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Maquiagem artística: das telas às curtidas

Ao longo da história, a maquiagem foi utilizada com inúmeros propósitos diferentes. No Egito Antigo, a maquiagem com base de chumbo era utilizada ao redor dos olhos para evitar infecções comuns da época, enquanto no século 18 a maquiagem foi utilizada como sinônimo de status, distinguindo as classes mais ricas das classes médias. Atualmente, a …

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Ao longo da história, a maquiagem foi utilizada com inúmeros propósitos diferentes. No Egito Antigo, a maquiagem com base de chumbo era utilizada ao redor dos olhos para evitar infecções comuns da época, enquanto no século 18 a maquiagem foi utilizada como sinônimo de status, distinguindo as classes mais ricas das classes médias.

Atualmente, a maquiagem assume um papel de autoexpressão que ultrapassa a barreira do gênero; o rosto é uma tela em branco e conceitos da arte se juntam à técnica. É nesse contexto que a maquiagem artística ganha espaço nas redes sociais e mídias tradicionais, e conquista o público com sua variedade de abordagens. 

A série Euphoria e os reality shows de competição RuPaul’s Drag Race e Glow Up, cada um de sua maneira, exerceram um papel importante na difusão desse tipo de arte.

 

Das telas para o dia a dia

A série americana Euphoria (2019-atualmente) acompanha a adolescente de 17 anos Rue em sua volta à escola após receber alta de uma clínica de reabilitação, mas a trama da narrativa não é o ponto que chama mais atenção na série. Os visuais idealizados pela maquiadora Doniella Davy, que também participou da equipe de maquiagem do filme Moonlight, são os verdadeiros responsáveis pela popularização de Euphoria

As maquiagens de Davy complementam o enredo e a concepção de cada personagem, de forma que a caracterização se torna uma ferramenta para a construção da história. Os visuais mudam e evoluem conforme o decorrer da narrativa.

Cada personagem possui uma estética própria que foi considerada na criação dos visuais. Um dos objetivos da maquiagem era comunicar as emoções internas do personagem para o público.

 

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A maquiadora foi incentivada pelo criador da série, Sam Levinson, a apostar em estéticas que não são comuns em programas de TV. Davy buscou inspiração na “geração Z” (pessoas nascidas entre 1995 e 2010) e na estética glam rock dos anos 1960 e 1970, que tem como principal representante o cantor David Bowie. “Eu acredito que o estilo de maquiagem Euphoria já existia. Foi apenas uma questão de juntar tudo e, como artista, colocar um toque da minha estética”, declarou Davy ao site americano Entertainment Weekly.

Capa do álbum Aladdin Sane, do cantor David Bowie. [Imagem: Reprodução/RCA Records]
Capa do álbum Aladdin Sane, do cantor David Bowie. [Imagem: Reprodução/RCA Records]
Doniella foi tão bem sucedida em suas criações que venceu a categoria Melhor Maquiagem Contemporânea na premiação Emmy 2020, influenciou as tendências de maquiagem dos tapetes vermelhos e semanas de moda de 2019 e popularizou essa vertente da maquiagem artística na internet.

Após a estreia, as redes sociais foram tomadas por reproduções e tutoriais das maquiagens apresentadas na série, que exploram o uso de glíter, sombras de cores fortes, novos formatos de delineado e aplicações de brilho. A hashtag #EuphoriaMakeup no Instagram já conta com mais de 200 mil publicações.  

A narrativa aproximou esse estilo de maquiagem, que costumava ser restrito ao mundo da moda, ao dia a dia do público. “É diferente ver esse tipo de maquiagem divertida em modelos, andando em uma passarela. Não é tão acessível. Então, o que eu realmente queria fazer, e o que eu acho que Sam [criador da série] realmente queria fazer, também, é diminuir a lacuna entre a fantasia da maquiagem como auto-expressão e a maquiagem do cotidiano”, declarou a maquiadora para o site de entretenimento americano Deadline.

A série celebra o uso de cores, texturas e formatos que fogem do convencional, e incentivou a nova geração a experimentar novos estilos de maquiagem e a enxergá-la como uma forma de autoexpressão. “Faz parte do ciclo da moda ter momentos diferentes, e agora voltou o colorido. Eu acho bem divertido porque o colorido já tinha voltado para o universo da moda, mas acho que, de fato, a série ajudou a trazer para a vida real, acelerou o processo”, declara a maquiadora profissional Kaká Oliveira. 

 

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“Todos nós nascemos nus. O resto é drag.”

A frase de RuPaul Charles, a drag mais influente da TV, é repetida como um mantra em seu reality de competição, RuPaul’s Drag Race. O fenômeno televisivo já conta com 19 Emmys em 11 anos de história e com a responsabilidade de ser uma das principais causas da popularização da arte drag no mundo. 

Entretanto, apesar da recente difusão desse tipo de arte, sua origem data de 500 a.C. com o teatro grego, uma vez que a mulher era proibida de participar das encenações, o que resultava em personagens femininas vividas por homens. 

Essa proibição foi sustentada por anos e adotada pelo teatro topeng, da Indonésia, uma dança-drama de máscaras que surgiu no século 13, e pelas peças de Shakespeare na Inglaterra do século 16, em que os papéis femininos eram interpretados por adolescentes.

Atualmente, o movimento drag ultrapassou a barreira do gênero e conquistou a posição de arte, transformação e autoexpressão, além da visibilidade proporcionada pelas redes sociais e as referências em programas de TV. 

Drag queen não é uma identidade de gênero, e sim uma manifestação artística, de forma que todas as pessoas interessadas, independente da orientação sexual e gênero, podem participar do movimento.

A maquiagem drag utiliza diversas técnicas para modificar os traços do rosto, o que resulta em uma figura caricata. A estética mais lembrada conta com sobrancelhas marcadas, foco nos olhos, cílios grandes e volumosos e alterações no formato da boca. 

A sobrancelha é apagada através do uso de cola em bastão, pó e base, para que um novo formato possa ser criado, e o contorno do rosto é modificado com corretivo e pó, de forma que a face se torna uma tela em branco a ser manipulada pelo artista.

Existem inúmeras vertentes da arte drag, cada uma possui uma estética e utiliza a maquiagem de uma forma diferente.

Além de arte, o movimento drag é sinônimo de resistência. A ocupação das mídias tradicionais e digitais é um importante passo para essa expressão artística que foi por muito tempo marginalizada e alvo de violências.

 Com seu reality, RuPaul ocasionou a popularização da maquiagem drag, de modo que essa forma de expressão tomou conta das redes sociais e se profissionalizou.

 

Glow up

O reality de competição de maquiagem da Netflix Glow up reúne oito maquiadores por temporada em busca de novos talentos. O programa apresenta desafios com as maiores tendências de maquiagem artística das redes sociais e os competidores são julgados por dois grandes nomes do mundo da maquiagem: Val Garland e Dominic Skinner.

O programa surfa na recente popularização da maquiagem artística e apresenta diferentes habilidades, como por exemplo a técnica de contorno e iluminação para criar ilusões de ótica. 

Além disso, o reality desafia os participantes a elaborarem maquiagens artísticas conceituais. A ideia do rosto como uma tela é levada ao extremo e os maquiadores produzem verdadeiras obras de arte nos modelos. Essa dimensão da maquiagem explora a criatividade dos artistas.

Em outra vertente da maquiagem artística, também abordada no programa, o lúdico é explorado através da criação de personagens fantásticos com a utilização de próteses de silicone. As próteses permitem que os maquiadores adicionem estruturas não humanas em suas criações, como chifres ou um terceiro olho. É possível encontrar esse tipo de maquiagem no cinema, utilizada para criar efeitos especiais. 

 

 

Redes sociais

As mídias tradicionais tiveram um papel importante na recente popularização das diversas vertentes da maquiagem artística, uma vez que proporcionaram importantes referências e inspirações ao público. Entretanto, é impossível ignorar a responsabilidade da internet nessa tendência.

  “Hoje eu dedico mais tempo ao meu trabalho na rede social do que fora, e eu aprendo muito na internet, aprendo muito com as outras pessoas e aprendo muito fazendo a maquiagem em mim. As duas vertentes do meu trabalho, fora da internet e na internet, se complementam”, afirma Kaká Oliveira.  

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram uma plataforma essencial para a divulgação do trabalho dos maquiadores. “É o tipo de divulgação perfeito, sem custo e instantâneo. Você consegue se comunicar com pessoas de outros estados, cidades e países sem sair do sofá de casa. É a maneira perfeita de montar um portfólio que todos tenham acesso”, declara a maquiadora Angélica Silva.

Nesse cenário, com o público mais próximo dos maquiadores e das tendências, deu-se início ao fenômeno das reproduções. Pessoas que, a princípio, não possuíam experiência com maquiagem profissional começaram a expor seu trabalho on-line: “As redes sociais, de alguma forma, tiram o medo das pessoas de exposição. Mesmo a pessoa colocando uma foto ou vídeo para milhares de outras pessoas, ela não precisa encarar aquilo de forma pessoal. A rede social me possibilitou mostrar o que eu amava fazer de verdade e trouxe isso para minha vida real, por exemplo”, declara Angélica. 

Além disso, os chamados “desafios” de maquiagem, formas mais descontraídas da pessoa apresentar seu visual, se tornaram um meio de divertimento para os usuários das redes, principalmente em um contexto de pandemia.  

O “Evoluiu Challenge” conta com mais de 500 mil postagens publicadas no Instagram, em que os usuários editam vídeos de forma que as transições coincidam com o ritmo da música Evoluiu do MC Kevin O Chris. No TikTok, a hashtag #euphoriachallenge possui mais de 38 milhões de visualizações em vídeos que reproduzem o estilo de maquiagem da série.

Para Cristiani Maximilliano, especialista em Moda, Desenvolvimento, Criação e Comunicação pela Universidade do Vale do Itajaí, a popularização da maquiagem artística está ligada a um sentimento de escapismo e a uma vontade de comunicar e apresentar um novo talento: “Eu atribuo a popularização da maquiagem artística a essa tendência do escapismo, onde as pessoas buscam essa fuga da realidade, considerando que quando eu faço a maquiagem artística eu estou me transformando, estou me colocando naquela personagem”.

As redes sociais permitiram a difusão das referências apresentadas em programas de TV, assim como a reprodução dos visuais e a divulgação do trabalho dos maquiadores, e proporcionaram um local favorável para o desenvolvimento e popularização da maquiagem artística. 

Nas palavras da maquiadora Angélica Silva: “Maquiagem artística é a relação que tenho comigo mesma e com minha criatividade, na verdade, acredito que esse tipo de prática está ligada ao que sentimos e que queremos transparecer”.

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