor brasileiro Chorão, que chocou o país ao ser encontrado morto por overdose em seu apartamento. Também eram frequentes nos anos 1970 e 1980 as mortes por overdose do combo letal heroína e cocaína.
Cannabis
A polêmica droga é mais uma presente no mundo do rock n’roll. A maconha, que pode ser sedativa, estimulante ou alucinógena, também causou controvérsias no universo musical. Embora Axl Rose admita que até hoje fuma a erva porque “o relaxa”, Raul Seixas (fã da cocaína) era um grande crítico da droga, que, segundo ele, “o deixava lesado”.
Há quem considere a maconha uma droga inofensiva. Mas segundo Ivan, existe o risco de dependência, e ela está relacionada a dificuldades de memória e aprendizado, problemas respiratórios e desencadeamento de problemas psiquiátricos. “Muitas vezes, o argumento dos defensores da “inocência” da maconha é que se trataria de uma droga “natural”. Este tipo de justificativa não faz sentido, pois a natureza é cheia de substâncias tóxicas, também. Basta lembrar os cogumelos venenosos ou o digitális.[…] é importante lembrar que a imensa maioria dos médicos se posiciona contra a maconha, não por uma questão moralista, mas sim porque seus efeitos negativos são comprovados.”, afirma o psiquiatra.
Mesmo assim, não faltam músicas em homenagem à famosa erva: “Mary Jane”, de Janis Joplin, “Rip this joint”, dos Rolling Stones e “Sweet leaf” de Ozzy Osbourne são alguns exemplos.
Overdose de informação
Com tantos fatos e curiosidades é difícil não reconhecer o papel das drogas na formação musical do rock n’ roll. Mesmo assim, é tolice pensar nelas como “responsáveis” por algo (além de mortes e tragédias). Não haveria a psicodélica “Lucy in the Sky with Diamonds” sem seus criadores, os Beatles.
Portanto, mesmo que as drogas tenham tido um papel de destaque em décadas passadas, o perigo e os males que elas causam não são compensados pela suposta elevação do potencial criativo de vários artistas. E ainda que possa haver alguns “sobreviventes”, é fato que muitos deles reconhecem o potencial nocivo das substâncias. Há ainda quem questione até mesmo como conseguiu permanecer vivo após tantos abusos. Vide Keith Richards e Ozzy Osbourne.
Lista de músicas:
Heroin: https://www.youtube.com/watch?v=ffr0opfm6I4
Lucy in the Sky with Diamonds: https://www.youtube.com/watch?v=yDl0qPfkSRw
Purple Haze: https://www.youtube.com/watch?v=39DENARnUtM
Break on Through: https://www.youtube.com/watch?v=cJQwnAhXnBk
I Am the Walrus: https://www.youtube.com/watch?v=Ap6kSV_U45o
Cocaine: https://www.youtube.com/watch?v=Q3L4spg8vyo
Mary Jane: https://www.youtube.com/watch?v=DFsbrA_buNo
Rip This Joint: https://www.youtube.com/watch?v=NehZl_X3hjQ#
Sweet Leaf: https://www.youtube.com/watch?v=mJrvfAgcns4