Por Breno Marino (brenomarino2005@usp.br)
Localizada no norte da Europa, a Dinamarca conta com aproximadamente 5,9 milhões de habitantes. O país é conhecido por ser um dos territórios habitados pelos vikings. No futebol, o país possui apenas dois títulos — uma Eurocopa e uma Copa das Confederações. Na Eurocopa de 2024, a seleção tenta surpreender e ultrapassar seus próprios limites.
O histórico na competição
A Dinamarca busca seu segundo título no torneio. O primeiro foi conquistado em 1992, na Suécia, em final contra a Alemanha, vencida pelo placar de 2 a 0. Peter Schmeichel, capitão da seleção, foi o grande nome na conquista, sendo fundamental com suas defesas, incluindo a disputa de pênaltis contra a Holanda na semifinal da competição.
Essa conquista, surpreendentemente, só aconteceu graças a um mandato da Organização das Nações Unidas (ONU). Isso ocorreu porque a Iugoslávia, em meio à guerra na região dos Balcãs, foi banida pela instituição de participar de qualquer evento esportivo. Assim, a vaga que estava destinada ao país passou para aquele que ficou atrás na fase de qualificação: a Dinamarca. Os jogadores dinamarqueses, que já estavam de férias em seus clubes, foram chamados às pressas. Michael Laudrup, craque do Barcelona na época, em meio a comemorações da conquista da Copa da Europa (atual Champions League) e uma briga com o técnico Møller Nielsen, não acatou ao chamado.
A final contra a Alemanha ficou marcada pela criação de uma nova regra no esporte. Depois de abrirem 1 a 0 no placar, os torcedores que assistiam ao jogo acusaram os jogadores do país escandinavo de “antijogo”, já que os defensores da seleção adotaram a estratégia de recuar a bola ao goleiro, que, por sua vez, podia agarrar com as mãos e gastar tempo. Assim, um ano depois, a FIFA, junto à International Board, definiram que o goleiro deve jogar com os pés sempre que recebe a bola de um jogador de sua equipe pelo pé.
Seleção Dinamarquesa de 1992 erguendo a taça da Eurocopa [Reprodução/Youtube: UEFA]
A última Euro: do desespero ao quase sonho
A última vez que a seleção disputou a competição, em 2021, foi marcada por um triste incidente envolvendo o craque da equipe, Christian Eriksen. O meio campista sofreu uma parada cardiorrespiratória na primeira rodada do torneio, em jogo contra a Finlândia. Graças a rapidez e prontidão da equipe médica presente no estádio, além do apoio dos demais jogadores da Dinamarca, o jogador conseguiu ser socorrido e encaminhado ao hospital.
Mesmo com a perda e impacto do ocorrido com a figura central da seleção, o elenco se uniu e conseguiu chegar às semifinais da Eurocopa, perdendo para a Inglaterra em partida de arbitragem controversa.
A recuperação de Eriksen é tida pelos médicos envolvidos como um milagre, principalmente o retorno dele aos campos, sem danos graves [Reprodução/Twitter: @CalcioFinanza]
O caminho até a Euro
Depois de uma apresentação decepcionante na Copa do Mundo de 2022, caindo na fase de grupos da competição, a Dinamarca se classificou para a Eurocopa em primeiro lugar nas eliminatórias. A chave contava com Eslovênia, que passou com a segunda colocação, Finlândia, Cazaquistão, Irlanda do Norte e San Marino. Ao todo, foram dez jogos, sete vitórias, um empate e duas derrotas – para Cazaquistão (3 a 2) e Irlanda do Norte (2 a 0), ambas fora de casa.
Antes de chegar à competição, a seleção dinamarquesa jogou quatro amistosos. Dentre eles, foram três vitórias, contra Ilhas Faroé, Suécia e Noruega, e um empate, contra a Suíça.
Um grupo difícil pela frente
No sorteio da competição, o país escandinavo caiu no grupo C, ao lado de Inglaterra, Sérvia e Eslovênia. Para avançar à próxima fase, a equipe terá que superar: uma das favoritas à conquista da Euro 2024, a seleção inglesa; um plantel técnico e de muita força física, como a seleção sérvia; e a Eslovênia, um oponente que já havia enfrentado nas eliminatórias, empatando o primeiro confronto e vencendo o segundo.
Para o técnico Kasper Hjulmand, em entrevista à UEFA, a Dinamarca terá pela frente três equipes muito boas e equilibradas. “A Eslovênia é uma seleção muito nivelada. Nós a encaramos duas vezes, e eu fiquei impressionado com a clara estrutura deles. Já a Inglaterra será um adversário muito difícil de ser ultrapassado, uma noz difícil de quebrar, e que provavelmente ganhará um título nos próximos anos. E por fim, a Sérvia, que é um time muito talentoso, principalmente ofensivamente. Eles podem enfrentar qualquer um quando estão no auge”, afirma.
Os craques da seleção
Kasper Schmeichel
Filho do ex-goleiro e ídolo dinamarquês, Peter Schmeichel, o jogador decidiu seguir os passos de seu pai e se tornar um jogador de futebol, na mesma posição. O atleta foi peça fundamental do título inglês do Leicester City, conquistado na temporada 2015/16. Além disso, Kasper teve performances excelentes pela seleção e se destaca como um dos mais experientes da equipe, justificando a capitania que recebe quando Kjaer não começa como titular. Atualmente, o goleiro atua no Anderlecht, da Bélgica.
Schmeichel completou 100 jogos pela Dinamarca em 23 de Março de 2024, o que demonstra sua qualidade e importância para a equipe. [Reprodução/Twitter:@kschmeichel1]
Andreas Christensen
Zagueiro do Barcelona, o atleta é um dos principais nomes da defesa da Dinamarca. Mesmo em temporada abaixo em seu clube, Christensen é uma peça muito importante na seleção, dando segurança e contribuindo com sua capacidade aérea e técnica para sair jogando da defesa.
Christensen é campeão espanhol e da Supertaça da Espanha pelo Barcelona, ambas conquistadas na temporada 2022/23 [Reprodução/Twitter: @BarcaTimes]
Pierre-Emile Højbjerg
Jogador do Tottenham, da Inglaterra, o volante teve boas atuações na temporada, mesmo com a equipe oscilando bastante. Com características defensivas e boa capacidade de ligação entre a defesa e o meio-campo, o dinamarquês é um bom “cão-de-guarda”, essencial na transição da fase defensiva para a ofensiva.
Pela seleção dinamarquesa, Højbjerg tem 77 jogos e dez gols [Reprodução/Twitter: @@dbulandshold]
Christian Eriksen
Depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória na última Eurocopa, Eriksen conseguiu dar a volta por cima e voltar aos campos. Em um Manchester United de muita instabilidade, o meia consegue mostrar todo o seu potencial na seleção, demonstrando sua técnica e inteligência, tanto para criar jogadas quanto para finalizá-las. Nas eliminatórias para a competição, o jogador foi o mais bem avaliado da equipe, segundo o sofascore, com uma nota de 8.03 de média, em 6 jogos.
O jogador foi campeão da FA Cup na temporada 2023/24, pelo Manchester United [Reprodução/Twitter: @dbulandshold]
Rasmus Højlund
Atacante de 21 anos e companheiro de equipe de Eriksen, o jogador é o presente e futuro da seleção. Com sete gols em oito jogos, sendo apenas seis como titular, Højlund foi o artilheiro da Dinamarca nas eliminatórias para a competição. O jovem atacante foi contratado pelo Manchester United na última temporada por aproximadamente 73 milhões de Euros, vindo da Atalanta.
Højlund foi o artilheiro do clube inglês na temporada, com 16 gols em 43 jogos [Reprodução/Twitter: @dbulandshold]
Como a Dinamarca joga
Ao contrário de muitas seleções, o técnico Hjulmand varia o esquema tático da equipe de acordo com cada jogo e os jogadores que estão à disposição. Quando Kjaer – um dos líderes da seleção e capitão quando está dentro das quatro linhas – tem condições de jogo, a equipe normalmente joga em um 5-2-3: três zagueiros com boa saída de jogo e dois alas que avançam e, muitas vezes, juntam-se à linha do meio-campo, cortando para dentro. No meio, dois jogadores – um responsável pela contenção e ligação entre a defesa e o ataque (Hojbjerg), e o outro pela criação de jogadas (Eriksen). Já na linha da frente, a equipe conta com dois pontas, que tendem a cortar para dentro, abrindo espaço para o avanço dos alas, e uma referência no centro, responsável pela maior parte da finalização das jogadas.
Esquema tático quando a formação com cinco defensores é utilizada [Arte: Breno Marino]
Quando o técnico opta por uma formação com quatro defensores, ele utiliza o esquema 4-3-3. A característica dos defensores, atacantes e laterais se mantém em relação à outra formação. O que muda é o meio-campo: com um jogador a mais no setor, um dos atletas fica responsável pela contenção, outro pela criação de jogadas e o último varia entre os espaços e funções, o famoso “box-to-box” (geralmente Hojbjerg assume esse posto).
Esse esquema é utilizado quando Kjaer não está à disposição. Por problemas físicos e idade avançada, o atleta não desempenha muito bem nessa formação. [Arte: Breno Marino]
*Foto de capa: [Reprodução/Twitter: @dbulandshold]