Por Fernanda Zibordi (fernanda.zpaulo@usp.br)
Na tentativa de fazer uma adaptação digna da grandiosa ficção científica de Frank Herbert, Duna: Parte 2 (Dune: Part Two, 2024) chega aos cinemas como o capítulo intermediário da trilogia planejada por Denis Villeneuve. O diretor tinha a tarefa de aprofundar o que foi introduzido no primeiro filme, ao mesmo tempo em que deveria resolver problemas narrativos do passado.
A trama segue diretamente os acontecimentos finais de Duna (Dune, 2021): após o extermínio da Casa Atreides pelo controle controle da exploração da especiaria no planeta Arrakis, Paul (Timothée Chalamet) se alia aos Fremen, povo nativo do deserto, em busca de vingança. Aprendendo os costumes e o modo de vida nas dunas, o jovem passa a compreender seu lugar no mundo e na guerra que está se iniciando.
Mesmo que o roteiro de Duna: Parte 2 se beneficie de não ter extensas contextualizações – por tratar-se de uma sequência –, é evidente o primoroso trabalho e cuidado colocado nele. O ritmo aqui é bem mais frenético do que no filme anterior, que foi uma grande introdução ao universo. Agora, as engrenagens finalmente começam a girar velozmente, mas sem perder o controle em nenhum momento.
O trabalho de Villeneuve e Jon Spaihts, aliado aos retoques finais de Craig Mazin – conhecido nos últimos anos pelas séries Chernobyl (2019) e The Last of Us (2023)-, apresenta uma história com vários núcleos narrativos bem interligados e traz temas relevantes para além de uma sociedade futurista fictícia, como o fanatismo religioso e a exploração de povos. A jornada de cada personagem se faz única e arrepiante até os últimos momentos, sempre transmitindo a sensação de grandeza da história, mas com a esperteza de não apelar por tramas desnecessariamente complexas.
E falando sobre personagens, outro ponto muito elogiado, desde o primeiro volume da saga, é o elenco de peso. Aqui, ele se encontra ainda melhor, a começar pelo protagonista: antes um Chalamet mais contido, que acabava por vezes não convencendo em ser a figura de um messias, agora interpreta brilhantemente um Paul Atreides a se temer, mas também a se torcer pelo sucesso em recuperar o poder de sua família.
Outros atores, principalmente Zendaya, Rebecca Ferguson e Javier Bardem, recebem o merecido destaque e aprofundamento de seus personagens, cada um cumprindo muito bem seu papel dentro do séquito de Lisan al Gaib, figura messiânica para o povo Fremen. Alguns novos nomes no elenco são Christopher Walken, Florence Pugh e Austin Butler, que, mesmo com pouco tempo de tela, entregam interpretações cativantes.
A respeito da parte técnica, pode-se afirmar que ela é uma das grandes estrelas do filme. Por meio da junção dos trabalhos de diversos setores da produção, a sensação de imersão na realidade e nos acontecimentos de Arrakis é completa. Os figurinos são condizentes com a cultura e o clima do planeta, enquanto a trilha sonora, apesar de não ser um dos trabalhos mais inspirados de Hans Zimmer, entrega emoção e peso necessários para o enredo.
Algumas críticas vão para a mixagem de som, que tem suas qualidades e importância em transmitir ao telespectador a grandiosidade da história de Duna (Aleph, 2021), mas abusa demais do chamado efeito de som ‘Braam’ para isso. Não abrir tanto espaço para faixas mais suaves da trilha sonora e optar constantemente pelo uso desses sons intensos acaba por ser um tiro no pé da produção: se completamente tudo é épico, então nada é.
Por outro lado, há a fotografia estonteante do longa, que foi filmado em locais como Jordânia e Abu Dhabi durante as sequências na areia. Ela utiliza-se de menos efeitos especiais que a tendência blockbuster atual, trazendo mais realidade às cenas. No entanto, quando se faz necessário trazer elementos fantásticos, a execução de CGI é bem feita, retratando naves e seres descomunais de forma impressionante. O fato de ser um filme construído em poucas cores e tonalidades, às vezes até em preto e branco, também combina com a ambientação e acrescenta identidade à obra.
Ainda que se estenda um pouco mais do que devia e perca boas oportunidades de terminar com chave de ouro, a conclusão do segundo volume da trilogia consegue seguir na mesma linha do que foi mostrado nas mais de duas horas e meia de filme: fascinante e impactante.
Reunindo trabalhos competentes em todas partes da produção, Duna: Parte 2 é uma rara e bem-vinda adição para o gênero ficção científica. Entrega uma ótima continuidade à história do planeta deserto e supera seu antecessor em praticamente todos os aspectos. Recomendado que o filme seja visto no cinema, é uma experiência a mais.
O filme já está em cartaz no cinema. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/ Warner Bros