por Beatriz Quesada
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O título aparentemente simples do longa “Homens, Mulheres & Filhos”, traduzido do original “Men, Women & Children”, pode dar a ideia de que se trata de mais uma trama superficial sobre relacionamentos familiares e superação de conflitos entre pais e filhos, o que definitivamente não é o caso.
O filme narra a história de cinco adolescentes e de seus pais, abordando a relação entre as personagens na vida real e na virtual, dando destaque aos conflitos de cada um. As diferentes tramas são relacionadas através do colégio onde todas as crianças estudam juntas, o que permite que suas narrativas pessoais se entrelacem umas nas outra e não fiquem perdidas como quando se tenta abordar vários temas sem um fio condutor.
Um dos diferenciais da obra é a sua contemporaneidade, expressa pelo uso da internet na mediação dessas relações. Todos os personagens buscam as redes para resolver problemas, procurar conselhos, escapar da realidade, reproduzindo uma situação muito característica dos tempos atuais.
Além de aparecer no conteúdo, essa interatividade da vida online aparece também na produção do filme: telas de celular e páginas de computador aparecem ao lado dos personagens durante as cenas, expondo o que estão conversando através de mensagens ou o que estão buscando na web, o que torna a obra dinâmica e se encaixa com a proposta de atualidade.
A direção é de Jason Reitman, conhecido por trabalhos como Obrigado Por Fumar (Thank You For Smoking, 2005) e Juno (Juno, 2007), que lhe renderam sucesso comercial e de crítica.
No elenco estão atores famosos como Adam Sandler e Jennifer Garner, conhecidos por filmes típicos de sessão da tarde, como “Click” (2005) e “De repente 30” (2004). Porém, suas atuações são bastantes distintas no longa apresentado por Reitman: estão mais profundas e dramáticas, fugindo do estereótipo de comédia romântica relacionado a esses artistas.
O longa é baseado no livro homônimo de Chad Kultgen, polêmico autor estadunidense conhecido por ter como tema favorito a sexualidade do americano, temática que aparece também nessa obra sob temas como pornografia, infidelidade, pressões e distúrbios sexuais. Como essa não é a linha principal do filme, a diversidade de temas ligados ao sexo não é abusiva. Além da base para o roteiro, existe uma aproximação do livro com o filme devido à utilização de um narrador no longa, uma voz que introduz os personagens e seu cotidiano.
Essa narração tem início no longa como uma ponte entre “Homens, mulheres & filhos” e “Pálido ponto azul”, reflexão do cientista Carl Sagan transformada em vídeo. Pale Blue Dot, do original é inglês, é uma famosa fotografia da Terra feita pela sonda Voyager 1, sobre a qual Sagan faz uma comparação da pequenez da vida humana frente à todo o universo. A oportuna inserção de cenas relativas ao vídeo e a narração fazem com que esse pensamento se estenda para as relações abordadas no filme.
Embora os conflitos se resolvam de uma forma um pouco rápida ou deixem expectativas em aberto no fim da obra, “Homens, Mulheres & Filhos” vale o ingresso pela ótima abordagem e pela reflexão sobre os relacionamentos, com o diferencial do destaque para a mistura entre a vida real e a virtual na construção dessas relações no mundo contemporâneo.