por Bianca Kirklewski
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Belas e Perseguidas (Hot Pursuit, 2015) é como aquela balinha dura que você pega no balcão do caixa daquela loja de roupas em promoção: dá para chupar, mas não tem um sabor muito definido, e o único momento que você pensa nela é para se perguntar se não está vencida há muito tempo. Fazendo uso do ultrapassado humor clichê presente em todos os filmes comerciais preguiçosos, o longa conta a história de Cooper (vivida por Reese Whiterspoon), uma policial rígida e certinha que recebe a chance de voltar às ruas após anos trabalhando na área administrativa da polícia devido a um incidente envolvendo armas de choque, álcool e o filho do presidente dos Estados Unidos. Sua missão é proteger Daniella (Sofía Vergara), única testemunha viva capaz de incriminar um chefe do tráfico. As duas são perseguidas por policiais corruptos e pistoleiros assassinos, que desejam matá-las para que não ajam acusações contra o líder do tráfico. Este, ao ser capturado sem provas concretas, demanda que seja solto no dia da quinceañera, como é conhecida a festa de debutante em comunidades latino-americanas, de sua filha. Daniella é um poço de clichês: colombiana, esposa de traficante, utilizadora da língua espanhola para fazer comentários desrespeitosos, objetificada, amante de salto alto e roupas decotadas, celular guardado entre os seios, sempre contando história de algo que aconteceu com alguma prima colombiana para exemplificar situações. Chega a ser triste ver a acomodação de Sofía Vergara em papéis constantemente iguais. Aparentemente os roteiristas não estavam muito inspirados na hora da criação das personagens, e resolveram reaproveitar figuras conhecidas no meio televisivo. As semelhanças entre Cooper e Leslie Knope, vivida por Amy Poehler na série Parks and Recreation, são perturbadoras. Ambas respiram o mesmo ar de otimismo, dedicação e vício ao trabalho, até o modo de andar é parecido. Aos amantes da série, está aí uma razão para gastar seu dinheiro com o ingresso do cinema: matar as saudades do sitcom que acabou esse ano. É só deixar a visão meio desfocada que dá para fingir que estamos assistindo Poehler, já que suas aparências físicas se aproximam com as de Whiterspoon. O machismo também dá as caras no filme. Daniella implica com a aparência de Cooper o tempo todo: seja por seus sapatos masculinos, por seu lingerie pouco delicado, por seu bigode. A policial só apresenta real confiança quando finalmente decide arrumar o cabelo e colocar um salto. O longa-metragem conta ainda com erros de continuidade perceptíveis até mesmo aos espectadores menos atentos: o cabelo de Whiterspoon fica oscilando entre o arrumado e o bagunçado numa mesma cena várias vezes. Belas e Perseguidas até tem alguns momentos engraçados e eletrizantes de perseguição, mas nada marcante. É como uma balinha dura: você engole sem se dar conta, e o gosto que estava na boca logo some. Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=QCkQ6GYqUtU