Bruna Buzzo
O final de 2008 e este começo de 2009 estão sendo ótimos para quem adora filmes franceses. Ao todo, são 7 filmes em cartaz na cidade de São Paulo, 4 deles estrearam a pouco tempo e Beijo na Boca, não! deve estrear semana que vem (talvez as férias do presidente francês e sua bela esposa aqui no Brasil tenham animado as distribuidoras). Integrando a lista dos franceses “pops”, Dois em Um (La personne aux deux personnes) estréia esta semana, com o quase onipresente Daniel Auteuil (Meu Melhor Amigo, Caché, A Viúva de Saint-Pierre) no papel principal.
Temos uma tendência a ver filmes franceses ou com bons olhos, por que gostamos de filmes ditos “de arte” ou com maus olhos, por que fugimos deles. Porém, nem tudo que vem da terra de Sarkozy e Carla Bruni se encaixa nesta categoria. Se nosso cinema ficou marcado pelas favelas, os franceses carregam como estigma a beleza, melancolia e “calma” de muitos de seus filmes.
Dois em Um é uma comédia que foge a quaisquer categorias nas quais possamos desejar encaixar os filmes franceses. A história, completamente fictícia e improvável, é simples e se sustenta a medida que o espectador se comove pelo absurdo da situação em que de repente se encontram Jean-Christian Ranu (Daniel Auteuil) e Gilles Gabriel (Alain Chabat), que são subitamente fundidos um com o outro.
Não pense em fusões a la Dragon Ball, aqui, um atropelamento coloca o espírito do cantor Gilles Gabriel, que acredita estar morto, dentro do corpo de Jean-Christian, um tímido contador que terá muitos problemas em decorrência do falatório de Gilles dentro dele. A influência do cantor na vida do contador será visível e, passado algum tempo e acostumados com a situação, até positiva, ajudando-o em sua carreira e em sua relação com Muriel (Marina Foïs).
Esta é uma comédia de inverdades e impossibilidades nas quais você vai acreditando e das quais pode acabar gostando, apesar de a princípio parecer que tem mais chances de dar errado. Fugindo aos padrões, Dois em Um poderia perfeitamente ser um desses filmes norte-americanos com premissas absurdas não fosse o charme de seus personagens, que salva o filme. Daniel Auteuil, mais uma vez, salva um filme bobo e engraçadinho.