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La La Land: sonhando em dó, ré, mi

“Eu sempre vou te amar”, diz Mia (Emma Stone), à certa altura. “Eu também”, responde Sebastian (Ryan Gosling). Abrindo num plano-sequência musical repleto de gruas (guindastes para tomadas aéreas), a câmera vai se movendo por cima dos carros, enquanto uma centena de dançarinos performam aquele que seria o primeiro número de La La Land – …

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“Eu sempre vou te amar”, diz Mia (Emma Stone), à certa altura. “Eu também”, responde Sebastian (Ryan Gosling).

Abrindo num plano-sequência musical repleto de gruas (guindastes para tomadas aéreas), a câmera vai se movendo por cima dos carros, enquanto uma centena de dançarinos performam aquele que seria o primeiro número de La La Land – Cantando Estações (La La Land, 2016). Será então em meio ao êxtase, que conheceremos Mia, Sebastian, e os desejos e angústias que darão vida ao filme. Ela, como atriz aspirante em Hollywood; ele, como pianista decidido a reviver o jazz. Motivações diferentes, mas síncronas em sua crença: “para os sonhadores que acreditam no amor. Para os apaixonados que acreditam nos sonhos”.

La La Land_1

 

Bem diferente dos cortes frenéticos que o fizeram famoso em Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash, 2014), o diretor Damien Chazelle entrega planos muito mais longos, que evidenciam as sequências musicais e de sapateado. Mesmo assim, não por isso o filme perde fôlego. Pelo contrário, inundado por cores, figurinos e luzes, La La Land é não só um dos maiores orgasmos visuais, como um dos romances mais sensíveis, dos últimos anos. Dessa forma, é lindo perceber como, por exemplo, o azul do vestido de Mia, que inicialmente reflete a solidão que ela sente, vai aos poucos se tornando justamente o motor de vida, como é possível constatar nos vários filtros da cor ao decorrer da obra.

Cor esta que, em conjunto com várias outras, como o rosa ou o verde, vai se tornando cada vez mais forte conforme o amor dos dois floresce; elas estarão, por exemplo, em momentos muito íntimos da cama, da mesa de jantar ou até mesmo da rua. Esses mesmos cenários são, em contrapartida, banhados por raios brancos e amarelos sem graça, em momentos que a relação deles vai mal – na cena do jantar ainda, Chazelle usa uma câmera na mão que, por não ter sido utilizada até então, confere um desequilíbrio ainda maior à cena. A mesma lógica é utilizada nos temas musicais de fundo, que tomam tons diferentes de acordo com o estado de espírito de suas personagens – um particularmente admirável é aquele em que City of Stars é improvisado num tom melancólico de jazz, enquanto Sebastian se encontra vulnerável; outro é quando, logo no início da projeção, Mia decide se vai ou não à festa, e refletindo sua vontade em ir, os instrumentos começam a crescer.

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Quanto à dupla, é carisma que transborda. Como de sempre, Gosling ostenta o seu sorriso arteiro, mas sensual. Sempre com o visual impecável, basta uma simples mecha de cabelo fora de lugar para sentirmos que algo está errado. Mesmo assim, será Stone quem de fato brilhará, sendo capaz de transmitir dor através de um leve balançar de (grandes) olhos. Trejeitos vitais para o funcionamento do filme, uma vez que poucas são as frases trocadas sobre o relacionamento. Chazelle, que também assina o roteiro, é inteligente em jogar toda a exposição sentimental nos momentos musicais, quebrando um vício que alguns filmes do gênero têm de repetir de forma cantada tudo que havíamos acabado de ouvir. E, sendo o próprio musical um escapismo da realidade construída, o ‘pensar alto’ (em outras palavras, exposição) não acaba soando forçado. E o mais gostoso de tudo, é que as músicas grudam na cabeça…

City of Stars, Another Day of Sun e Someone in the Crowd são apenas algumas das canções que com certeza levarão qualquer um a sair do cinema saltitando. Quase sempre repleto de figurantes, as cores das roupas se destacam mais uma vez. Bebendo também de diversas fontes, várias são as referências que podemos encontrar: a giradinha no poste logo nos rememora a Gene Kelly em Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952), os números de sapateado a Ginger Rogers e Fred Astaire e os olhares finais a Os Guarda-Chuvas do Amor (Les parapluies de Cherbourg, 1964). Homenagens, decerto, mas nunca ofuscando a essência desta obra.

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Falando inclusive sobre o desfecho, se a pulsão até aqui já era forte, a montagem final é arrebatadora. Seja amorosa ou profissionalmente, sonhar é tomar o objeto, pessoa ou realização desejada para si. Mia passou a ser o improviso do jazz; Sebastian, a explosão dos musicais. A vida pode nos levar a pontos impensáveis, mas será que os caminhos que deixamos para trás devem ser solapados? As cores e olhares finais podem oferecer uma resposta, já La La Land – Cantando Estações oferece humanidade e pureza.

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

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