Por Aline Fiori (alinefiori05@usp.br)
O mais novo longa de terror religioso, Imaculada (Immaculate, 2024), ganhou destaque pela participação de Sydney Sweeney. Conhecida pela série Euphoria (2019) e o filme Todos Menos Você (Anyone But You, 2024), a atriz que está sob os holofotes hollywoodianos, trouxe curiosidade para o público com um papel de freira, que sai do usual que vemos em seus outros papéis.
O filme também chama atenção pela crescente onda do subgênero de terror religioso, e mais especificamente, sobre freiras, conhecido como nunsploitation. A temática já teve grandes destaques no cinema como A Freira (The Nun, 2018) e A Maldição da Freira (The Devil’s Doorway, 2018). Dirigido por Michael Mohan —diretor de The Voyeurs (2021) , também protagonizado por Sydney — e roteirizado por Andrew Lobel.
A trama se baseia na história da Irmã Cecília (Sydney Sweeney), que é chamada para cumprir seus votos em um mosteiro no interior da Itália. A devota conta que sua vocação surgiu por conta de um acidente de infância na qual afirma que Deus teria a salvado por um motivo desconhecido, que iria descobrir naquele ambiente religioso.
Apesar da recepção empolgante para a protagonista e ambientes calorosos com uma arquitetura clássica italiana, esses elementos servem para desviar a atenção de Cecília e dos segredos e maldades escondidos por entre as sombras do convento. Os sorrisos e ensinamentos de suas irmãs anciãs, logo se transformam em um ambiente desconfortável com olhares agressivos junto a uma gravidez inesperada diante do voto de castidade e virgindade da irmã.
Mesmo que, a primeira vista, Imaculada possa cair no clichê de Hollywood sobre narrativas de filmes de terror envolvendo freiras e catolicismo, que sempre estão em evidência devido a facilidade de alicerçar o terror à construção, a narrativa do filme vai além dos fatídicos terrores religiosos que geralmente são ancorados ao sobrenatural, que não é o caso dessa vez, já que o filme não possui fantasmas ou demônios e se sustenta no terror psicológico.
A direção de arte, som e fotografia fazem o filme se destacar para além do enredo e roteiro. Além das paisagens italianas, os ambientes vão ficando frios no desenvolver da trama. Cada vez as velas ganham mais destaque com suas luzes pontuais durante a mudança da atmosfera no decorrer do filme. Ao irem de encontro com a baixa claridade, filtros frios e recorte trazido pela câmera — ora muito próxima dos rostos e ora em movimentação — trazem curiosidade e ansiedade para quem assiste.
Esses aspectos ficam ainda mais incorporados junto à musicalidade e efeitos sonoros de que acompanham a história, retratam o sentimento da protagonista e intensificam o que é mostrado na tela. A atmosfera criada nessa produção não deixa os jumpscares de lado, que são utilizados até demais no primeiro ato do filme e alguns podem ser premeditados quando estão próximos.
A construção simbólica do longa é utilizada para colocar aquela pulguinha atrás da orelha do espectador que não vai sair do filme com uma resposta, mas sim com vários questionamentos e opiniões. O diretor aproveita os artefatos católicos para a construção de uma simbologia de medo e repressão que são apropriados para reflexões, entre elas sobre o patriarcado católico e dogmas religiosos. Em uma cena, Cecília é submetida a uma situação desconfortável por parte do Cardeal Franco Merola (Giorgio Colangeli) e do Padre Sal Tedeschi (Álvaro Morte). Certos elementos, por outro lado, não têm seus ciclos trabalhados ou fechados na narrativa de fato, como alguns vultos e personagens coadjuvantes.
Se essa não é a vontade de Deus, porque ele não nos detém?
Cardeal Franco Merola
O filme consegue transitar bem entre o terror e adrenalina com momentos cômicos, os quais, na grande maioria são protagonizados pela Irmã Gwen (Benedetta Porcaroli) — que é amiga da Irmã Cecília no convento. Porém, no momento em que a narrativa começa a adentrar para seu panorama final, as revelações chocam o público junto com seu desenvolvimento agonizante que começa a ser intensificado com cenas cruas de violência que não chegam a ser medíocres, mas com bons efeitos e maquiagens. Tudo isso orquestra para que quem estiver envolvido na narrativa sue na cadeira.
A proposta da participação de Sydney pode ser inesperada diante do contexto da personagem, em contraste com seus outros papéis. Porém ela mostrou com o desenvolvimento da personagem que se entregou totalmente para a narrativa da personagem que sai da inocência e se articula até o brutalismo com excelência. A cada minuto mais perto do encerramento, percebe-se que Sydney encarna Cecília em uma expressividade hipnotizante que afirma como a atriz atua em qualquer gênero do cinema. Álvaro Morte também impressiona em seu papel no qual acrescenta detalhes, como nos olhares durante o ápice da história, e profundidade ao personagem, sem perder sua marca.
A grande mesclagem de todos esses aspectos como a criação de um ambiente sombrio e curioso que se encaixa com os efeitos sonoros, a fim de incorporar mais densidade a história, junto a todos os elementos simbólicos e principalmente a atuação — com muita expressividade — é o que dá destaque para Imaculada, que angustia e reflete seu espectador para fora da normatividade dos filmes de terror religiosos.
O filme está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Diamond Films