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Entre o riso e o tabu: conheça os filmes stoner

Aventuras chapadas, desafios absurdos e humor canábico se revelam no gênero pouco conhecido

A Porta da Loucura (Reefer Madness, 1936), filme produzido pelo governo estadunidense como conto preventivo acerca do uso da maconha nos anos 1930, se inicia com um prefácio assustador. Primeiro de muitos do estilo, o filme, assim como Erva do Diabo (She Shoulda Said No!, 1949), Assassin of Youth (1938) e Marihuana (1936), foi resgatado décadas depois com um propósito diferente: o de fazer rir.

“O filme que você está prestes a assistir pode assustá-lo. Não seria possível, de outra forma, enfatizar suficientemente o preço assustador da nova ameaça das drogas que está destruindo a juventude da América em números alarmantemente crescentes. A Marijuana é essa droga – um narcótico violento – um flagelo indescritível – O verdadeiro inimigo público número um! […]. Porque a ameaça da Marijuana pode ser a próxima a atingir seu filho ou filha… ou você!”.

Em A Porta da Loucura, a propaganda é explícita, sensacionalista e amedrontadora - ou era, antes de virar piada.
Em A Porta da Loucura, a propaganda é explícita, sensacionalista e amedrontadora – ou era, antes de virar piada. [Imagem: Reprodução/YouTube/G and H Production]

A exibição dos chamados “filmes de exploração da cannabis” era feita de maneira irônica nas sessões da meia-noite nos cinemas na década de 1970, um período em que os movimentos de contracultura haviam acabado de florescer. É nesta época que ocorrem as produções dos primeiros filmes stoner, ou, em português, filmes chapados ou de maconheiro. Neste subgênero da comédia, é essencial que a maconha e seu uso recreativo estejam no centro da narrativa e que, sob efeito da droga, os personagens embarquem em aventuras, das mais absurdas peripécias a tarefas cotidianas, cuja relevância é aumentada sob as lentes da erva.

Pouco conhecido, o gênero é extremamente amplo e abarca filmes que pertencem a este e outros estilos: stoner e de crime, stoner e slasher, stoner e ação e muitos outros. O foco na amizade entre protagonistas é comum em quase todos os longas do tipo, o que classifica a maioria deles como, também, buddy movie ou filmes de amizade. Nesses filmes, o protagonismo masculino é mais comum, mas existem exceções, como Marijuana, Meu Amor (Smiley Face, 2007), estrelado por Anna Faris.

A dupla humorística Cheech e Chong foi sucesso nos anos 1970 e 1980 com seus filmes de maconheiro, a começar por Queimando Tudo (Up in Smoke, 1978).
A dupla humorística Cheech e Chong foi sucesso nos anos 1970 e 1980 com seus filmes de maconheiro, a começar por Queimando Tudo (Up in Smoke, 1978). [Imagem: Reprodução/YouTube/Paramount]

Outro aspecto quase imprescindível está no elenco: é muito raro ver um filme stoner que não tenha atores e atrizes de alto calibre no centro da narrativa ou em cameos. Para muitos, eles até aparecem interpretando eles mesmos, como no filme É o Fim (This is the End, 2013). Grandes nomes que também apareceram em stoners são Keanu Reeves, em Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica (Bill & Ted’s Excellent Adventure, 1989), Matthew McConaughey, no aclamado Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused, 1993) e Joaquin Phoenix, em Vício Inerente (Inherent Vice, 2014). Alguns outros atores são, inclusive, mais associados a este tipo de filme por estarem presentes em vários, como James Franco, Jonah Hill e Seth Rogen.

Exageros e estigmatização

Atualmente, filmes e séries têm o uso crescente da maconha como parte não relevante da narrativa, de maneira semelhante a sua presença na vida de milhões de pessoas. No entanto, quando inserida nos stoner movies mais populares, a droga pode ser atrelada a aventuras absurdas que, enquanto entretém, tomam liberdade narrativa de exagerar nos efeitos e consequências de seu uso. Autodeclarados maconheiros, Beatriz, psicóloga pela PUC São Paulo, e Valesca, internacionalista pela USP e militante do PSOL, identificaram que, apesar destes filmes divertirem, eles podem impressionar não fumantes que não conhecem os reais efeitos da erva. 

“Nunca vi ninguém tão chapado quanto as pessoas nesses filmes. É óbvio que tem um exagero hollywoodiano que quem fuma maconha entende melhor dos que não fumam e não tem contato com a droga. Para quem não sabe como é de verdade, rola até uma imbecilização, tipo ‘esses nóias fumam droga e ficam fazendo merd#, sendo que não é assim, a gente só fuma e fica de boa. Nunca vi ninguém chapado se enfiar em aventuras que nem o pessoal nesses filmes. Normalmente, a gente só pede uma pizza e dorme, essa é a aventura do maconheiro”, brincou Beatriz.

Em Segurando as Pontas (Pineapple Express, 2008), a amizade entre o carismático traficante Saul (James Franco) e o azarado Dale Denton (Seth Rogen) floresce.
Em Segurando as Pontas (Pineapple Express, 2008), a amizade entre o carismático traficante Saul (James Franco) e o azarado Dale Denton (Seth Rogen) floresce. [Imagem: Reprodução/Prime Video/Columbia Pictures]

“Acho que o público não fumante tende a estereotipar. Justamente por ser um filme cômico, acho que vão exagerar no que é o efeito da maconha. Uma pessoa que é maconheira vai achar divertido, gostar e entender isso como uma coisa natural, que essas pessoas são funcionais. Já uma pessoa não usuária – se ela  é dominada pelo senso comum – tende a estereotipar ainda mais. Mas também não acho que isso é um problema, porque o objetivo desse tipo de filme não é fazer um debate sobre o tema. São filmes de comédia, comédias meio escrachadas”, acrescentou Valesca.

Além disso, outro aspecto presente em muitos stoners é o gran finale: números musicais, combates, lutas, tiroteios, explosões e estímulos a perder de vista. Ainda que comum, o final estrondoso pode ser visto apenas como um recurso narrativo para encerrar o filme, parte da fórmula de roteiro de muitos gêneros, sobretudo ação e aventura, estilos com os quais os stoners recorrentemente se mesclam. Ao mesmo tempo em que, para alguns, esses finais exagerados impressionam o público não fumante, outros argumentam que o exagero explicita a ficção e que não deve ser levado como um estudo acerca das consequências do uso da droga.

O maconheiro funcional

Enquanto alguns filmes focam na magnitude das aventuras e da alteração mental, outros preferem trazer situações absurdas enfrentadas por personagens que precisam estar chapados para que consigam desempenhar tarefas. Vício Inerente, do norte-americano Paul Thomas Anderson, e O Mestre da Fumaça (2022), dos diretores brasileiros André Sigwalt e Augusto Soares, são exemplos do segundo tipo.

A tensão entre maconheiros e a polícia, no contexto da ilegalidade da maconha, raramente passa despercebida nos stoners.
A tensão entre maconheiros e a polícia, no contexto da ilegalidade da maconha, raramente passa despercebida nos stoners. [Imagem: Reprodução/HBO Max/Warner Bros]

Em Vício Inerente, Doc (Joaquin Phoenix) é um detetive particular que se envolve em uma trama de relações de poder e crime em Los Angeles à procura de sua ex-namorada, Shasta (Katherine Waterston). Metodicamente chapado, ele chega a anotar os efeitos que a maconha causa em seu corpo junto com as informações para desvendar os mistérios do desaparecimento. Com muitas celebridades, como Reese Witherspoon, Owen Wilson, Josh Brolin, Martin Short, Jena Malone, Maya Rudolph e ainda Hong Chau – de A Baleia (The Whale, 2022) e O Menu (The Menu, 2022) – no início de sua carreira, as relações e histórias do submundo de Los Angeles divertem e intrigam o espectador.

Ao contrário do que é muitas vezes sugerido sobre usuários de maconha, Doc é extremamente atencioso e detalhista, e, apesar de igualmente chapado, desempenha de forma competente seu trabalho e conduz a investigação melhor do que a polícia. Sem deixar pontas soltas, é generoso com todas as muitas pessoas que encontra, mesmo que isso não o ajude em seu objetivo. Ainda, ele apenas usa de violência quando em legítima defesa ou quando não há alternativas, ao invés dos personagens ligados à polícia, que, além de fisicamente violentos, também reproduzem essa atitude na fala.

Primeiro longa-metragem stoner brasileiro, O Mestre da Fumaça traz a maconha como o espinafre do “efeito Popeye”: ela é imprescindível para o kung fu chapado.
Primeiro longa-metragem stoner brasileiro, O Mestre da Fumaça traz a maconha como o espinafre do “efeito Popeye”: ela é imprescindível para o kung fu chapado. [Imagem: Divulgação/Lança Filmes]

De maneira parecida, em O Mestre da Fumaça, também são retratados maconheiros que não só fogem do estereótipo de preguiçosos, como praticam uma arte marcial baseada no uso da maconha. Apesar de ser um filme de ação e kung fu, a narrativa não é violenta, e se constrói na defesa contra o mal que os irmãos Daniel (Thiago Stechinni) e Gabriel (Daniel Rocha) precisam combater. Leia mais sobre o filme na resenha do Cinéfilos.

Em conversa com a Jornalismo Júnior, os diretores do longa André e Augusto esclareceram a intenção de não só trazer o lado positivo da maconha, mas também retratar de maneira diferente o maconheiro como aquele que resolve problemas e é ativo – além de poder ser qualquer pessoa. Em coletiva de imprensa na sessão de O Mestre da Fumaça, os diretores e o ator Daniel Rocha pontuaram a importância da autodeclaração como maconheiro. A partir disso, poderia ocorrer o resgate do termo para que não seja algo pejorativo, e sim apenas uma descrição. Segundo eles, essa “saída do armário” de maconheiro pode ajudar a avançar o debate pela legalização da droga, pois explicita que pessoas que fogem ao estereótipo de desocupadas, criminosas e imbecilizadas também utilizam a erva.

Questionado sobre a autodeclaração, Valesca comentou: “Acho que é positivo e progressivo, porque isso ajuda as pessoas a naturalizarem. Você percebe que o maconheiro não é só o estereótipo que geralmente as pessoas imaginam – inclusive atrelado ao racismo –  de um jovem negro e favelado, mal vestido, bandido, vagabundo, que não faz nada e não tem mãe. Nem o playboy que não trabalha, encostado para fumar maconha ou o estudante universitário que supostamente não faz nada da vida”. 

“Você vai perceber que o entregador de aplicativo fuma maconha, o senhor com câncer, o seu pai, o empresário, dono de empresa, o CEO e as pessoas de direita fumam maconha. Essas pessoas existem. Se autoafirmar ajuda a mostrar o quanto a maconha é parte da sociedade, assim como o álcool, o açúcar, o tabaco, o café e os remédios”, acrescentou.

Apesar de apresentarem diversos tipos de pessoas maconheiras, os stoners ainda retratam, em sua maioria, jovens adultos.
Apesar de apresentarem diversos tipos de pessoas maconheiras, os stoners ainda retratam, em sua maioria, jovens adultos. [Imagem: Divulgação/Universal Picture]

Beatriz complementou: “Não sei dizer o que [a autoafirmação] faz pela luta da legalização. As pessoas que falam ‘sou maconheiro’ podem ajudar a normalizar um pouco. Talvez, se pessoas que a gente não esperaria que fossem maconheiras saíssem do armário. Não só músicos e artistas maconheiros, todo mundo. Queria que algum político de alto escalão, algum grande intelectual, alguma escritora [renomada] brasileira [se declarassem maconheiros]”.

Apesar de poder contribuir para a desestigmatização em torno da maconha, a autoafirmação na vida individual e a representação mais positiva nas telonas não são o centro do debate para Valesca, que elaborou: “[É importante] quebrar o estereótipo do que é o maconheiro e mostrar que as pessoas têm relações distintas com a maconha e que a grande maioria delas, inclusive, é perfeitamente funcional. Que não é um bicho de sete cabeças, não é um monstro”.

“Nesse sentido, acho que contribui para a naturalização e para termos um debate mais franco, transparente e sincero, descolado do lugar do moralismo, mas em um debate de redução de danos, de saúde pública. Ainda acho que o centro dessa disputa da luta pela legalização está no intercruzamento entre a autoafirmação, o encontro do ‘maconheiro’ com a luta antirracista”, concluiu.
 

Proibicionismo, racismo e a assimilação pelo mercado

Embora a maconha faça parte do cotidiano de muitos, a maneira com a qual ela é vista pela sociedade ainda é tabu. Isso se deve ao processo de séculos de proibicionismo da droga, que está intimamente atrelado às origens racistas das leis que o instauraram. Jordane Costa Oliveira, jurista formado pela PUC de Minas Gerais, escreveu sobre esse histórico para o Canal Ciências Criminais, publicado no Jusbrasil. Ele afirmou que o proibicionismo é uma política pública articulada por grupos morais radicais: “Os integrantes desses grupos acreditavam que as drogas desapareceriam do mundo caso houvesse leis suficientes para a proibição, embora a história nos revele que elas sempre estiveram presentes na vida”.

Disponível na Netflix, Baseado em Fatos Raciais (Grass is Greener, 2019) é um documentário que mostra como a história da proibição da maconha está relacionada ao racismo.
Disponível na Netflix, Baseado em Fatos Raciais (Grass is Greener, 2019) é um documentário que mostra como a história da proibição da maconha está relacionada ao racismo. [Imagem: Divulgação/Netflix]

Com a chegada da maconha ao continente americano por meio de povos escravizados, e a subsequente entrada no resto do mundo a partir da sua assimilação pelos que os traficaram, a droga foi primordialmente associada à população preta, e a sua proibição pode ser vista como uma criminalização direta desse povo. O jurista ainda chamou a atenção para a realidade da maconha na história: “O consumo dessas substâncias psicoativas é um fato histórico de diversas civilizações, e suas finalidades são incontáveis. A história das drogas é bem remota e pode ser confundida com a existência da humanidade. Existem relatos de que a Cannabis Sativa [maconha] era cultivada mil anos antes de Cristo. Tal fato nos revela que, desde os primórdios, o ser humano tem contato com substâncias psicoativas”.

Para os diretores de O Mestre da Fumaça, a ilegalidade – com a qual não concordam – é parte do motivo pelo qual o gênero stoner integra a comédia. Eles identificaram que, por ser ilegal, há um constrangimento e uma sensação de proibição que aumenta o potencial de riso nos espectadores. No entanto, quando questionados se a interação com o filme mudou em regiões em que a droga já é legalizada, a resposta foi negativa.

A série Weeds, que começou com a trajetória de uma família que traficava maconha, inseriu lojas regularizadas da droga na narrativa após a legalização na vida real, como lembrou Augusto.
A série Weeds, que começou com a trajetória de uma família que traficava maconha, inseriu lojas regularizadas da droga na narrativa após a legalização na vida real, como lembrou Augusto. [Imagem: Reprodução/Netflix]

Valesca avaliou que a popularidade dos filmes e a quantidade de produções com a maconha inserida no cotidiano é uma resposta, na arte, ao que acontece na vida real. “As drogas, historicamente, têm momentos em que são mais ou menos utilizadas, como o ópio na Idade Moderna. Hoje, a maconha é uma droga que está bastante pop e acho que aparece na cultura, na produção cinematográfica de massas e até nesses filmes”, afirmou.

À exemplo de demais pautas sociais, como o movimento LGBTQIAPN+, o feminismo e o antirracismo, todos os entrevistados pela Jornalismo Júnior pontuam que a maconha já começa a entrar no mercado. Em grandes redes de comércio, é possível comprar sedas, camisetas, meias e adereços que fazem alusão à erva ou almejam o público maconheiro. Essa tendência mostra que a maconha e seu uso são reconhecidos – e que ignorar essa parcela consumidora é deixar de fazer dinheiro -, o que pode apontar um passo na direção da legalização, como explicaram os diretores de O Mestre da Fumaça.


Tabu, ainda no cinema

Apesar de considerarem O Mestre da Fumaça um case de sucesso – por ter saído do papel e chegado às telonas-, os diretores do filme reconheceram algumas situações de preconceito que vivenciaram em relação à temática do filme. “A gente sentiu em alguns lugares, pessoas, empresas e cinemas um medo da questão da maconha. Mudamos o trailer – tiramos as maconhas – para ele não ser um trailer [com classificação] de 18 anos. Algumas pessoas que a gente conhece se sentem um pouco reticentes em falar do filme e de postar sobre ele nas redes sociais, mesmo as imagens que não tem maconha. […] A gente ainda tem a maconha como uma coisa pejorativa na sociedade”, contou Augusto.

“A gente percebe, conforme vamos fazendo as reuniões, que a maconha tem um peso na hora de fechar o negócio, de conseguir passar em uma sala de cinema ou conseguir alguma veiculação na mídia. Mesmo assim, a gente conseguiu muita coisa. Mas teríamos tido muito mais acesso se não houvesse um preconceito. E não falo da  ilegalidade da maconha, que é um fato. Mas a ilegalidade da maconha no cinema, enquanto um tema, não existe. É uma fantasia. Posso falar o que quiser aqui, é um filme para adulto, não tem nada de ilegal em brincar com o tema”, completou André. 

Os diretores ainda compartilharam uma resistência da classe artística brasileira na recepção do filme. “Tive uma impressão muito clara de que o nosso filme levou para o cinema um público que não tem o costume de ir, muito por conta da temática. E que a gente não levou o público tradicional do cinema brasileiro, que é o público que pode ser quem trabalha no cinema, quem estuda cinema, foi pouca gente. A maioria dos cineastas brasileiros – tem uma série de exceções que eu conseguiria citar – torceu o nariz: ‘É um filme de gênero’, ‘é um filme de maconha’, ‘é um filme de humor estranho’. E eles não vieram. A classe artística não abraçou o filme”, desabafou André.

No drama brasileiro Bicho de Sete Cabeças (2000), Rodrigo Santoro interpreta Neto, maconheiro que sofre consequências duras e desproporcionais uma vez que é descoberto.
No drama brasileiro Bicho de Sete Cabeças (2000), Rodrigo Santoro interpreta Neto, maconheiro que sofre consequências duras e desproporcionais uma vez que é descoberto. [Imagem: Divulgação/RioFilmes]

A leitura de André e Augusto é que essa resistência e preconceito são prejudiciais ao cinema. “Esse tipo de atitude é tão limitante para o pensamento artístico e de um cinema plural brasileiro. O Brasil, que já produziu cinema marginal, cinema novo e uma série de coisas, está com muita dificuldade de levar o público [ao cinema]”, concluiu André, com uma crítica de que a falta de apoio aos filmes de gênero coloca em risco a diversidade da sétima arte brasileira e as salas de cinema, em longo prazo.

Outra barreira que os filmes stoner encontram é de sua definição como gênero e sua visibilidade. Apesar de ter seu próprio nome em inglês, página na Wikipédia e listas de filmes dedicadas na web no Dia da Maconha, 20 de abril, pouco conteúdo é encontrado sobre o estilo nos canais de YouTube que comentam sobre cinema. Outros subgêneros da comédia, do terror e do drama são temas de trabalhos acadêmicos, video essays, maratonas nas plataformas digitais e canais de TV, além de mais facilmente reconhecidos pelos amantes do cinema. Uma rápida pesquisa pelo termo stoner movies, até o final da redação desta matéria, resulta apenas em algumas poucas listas de filmes do gênero, sem definições adicionais, nem eventos relacionados. 

Ainda é incerto se isso se deve ao gênero ser nichado ou à reticência de grandes veículos em retratá-lo. “Não precisa gostar de aranha para gostar do Homem-Aranha”, brincou Augusto. Assim como outras manifestações artísticas e produções culturais, ignorar os filmes stoner por discordância pessoal ou suposta irrelevância e falta de valor artístico daquilo voltado para divertir seria deixar de reconhecer parte da vida que é imitada e imita a arte. Mas deixar de assistir, a ponto de não se divertir com ela? “Que desperdício!”, como diria o professor Perlman (Michael Stuhlbarg) em Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, 2018).

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