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Grupo Wagner e Vladimir Putin: um novo capítulo na Guerra da Ucrânia

O grupo paramilitar Wagner, anteriormente aliado do Kremlin no conflito ucraniano, convocou uma revolta armada para depor o ministro da Defesa da Rússia

Uma nova crise na Rússia estourou no sábado (23), quando o grupo paramilitar Wagner se colocou em oposição ao presidente Vladimir Putin e seu governo. O grupo, que até então, apoiou a Rússia durante o conflito na Ucrânia, foi um importante aliado na linha de frente, principalmente nas conquistas de territórios do país invadido, como na batalha de Bakhmut, cidade do leste ucraniano.

A ligação entre o governo russo e o chefe da organização, Yevgeny Prigozhin, se desestabilizou após um suposto ataque da Rússia contra acampamentos do grupo, que teria matado diversos integrantes da milícia armada. O Kremlin Afirmou que vai investigar o líder do grupo por suspeita de organizar uma rebelião armada. Prigozhin está isolado na Bielorrússia.

‘’O grupo não queria a derrubada do Putin, mas uma queda do Serguei Shoigu, que é o ministro da Defesa russo’’, explica Pedro Costa Júnior, doutorando em Ciência Política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e professor de Relações Internacionais. 

O professor defendeu que a crise prejudicou o governo russo, uma vez que o Grupo Wagner vinha fazendo o combate mais duro nas trincheiras do conflito na Ucrânia. ‘’Ao mesmo tempo, a Rússia precisou intensificar os ataques aéreos para compensar esses contratempos’’, detalha o pesquisador. 

O que é o Grupo Wagner?

  A milícia, que surgiu por volta de 2014, na Rússia, conta com pouco mais de 25 mil homens. Comandado pelas oligarca russo, Prigozhin, o grupo é uma força paramilitar bem diversa, recrutando prisioneiros e civis, assim como estrangeiros. Sua primeira missão de destaque ocorreu na península ucraniana da Crimeia e, desde então, mantiveram suas atividades. Na época, os mercenários forneceram apoio às forças separatistas, que contavam com o respaldo da Rússia. 

Após o início da Guerra da Ucrânia, o governo russo empregou o grupo  para fortalecer as tropas, principalmente na linha de frente, o que destaca a relação próxima que Prigozhin possui com o presidente russo. 

 Elena Vassina, professora da FFLCH e cidadã russa, conta que Prigozhin foi fornecedor de alimentos de Putin, que o ajudou a fazer sua fortuna. “Era a empresa de Prigozhin que abastecia [de comida] as escolas públicas da Rússia e, também, o exército”.

Consequências do levante

O grupo é formado por ex-militares experientes que são contratados para participarem de guerras. 

Para  Costa Júnior, o levante do grupo poderia gerar um redirecionamento no conflito. No entanto, isso não aconteceu, pois Prigozhin foi para a Bielorrússia com mediação do presidente do país, Aleksandr Lukashenko

“O grupo provocou alguns contratempos no campo de batalha para as posições russas, e os russos estão tentando compensar com artilharia mais pesada’’, explica. Segundo o professor, a Rússia saiu mais forte, pela agilidade da atuação do governo. “O  grupo sublevou em um dia e no outro já estava dominado. Já tinha um acordo com 24 horas desde o início do levante. Isso é positivo para o Kremlin’’.

Já Elena acredita que a relação entre Putin e o exército oficial russo foi estremecida, uma vez que muitos dos soldados russos se solidarizaram com as críticas feitas por Prigozhin.“Acredito que foi um enfraquecimento ainda maior do exército oficial da Rússia, porque vários soldados ficaram solidários com as críticas que Prigozhin fez sobre o exército, e a corrupção”, explica. 

Se o levante não tivesse recuado, seu resultado poderia abrir um novo capítulo na Guerra da Ucrânia. De acordo com Vassina, quanto mais brigas internas acontecem dentro do território russo, pior é para Putin e melhor é para o futuro democrático da Rússia. “A única coisa que poderia afetar a Guerra da Ucrânia seria o enfraquecimento de Putin. Se ele terminar a guerra agora, meio derrotado, isso significará a perda de seu poder”, afirma.

A Guerra da Ucrânia

Em fevereiro de 2022, Putin lançou o que ele descreveu como “operação militar especial”. Milhares de soldados russos, entre eles homens do Grupo Wagner,  invadiram o território da Ucrânia, o que deu início ao que já é o maior conflito bélico do século XXI e não tem previsão para acabar.

O conflito se iniciou em 2014, ano em que a Rússia anexou a Crimeia e a Ucrânia se aproximou da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). No final de 2021, Putin apresentou à OTAN um documento formalizando uma lista de exigências militares, que  incluíam a proibição do avanço da instituição em direção à Europa Oriental e a exclusão da Ucrânia do tratado. Não houve progresso nas discussões, o que gerou uma atmosfera de apreensão ao longo das fronteiras entre os Estados, com uma presença militar ativa.

O conflito armado se iniciou nas províncias separatistas ucranianas de Donetsk e Luhansk, a leste do país.  Putin reconheceu sua independência e ordenou o deslocamento das tropas russas para invadir a região. As manobras militares de ambos os lados resultaram em uma rápida escalada de violência entre os países, culminando no início da guerra.

“Durante muitos anos, a Rússia era um grande império. A Ucrânia fazia parte desse império e também foi incorporada durante a existência da União Soviética. Russos e ucranianos são povos irmãos, têm a mesma origem [eslava], explica Elena. “Somos povos muito próximos, do mesmo grupo como os povos de origem latina. Por isso essa questão [Guerra da Ucrânia] é tão difícil, é quase como uma guerra civil, me dói muito”.

O futuro do grupo Wagner

Apesar do motim, o grupo continua recrutando novos membros e  sua atividade prossegue. Com contratos de seis meses, o salário de um mercenário do grupo paramilitar chega a 240 mil rublos (cerca de R$13 mil) por mês e não possui vínculo com o Ministério da Defesa do país. 

A exigência de um contrato com o Ministério e um prazo para dissolução do grupo também foram motivos para o desentendimento. Uma lei assinada no dia estabeleceu que apenas o Ministério da Defesa estava permitido de recrutar em prisões russas, o que diminuiu uma das principais fontes de membros para o grupo. 

Os recrutamentos continuam a ocorrer em clubes de luta, escolas de artes marciais e clubes de boxe. Ainda que Putin tenha dito, depois do início das tensões, que sustentava completamente o grupo, essa informação não foi confirmada. Enquanto isso, do recrutamento ao treinamento para ingressar ao Wagner, o processo pode levar apenas 1 dia.

Depois do conflito ser mediado por Lukashenko, o mesmo afirmou que o grupo era bem-vindo no país. Apesar de alegar que não financiará o grupo construindo acampamentos, cedeu bases militares antigas, justificando a ação com o aprendizado que o exército bielorrusso terá com os mercenários.

Também não há confirmação, até o momento, de que o grupo esteja mudando para o país vizinho. 

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