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‘Eternidade’: a oposição entre diferentes fases do amor

Longa mistura comédia e drama em um enredo cativante, mas não escapa da previsibilidade
Por Hellen Indrigo (hellenindrigoperez@usp.br

Uma das grandes dúvidas que afligem a humanidade é o que acontece após a morte. Enquanto alguns creem em definições religiosas, outros acreditam haver apenas o vazio. Mas e se a vida póstuma dependesse de uma única escolha pessoal, que jamais poderá ser alterada ao longo de toda a existência no além? É essa perspectiva que orienta a trama de Eternidade (Eternity, 2025), comédia romântica produzida pelo estúdio A24 que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (04).

Após morrer em um trágico acidente envolvendo pretzels, o idoso Larry (Miles Teller) acorda em um trem que transporta recém falecidos rumo ao pós-vida. Com uma aparência décadas mais jovem e muitas perguntas, ele desembarca na Encruzilhada, um local extremamente movimentado que mais se parece com um shopping em horário de pico. Ali, cada finado é acompanhado por um coordenador de pós-morte e tem o prazo de uma semana para escolher onde passar a eternidade.

Por meio de interações bem-humoradas com sua coordenadora pessoal, Anna (Da’Vine Joy Randolph), Larry é apresentado a centenas de possíveis destinos para a vida póstuma, desde o Mundo Praia até um universo de fumantes (“porque o cigarro não pode te matar duas vezes!”). As opções de eternidade são oferecidas por vendedores em uma lógica semelhante à publicidade de destinos turísticos, mas há um adendo: uma vez feita, essa escolha jamais poderá ser alterada.

O carisma da personagem de Randolph destaca-se de forma positiva e conduz parte do desenvolvimento dos protagonistas [Imagem: Reprodução/TMDb]

Quando sua esposa, Joan (Elizabeth Olsen), também chega ao mundo dos mortos após falecer em decorrência de um câncer, Larry acredita que tudo o que precisam fazer é entrar em consenso sobre onde irão viver 一 no sentido não literal da palavra, claro 一 juntos para sempre. Entretanto, essa escolha mostra-se infinitamente mais complexa quando Joan é confrontada por Luke (Callum Turner), seu primeiro marido que morreu na guerra, e descobre que ele permaneceu na Encruzilhada por 67 anos com o objetivo de reencontrá-la.

Não é preciso olhar à fundo para notar que ser original não é o objetivo de Eternidade. Sua premissa é semelhante à de Amor(es) Verdadeiro(s) (One True Loves, 2023) e à de outros filmes marcados por triângulos amorosos, o que faz com que a trama perca parte do apelo devido à repetição. Por outro lado, a obra é bem sucedida no principal quesito que determina o sucesso das comédias românticas: gerar identificação por meio da autenticidade dos sentimentos representados na tela.

O roteiro de David Freyne e Pat Cunnane utiliza um emaranhado de pequenos detalhes, falas e gestos para transformar os personagens em metáforas, tecendo reflexões que revelam a oposição entre diferentes fases do amor. Larry representa a intimidade e o companheirismo para Joan, embora em um contexto em que a intensidade do sentimento parece ter sido ofuscada pelo costume. Já Luke surge como a figura da paixão ardente e da idealização, um conjunto de sensações amplificadas pela distância e pelo desconhecido.

Ao decorrer do longa, Joan fica dividida entre a solidez de Larry e a devoção de Luke [Imagem: Reprodução/TMDb]

A direção sensível, também de David Freyne, e o combo de ótimas atuações emergem o espectador nessa dualidade, tornando o drama enfrentado por Joan mais verossímil. É fácil se colocar no lugar da personagem de Olsen ao acompanhá-la lutando para escolher entre passar a eternidade com o homem que esteve décadas ao seu lado ou ter a oportunidade de viver o futuro que lhe foi tomado pela morte precoce de seu primeiro amor. 

Contudo, apesar de contar com um enredo que abre margem para um desenvolvimento assolador, a obra opta por não correr grandes riscos e dilui parte do drama em meio à comédia. O absurdo do universo em si, as provocações entre os maridos e as interferências dos coordenadores de pós-morte, Anna e Ryan (John Early), compõem momentos de alívio cômico que se distanciam do sentimentalismo presente na relação entre os protagonistas.

Essa escolha é como uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que acrescenta um caráter ainda mais simpático aos personagens e transforma o longa agridoce em uma experiência leve, também limita seu impacto. Eternidade transita de maneira equilibrada entre humor, drama e romance, mas não tem a intenção de ultrapassar um limite claro e mergulhar completamente em algum desses pontos. 

As cores vibrantes e os cenários surreais colaboram para o tom criativo e humorístico da obra [Imagem: Reprodução/TMDb]

Embora seja simplista, o desenvolvimento da trama é cativante. A construção coerente dos protagonistas e o dinamismo da ambientação abrem margem para uma série de reviravoltas, capazes de prender verdadeiramente a atenção do público. Mas, apesar de algumas tentativas, Eternidade enfrenta dificuldades em surpreender ao optar pelo caminho da previsibilidade e culminar no clichê. O resultado é uma obra divertida e até emocionante, mas que não chega a ser inesquecível.

Eternidade já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Reprodução/TMDb

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