Guy Ritchie está de volta à temática que lançou sua carreira cinematográfica: o emaranhado submundo dos crimes na Inglaterra. Com um elenco de peso que inclui nomes como Matthew McConaughey, Hugh Grant e Colin Farrell, Magnatas do Crime (The Gentlemen, 2019) é um filme de ação imersivo que conta a história de Mickey (McConaughey), um americano proprietário de um império de maconha na Inglaterra, e de sua tentativa de aposentadoria.
Utilizando um recurso metalinguístico, a trama é contada como um filme dentro de um filme: o personagem Fletcher, interpretado por Hugh Grant, é uma espécie de detetive particular que conta a história, a partir das peças que juntou, para Ray (Charlie Hunnam), um dos capangas de Mickey, dizendo que ele deve imaginar tudo como se fosse um filme.
Termos como “protagonista” e “antagonista” são usados ao longo da obra na narração de Fletcher, reforçando a construção feita pelo detetive. O discurso dele, porém, é uma soma de evidências e, abusando da criatividade, o personagem usa a licença poética para apimentar os eventos.
Como a maioria dos filmes que envolvem tráfico e disputas de poder, Magnatas do Crime começa de maneira confusa. São muitos personagens e os acontecimentos são rápidos demais, deixando o espectador perdido e, até certo ponto, pouco engajado na obra.
Porém, com a progressão dos eventos, a audiência se acostuma com a atmosfera e passa a ansiar pela próxima reviravolta. Como em um romance de detetive, tudo clica nos últimos momentos — e o que foi deixado passar no início é compreendido, não prejudicando o desenrolar da trama.
Contudo, se comparado com dois clássicos do diretor, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels, 1998) e Snatch – Porcos e Diamantes (Snatch, 2000), o filme deixa a desejar. Apesar de ter os seus momentos cômicos, Magnatas do Crime falta em humor, fator marcante nos outros filmes.
Além disso, algumas coisas não são bem construídas. Por exemplo: a única personagem feminina que tem qualquer relevância no filme é Rosalind Pearson (Michelle Dockery), esposa de Mickey. Ela é decidida e não tem medo dos negócios do marido, sendo um fator importante do sucesso e equilíbrio dele. O filme chega até a sugerir que Mickey Pearson só é quem ele é, um verdadeiro magnata do crime, por causa de Rosalind, seguindo o clichê de que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher.
Tal clichê, além de ser profundamente irritante, vem do nada: como o espectador vai entender que a importância da personagem é tão grande se ela aparece tão pouco e tem poucas falas? Rosalind é uma ótima personagem que rouba a cena toda vez que aparece. Mas, venhamos e convenhamos, ela não aparece muito.
No filme, aprendemos as origens de Mickey e como ele veio a ser quem é, mas nada de Rosalind. Não sabemos de onde ela é e nem mesmo como conheceu o marido, só sabemos que ela está lá, aparentemente, sustentando o império (e o marido) nas costas. Ela tinha muito potencial a ser explorado e, ao sugerir que ela é a causa do sucesso de Mickey, o filme tenta fazer um elogio e ressaltá-la, mas, na verdade, só não é condizente com o restante da obra.
Apesar de tudo, Magnatas do Crime é um filme inteligente e recheado de ação que vai agradar os aficionados do gênero. Questões como o código de ética de um criminoso e a legalização das drogas são panos de fundo, elevando o filme para além de um entretenimento de duas horas. A película trata de personagens que vão de éticos até soberbos e traiçoeiros, em que o mundo do crime é uma verdadeira selva, onde a lei do mais forte nunca foi tão certeira.
O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros que estão abertos. Confira o trailer:
*Imagem de Capa: Divulgação/Paris Filmes