Felipe Maia
Acredito que um bom roteiro já é meio caminho andado para um bom filme. Breno Silveira, na sua nova empreitada, tinha um ótimo roteiro: Romeu e Julieta. É um Romeu e Julieta revisitado, com as adições dos conflitos modernos e dos problemas brasileiros. Mas é uma história de amor que encanta por sê-la. E pára por aí.
No filme, Dé (o global Thiago Martins) é um garoto de um morro carioca que trabalha para sustentar a mãe. A vida do rapaz é sofrida, desde pequeno ele se vê imersos em problemas e tristezas justamente pela sua condição. O par está formado com Nina (Vitória Frate). A garota é linda e rica, mas, assim como Dé, não acredita na prisão a qual sua posição social impõe.
A partir daí a trama se desenrola com pitadas de originalidade — que haveriam de surgir, indubitavelmente. Entretanto, elas ficam somente nesse ponto. Em seus planos, Breno Silveira aproveita os cenários do morro e do asfalto de maneira excessiva e acaba criando uma visão minimalista das coisas. Em matéria de amor, principalmente em matéria de amor do século XXI, tudo é muita coisa — ainda mais em se tratando de um casal de jovens.
Outro fator que não cola mais é o romantismo. Ele pode até existir, mas não do modo como é mostrado na película. É algo exagerado, transbordante. Em algumas cenas só faltam subir anjos aos céus, explodirem fogos de artifício e caírem pétalas de rosa. O clima não é coerente com o recorte da realidade proposto por Breno. Esse clima só não cai em completo descaso graças à trilha sonora. Essa é muito boa. Marisa Monte coordenou essa parte e fez um bom trabalho. Destaque para Luiz Melodia cantando a música tema do casal, Minha Rainha — grande canção.
O diretor de Dois Filhos de Francisco vem, nessa fita, provavelmente repetir o feito de grande bilheteria. A história comove e é gostosa de se ver. Não vale como discussão da sociedade ou da violência — talvez não tenha sido esta a proposta de Breno, e nem o que eu penso que deva ser feito. O filme vale para ser visto sem maiores reflexões sócio-economico-politico-etc. É uma história de amor cujo final deixa a sensação de que “só poderia ter acabado assim”. Claro: esse enredo você conhece, nem que seja de ouvido.